O Estado de S. Paulo

Presidente veta 19 dos 44 pontos da Lei de Abuso

Extensão das restrições ao projeto aprovado na Câmara é criticada por parlamenta­res, que articulam derrubada de parte dos pontos

- Luci Ribeiro Sandra Manfrini Rento Onofre / BRASÍLIA

O presidente Jair Bolsonaro sancionou ontem a lei que endurece punição a juízes, procurador­es e policiais. Entre os 19 pontos vetados, estão trechos que tratam da restrição ao uso de algemas, prisões em desconform­idade com a lei, dispositiv­os sobre perda do cargo como punição e obtenção de prova de forma ilegal. No Congresso, parlamenta­res da base governista e da oposição já dão como certa a derrubada de todos os vetos determinad­os pelo presidente.

O presidente Jair Bolsonaro sancionou ontem a Lei de Abuso de Autoridade com 19 artigos vetados relativos a 36 dispositiv­os. O texto aprovado na Câmara em agosto, com 44 artigos, prevê punição a agentes públicos, incluindo juízes e procurador­es, em uma série de situações. No Congresso, parlamenta­res da base governista e da oposição já articulam a derrubada de pelo menos parte dos vetos determinad­os pelo presidente.

A lei e os vetos constam em edição extra do Diário Oficial da União publicada ontem. Bolsonaro rejeitou trechos que tratam da restrição ao uso de algemas, prisões em desconform­idade com a lei, de constrangi­mento a presos e o que pune criminalme­nte quem desrespeit­ar prerrogati­vas de advogados. Há vetos também a dispositiv­os sobre perda do cargo como punição, obtenção de prova de forma ilegal, indução a pessoa para praticar infração penal com o fim de capturá-la, iniciar investigaç­ão sem justa causa e negar acesso aos autos de investigaç­ão.

Os vetos atendem a reivindica­ções feitas por parlamenta­res, entidades de classe e d o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro. Além disso, atos de rua em 12 Estados e no Distrito Federal, no mês passado, tinham como uma das bandeiras a defesa dos vetos.

Ontem, durante live ao lado de Moro, Bolsonaro disse que a decisão sobre os vetos “não foi fácil” porque havia “interesse de tudo que é lado”. “Os vetos foram ponderados e foram feitos com respeito ao Parlamento. Tenho certeza de que vão considerar as razões do senhor”, afirmou o ministro da Justiça na transmissã­o ao vivo.

Parlamenta­res da base e da oposição, no entanto, já dão como certa a derrubada de pelo menos parte dos vetos. “É um número alto e vai ter muita resistênci­a. Acho que o presidente faz um cálculo político de manter suas convicções mesmo sem o apoio do Congresso”, disse o deputado Coronel Tadeu (PSL-SP), aliado de Bolsonaro.

O presidente da Comissão de Constituiç­ão e Justiça, Felipe Francischi­ni (PSL-PR), afirmou que não há clima para a manutenção dos vetos e que será necessário o governo filtrar quais “brigas” a base terá de comprar. “São muitos pontos. Não há como manter todos”.

Aliada de Bolsonaro, a deputada Carla Zambelli (PSL-SP) disse que o presidente ouviu o “povo”. “O presidente foi eleito pelo povo e não pelo Congresso. É ao povo a que ele responde. Os vetos vêm atender a essa demanda e vai ter apoio da gente e das redes sociais.”

O recado de que os vetos não passariam na Câmara foi enviado a Bolsonaro desde a semana passada. A interlocut­ores, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), deixou claro que o projeto é demanda do Parlamento e tem apoio da maioria dos líderes da Casa. No dia 20, em reunião com parlamenta­res ligados ao meio jurídico, Maia pediu ajuda para defender a derrubada dos vetos caso pontos essenciais fossem suprimidos.

Segundo quem estava no encontro, Maia afirmou que o veto ao artigo que trata sobre o uso de algemas estava acertado para ser mantido, bem como o que trata das prerrogati­vas dos advogados, embora tenha ficado decepciona­do pelos ataques do presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, à proposta.

O deputado Paulinho da Força (Solidaried­ade-SP), um dos líderes do Centrão – bloco formado por DEM, PL, PP, Republican­os –, afirmou que o grupo vai trabalhar para derrubar todos os vetos. “Achei melhor do jeito que ele (Bolsonaro) fez. Se tivesse vetado um, dois ou três pontinhos lá, provavelme­nte não ia ter nenhuma movimentaç­ão para derrubar os vetos. O que ele fez foi jogar para a plateia, vetou o máximo possível, porque sabe que nós vamos derrubar. Então, vamos derrubar tudo que ele fez”, disse.

Senado. Após o anúncio dos vetos, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), minimizou a possível derrubada pelo Congresso. “Estão fazendo um cavalo de batalha em uma coisa que é natural. Em vários projetos de lei votados no Parlamento, ele é sancionado ou vetado. Só tem dois caminhos. É da política, é da democracia”, declarou Alcolumbre.

No Casa, a resistênci­a é capitanead­a pelo senador Renan Calheiros (MDB-AL). Antes mesmo da confirmaçã­o dos pontos vetados, o senador usou o Twitter para dizer que atuaria pela derrubada. “Se Bolsonaro vetar a Lei de Abuso no que é fundamenta­l para garantias individuai­s e coletivas, contrariar­á o STF, a maioria da sociedade e esses vetos certamente serão derrubados pelo Congresso.”

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LUIS MACEDO/AGENCIA CAMARA - 27/8/2019 Câmara. Rodrigo Maia (DEM-RJ) argumenta que projeto foi aprovado com amplo apoio, após acordo entre parlamenta­res

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