Vereador ofende Holiday: ‘macaco de auditório’
Líder do MBL diz que fará denúncia de racismo à Corregedoria da Câmara Municipal; Camilo Cristófaro nega discurso discriminatório
O vereador de São Paulo Fernando Holiday (DEM), membro do Movimento Brasil Livre (MBL), foi chamado de “macaco de auditório” ontem, no plenário da Câmara Municipal. Ele disse que vai denunciar o vereador Camilo Cristófaro (PSB), por racismo, à Corregedoria do Legislativo e ao Ministério Público Estadual (MPE).
Holiday afirmou que se sentiu “revoltado” ao ouvir as falas. “Mas, na hora, consegui conter a raiva”, relatou ao Estado. “Os demais vereadores disseram que eu estava sendo dramático. Nunca havia sofrido um ataque dessa maneira, ao menos não na sessão plenária.”
O ataque tem como pano de fundo um clima de hostilidades entre Holiday e outros vereadores, desde que ele deu entrevista ao apresentador Danilo Gentili, do SBT, na sexta-feira. Holiday disse que os vereadores de São Paulo “não trabalham”, causando revolta entre os colegas. Anteontem, também no plenário, ele reafirmou as declarações, provocando embates durante a sessão plenária. “É uma triste realidade, mas a maioria dos vereadores não trabalha.”
Ataque. Ontem, Cristófaro, primeiro vereador inscrito nos
discursos do dia, usou seu tempo de fala na sessão para atacar Holiday. “Lamentavelmente, o senhor Holiday usa as redes sociais, ele é o grande macaco de auditório das redes sociais, dando risada dessa Casa, explodindo as redes sociais, porque a população adora ver sangue, maldade e mentira”, disse o vereador do PSB. Cristófaro completou dizendo que o que Holiday fez foi xingar os colegas de “vagabundos” e o chamou de “moleque” repedidas vezes.
Cristófaro negou ter feito um comentário racista. “Não tem nada de racismo. Macaco de auditório é uma expressão popular. Trabalho 12 horas por dia. Poderia vender todos os meus bens e dar uma banana para o Brasil”, disse o pessebista.
Ao ver o Estado conversando com Holiday no plenário da Câmara Municipal, o vereador Paulo Reis (PT), que também é negro, quis comentar o tema. “Os vereadores trabalham muito e ficaram muito revoltados com as declarações do Holiday. Eu já encaminhei à Prefeitura sete mil demandas. O trabalho do vereador é feito na base. A hora que ele fala uma coisa dessas para fora da Câmara, nos ataca”, disse o petista. Já sobre a expressão “macaco de auditório”, Reis afirmou que “cada um é que se sente vítima de racismo ou não. Se sentiu, deve tomar as providências”.
O presidente da Câmara, Eduardo Tuma (PSDB), evitou o tema do racismo e preferiu engrossar o coro contra o parlamentar do MBL por sua declaração. “Inadmissível. Atesto que os vereadores trabalham dia e noite, de segunda a segunda, tanto nas atividades parlamentares quanto naquelas políticas, em visitas externas à Câmara Municipal. Refuto fortemente a afirmação do colega em contrário”, argumentou Tuma, por meio de nota.
A fala de Holiday havia gerado reações críticas em diversas bancadas e até do vereador Milton Leite (DEM), ex-presidente da Câmara, que nos dois primeiros anos desta legislatura era tido como “tutor” de Holiday. Ontem ele discursou contra a posição do correligionário.
Reincidência. Em 2017, Cristófaro foi acusado de agressão, por chamar a vereadora Isa Penna (PSOL) de “vagabunda”. A parlamentar representou contra Cristófaro na Corregedoria da Câmara, mas o caso foi arquivado. O pessebista se mantém no cargo por uma liminar da presidência do Tribunal Regional Eleitoral (TRE). Ele foi cassado por ter na prestação de contas de campanha a doação de uma mulher inscrita em programas de assistência social.