Sistema é o mesmo que incomoda os EUA no Irã e na Síria
Os exercícios das Forças Armadas da Venezuela na linha de fronteira com a Colômbia, anunciados dois dias atrás pelo presidente Nicolás Maduro, ainda são um plano cheio de furos. Uma decisão política, mais que militar, a mobilização – o efetivo envolvido não foi revelado – agrava a crise financeira do governo e implica grande dificuldade logística: os 2.219 km que separam os dois territórios começam no golfo caribenho, atravessam trechos de montanha, selva, rios amazônicos e pequenas
savanas, até a divisa tríplice com o Brasil, em Cucuí, no Estado do Amazonas. Acessos difíceis em toda a extensão.
Os corredores aéreos mais favoráveis para deslocamento da aviação de combate passam pelo norte, talvez a partir de pontos como La Guajira e a região de Santander Norte, estimavam ontem oficiais brasileiros, ressalvando que essa análise é “apenas uma hipótese”. Há ainda a ser considerada a onda de refugiados em movimento o tempo todo na direção de Táchira, a noroeste. Até maio, o número de fugitivos registrados chegava a 1,3 milhão de pessoas.
O “alerta laranja” decretado por Maduro tem prazo, vai durar 18 dias, de 10 a 28 de setembro. Nesse período, o Exército pretende testar a capacidade de criar uma barreira antiaérea usando os mísseis russos de que dispõe. O mais numeroso no arsenal – cerca de 5 mil deles – é o Igla S24, que pode ser disparado do ombro de um só combatente contra alvos entre 500 metros e 5,2 km de distância, a altura de 10 metros a 3,5 km. Há dois outros mais pesados, o Pechora, para atuar na faixa dos 35 km e o Buk, até 140 km.
Maduro quer criar uma espécie rústica de escudo de proteção de objetivos estratégicos, como usinas de energia, linhas de transmissão, centrais de comunicação, terminais aéreos e instalações da rede de Defesa e núcleo da milícia popular criada em 2009 pelo então presidente Hugo Chávez. O componente diferencial do alerta serão as duas baterias, das três de que dispõe a artilharia venezuelana, dos mísseis russos S-300.
O sistema é o mesmo cuja presença na Síria e no Irã incomoda a Casa Branca. Sofisticado, fácil de operar e eficiente. Uma bateria é formada por seis carretas blindadas, cada uma levando quatro mísseis, um radar de longa distância, um veículo de comando e controle e um remuniciador. A versão adquirida por Maduro, recebida a partir de 2012, custa cerca de US$ 115 milhões, fora o míssil 9M82M, cotado a US$ 1 milhão a peça.
Funcionando no modo automático – o sistema digital rastreia os alvos, prioriza o grau de ameaça e faz o disparo –, o tempo de reação é de 3 segundos. Atinge mísseis balísticos e de cruzeiro, aviões e projéteis de artilharia no limite máximo de 150 km a 200 km, a altitudes de 30 km. Segundo dados de inteligência, o S-300 tem recebido dinheiro, atenção e cuidados dos técnicos enviados por Vladimir Putin, em dois grupos, em março e em julho.