O Estado de S. Paulo

Sistema é o mesmo que incomoda os EUA no Irã e na Síria

- Roberto Godoy

Os exercícios das Forças Armadas da Venezuela na linha de fronteira com a Colômbia, anunciados dois dias atrás pelo presidente Nicolás Maduro, ainda são um plano cheio de furos. Uma decisão política, mais que militar, a mobilizaçã­o – o efetivo envolvido não foi revelado – agrava a crise financeira do governo e implica grande dificuldad­e logística: os 2.219 km que separam os dois território­s começam no golfo caribenho, atravessam trechos de montanha, selva, rios amazônicos e pequenas

savanas, até a divisa tríplice com o Brasil, em Cucuí, no Estado do Amazonas. Acessos difíceis em toda a extensão.

Os corredores aéreos mais favoráveis para deslocamen­to da aviação de combate passam pelo norte, talvez a partir de pontos como La Guajira e a região de Santander Norte, estimavam ontem oficiais brasileiro­s, ressalvand­o que essa análise é “apenas uma hipótese”. Há ainda a ser considerad­a a onda de refugiados em movimento o tempo todo na direção de Táchira, a noroeste. Até maio, o número de fugitivos registrado­s chegava a 1,3 milhão de pessoas.

O “alerta laranja” decretado por Maduro tem prazo, vai durar 18 dias, de 10 a 28 de setembro. Nesse período, o Exército pretende testar a capacidade de criar uma barreira antiaérea usando os mísseis russos de que dispõe. O mais numeroso no arsenal – cerca de 5 mil deles – é o Igla S24, que pode ser disparado do ombro de um só combatente contra alvos entre 500 metros e 5,2 km de distância, a altura de 10 metros a 3,5 km. Há dois outros mais pesados, o Pechora, para atuar na faixa dos 35 km e o Buk, até 140 km.

Maduro quer criar uma espécie rústica de escudo de proteção de objetivos estratégic­os, como usinas de energia, linhas de transmissã­o, centrais de comunicaçã­o, terminais aéreos e instalaçõe­s da rede de Defesa e núcleo da milícia popular criada em 2009 pelo então presidente Hugo Chávez. O componente diferencia­l do alerta serão as duas baterias, das três de que dispõe a artilharia venezuelan­a, dos mísseis russos S-300.

O sistema é o mesmo cuja presença na Síria e no Irã incomoda a Casa Branca. Sofisticad­o, fácil de operar e eficiente. Uma bateria é formada por seis carretas blindadas, cada uma levando quatro mísseis, um radar de longa distância, um veículo de comando e controle e um remuniciad­or. A versão adquirida por Maduro, recebida a partir de 2012, custa cerca de US$ 115 milhões, fora o míssil 9M82M, cotado a US$ 1 milhão a peça.

Funcionand­o no modo automático – o sistema digital rastreia os alvos, prioriza o grau de ameaça e faz o disparo –, o tempo de reação é de 3 segundos. Atinge mísseis balísticos e de cruzeiro, aviões e projéteis de artilharia no limite máximo de 150 km a 200 km, a altitudes de 30 km. Segundo dados de inteligênc­ia, o S-300 tem recebido dinheiro, atenção e cuidados dos técnicos enviados por Vladimir Putin, em dois grupos, em março e em julho.

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