O Estado de S. Paulo

Vereador ofende Holiday: ‘macaco de auditório’

Líder do MBL diz que fará denúncia de racismo à Corregedor­ia da Câmara Municipal; Camilo Cristófaro nega discurso discrimina­tório

- Adriana Ferraz Bruno Ribeiro

O vereador de São Paulo Fernando Holiday (DEM), membro do Movimento Brasil Livre (MBL), foi chamado de “macaco de auditório” ontem, no plenário da Câmara Municipal. Ele disse que vai denunciar o vereador Camilo Cristófaro (PSB), por racismo, à Corregedor­ia do Legislativ­o e ao Ministério Público Estadual (MPE).

Holiday afirmou que se sentiu “revoltado” ao ouvir as falas. “Mas, na hora, consegui conter a raiva”, relatou ao Estado. “Os demais vereadores disseram que eu estava sendo dramático. Nunca havia sofrido um ataque dessa maneira, ao menos não na sessão plenária.”

O ataque tem como pano de fundo um clima de hostilidad­es entre Holiday e outros vereadores, desde que ele deu entrevista ao apresentad­or Danilo Gentili, do SBT, na sexta-feira. Holiday disse que os vereadores de São Paulo “não trabalham”, causando revolta entre os colegas. Anteontem, também no plenário, ele reafirmou as declaraçõe­s, provocando embates durante a sessão plenária. “É uma triste realidade, mas a maioria dos vereadores não trabalha.”

Ataque. Ontem, Cristófaro, primeiro vereador inscrito nos

discursos do dia, usou seu tempo de fala na sessão para atacar Holiday. “Lamentavel­mente, o senhor Holiday usa as redes sociais, ele é o grande macaco de auditório das redes sociais, dando risada dessa Casa, explodindo as redes sociais, porque a população adora ver sangue, maldade e mentira”, disse o vereador do PSB. Cristófaro completou dizendo que o que Holiday fez foi xingar os colegas de “vagabundos” e o chamou de “moleque” repedidas vezes.

Cristófaro negou ter feito um comentário racista. “Não tem nada de racismo. Macaco de auditório é uma expressão popular. Trabalho 12 horas por dia. Poderia vender todos os meus bens e dar uma banana para o Brasil”, disse o pessebista.

Ao ver o Estado conversand­o com Holiday no plenário da Câmara Municipal, o vereador Paulo Reis (PT), que também é negro, quis comentar o tema. “Os vereadores trabalham muito e ficaram muito revoltados com as declaraçõe­s do Holiday. Eu já encaminhei à Prefeitura sete mil demandas. O trabalho do vereador é feito na base. A hora que ele fala uma coisa dessas para fora da Câmara, nos ataca”, disse o petista. Já sobre a expressão “macaco de auditório”, Reis afirmou que “cada um é que se sente vítima de racismo ou não. Se sentiu, deve tomar as providênci­as”.

O presidente da Câmara, Eduardo Tuma (PSDB), evitou o tema do racismo e preferiu engrossar o coro contra o parlamenta­r do MBL por sua declaração. “Inadmissív­el. Atesto que os vereadores trabalham dia e noite, de segunda a segunda, tanto nas atividades parlamenta­res quanto naquelas políticas, em visitas externas à Câmara Municipal. Refuto fortemente a afirmação do colega em contrário”, argumentou Tuma, por meio de nota.

A fala de Holiday havia gerado reações críticas em diversas bancadas e até do vereador Milton Leite (DEM), ex-presidente da Câmara, que nos dois primeiros anos desta legislatur­a era tido como “tutor” de Holiday. Ontem ele discursou contra a posição do correligio­nário.

Reincidênc­ia. Em 2017, Cristófaro foi acusado de agressão, por chamar a vereadora Isa Penna (PSOL) de “vagabunda”. A parlamenta­r represento­u contra Cristófaro na Corregedor­ia da Câmara, mas o caso foi arquivado. O pessebista se mantém no cargo por uma liminar da presidênci­a do Tribunal Regional Eleitoral (TRE). Ele foi cassado por ter na prestação de contas de campanha a doação de uma mulher inscrita em programas de assistênci­a social.

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WERTHER SANTANA/ESTADÃO–13/12/2018 Plenário. Vereador Fernando Holiday, do DEM, diz nunca ter sofrido esse tipo de ataque

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