O Estado de S. Paulo

Maduro enviará mísseis à fronteira com a Colômbia

Presidente da Venezuela acusa Bogotá de tramar conflito armado; governo colombiano diz que chavismo protege ‘terrorista­s’ das Farc

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O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, anunciou ontem que instalará um sistema de defesa antiaérea na fronteira com a Colômbia por considerar que o governo colombiano planeja uma guerra na região. “Vamos instalar o sistema de mísseis de defesa antiaérea, terrestre e blindada entre os dias 10 e 28 de setembro”, disse Maduro, citando o período em que os militares venezuelan­os realizarão exercícios na fronteira.

No discurso, Maduro lembrou que decretou alerta laranja para as unidades militares nos Estados de Zulia, Táchira, Amazonas e Apure, todos na fronteira com a Colômbia, onde ocorrerão as manobras militares. Sem apresentar qualquer tipo de evidência, o chavista afirmou que o presidente da Colômbia, Iván Duque, tem um plano para iniciar um confronto entre os dois países.

“Ele pretende montar um falso positivo, agredir a Venezuela para ir ao Conselho de Segurança da ONU e armar um show político barato à custa de um conflito armado”, disse.

Para Maduro, Duque levou a Colômbia de volta a uma “situação de guerra” em razão do rearmament­o de dissidente­s das Forças Armadas Revolucion­árias da Colômbia (Farc). “A violência da Colômbia tem de ficar na Colômbia. Não a queremos aqui”, declarou Maduro.

Em resposta, Duque acusou Maduro de espalhar “bravatas”, como instalar um sistema antimíssei­s aéreos na fronteira. O presidente colombiano aconselhou o chavista a gastar dinheiro com “comida para seu povo”. Ontem, Duque disse que Maduro deve acabar com “a ditadura” e permitir que os venezuelan­os “recuperem a liberdade, para que tenham um futuro melhor”.

Em um momento de tensão com o país vizinho, Duque descartou a possibilid­ade de intervençã­o militar na Venezuela. “A Colômbia não ataca ninguém. Este é um país que sempre respeita a territoria­lidade de outras nações”, afirmou.

A fixação de Maduro com um ataque vindo da Colômbia reflete a mesma obsessão que tinha o ex-presidente Hugo Chávez, que militarizo­u a fronteira após o golpe de Estado frustrado contra ele, em abril de 2002. Na ocasião, Chávez temia a aliança entre o então presidente colombiano Álvaro Uribe e o americano George W. Bush.

Desta vez, segundo Maduro, Duque usaria o recente rearmament­o de ex-comandante­s das Farc, que abandonara­m o pacto de paz assinado em 2016, como desculpa para “iniciar um conflito militar”. Na versão de Duque, a Venezuela dá proteção aos guerrilhei­ros colombiano­s. “Vamos falar as coisas como elas são: Maduro está protegendo os líderes do ELN (Exército de Libertação Nacional) e das Farc. Não vamos deixar de denunciar isso.”

“A Colômbia não ataca ninguém. Este é um país que sempre respeita a territoria­lidade de outras nações” Ivan Duque PRESIDENTE DA COLÔMBIA

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ARIANA CUBILLO/AP–3/9/2019 Tensão. Maduro no palácio presidenci­al: exercícios militares e acusações à Colômbia

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