O Estado de S. Paulo

‘NOSSA VIDA CONTINUA A MESMA’

Um ano depois, médico que operou Bolsonaro ainda tem de responder às ‘teorias conspirató­rias’

- Matheus Andrade ESPECIAL PARA O ESTADO JUIZ DE FORA (MG)

Enquanto boa parte do Brasil se preparava para o feriado de 7 de setembro de 2018, um trauma no abdômen na região central de Juiz de Fora mudaria a vida de muitos. No caso de Luiz Henrique Borsato, cirurgião da Santa Casa de Misericórd­ia de plantão naquela tarde, seria travada uma corrida contra o tempo.

Reconhecid­o como o “médico que salvou Jair Bolsonaro” da facada desferida por Adélio Bispo – que está preso desde então –, Borsato destaca que a rapidez e a eficiência no atendiment­o beneficiar­am o então candidato. “A primeira hora após o acidente é muito importante. A medida em que o tempo vai passando, o paciente vai se tornando cada vez mais grave”, disse ao Estado. O atentado a Bolsonaro completa um ano hoje.

O trajeto entre a Rua Halfeld, local do atentado, e a Santa Casa foi percorrido em cerca de dez minutos. Bolsonaro já recebia os primeiros procedimen­tos que lhe salvaram a vida. “Estávamos no centro cirúrgico na hora, e já havíamos realizados outras cirurgias no dia. Ele foi levado para a equipe de médicos emergencis­tas, que realizaram o primeiro socorro rápido, e fizeram a tomografia”, diz o cirurgião, que faz questão de ressaltar o trabalho de todos os envolvidos.

A hemorragia era um risco real para Bolsonaro, que perdeu quase um terço do volume comum de sangue, necessitan­do de quatro bolsas de reposição. “Ele perdeu entre 1,5L e 2L de sangue, isso porque conseguimo­s intervir e parar o sangrament­o”.

No primeiro contato com o paciente, Borsato descreve que “ele estava confuso e se queixava de dor, não falou mais nada”. No dia seguinte, antes de ser transferid­o para o hospital Albert Einstein, em São Paulo, Bolsonaro agradeceu ao cirurgião por tudo o que havia sido feito.

Questionam­ento comum é o fato de não ter havido sangue aparente após a facada. O cirurgião disse estar acostumado a responder sobre o tema, e não se incomoda com as teorias conspirató­rias que envolvem seu trabalho. “Se não fosse uma figura pública, ninguém falaria isso.”

Separando o que considera “ato político” do “lado médico”, Borsato não acredita que as desinforma­ções tenham efeitos negativos, e destaca que “nossa vida cotidiana, no último ano, continua a mesma”. Para ele, tudo faz parte do campo político, não sobre sua atuação técnica. “As pessoas são livres para terem suas opiniões”.

No caso da cirurgia de hérnia, que será realizada domingo, a quarta no abdômen de Bolsonaro, Borsato afirma que, em algum momento, a mesma intervençã­o provavelme­nte seria realizada. “Todo paciente submetido a uma cirurgia abdominal tem o risco de desenvolve­r hérnia.”

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FERNANDO PRIAMO/ESTADÃO Médico. Luiz Borsato operou Bolsonaro após a facada

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