O Estado de S. Paulo

Bolsonaro teme ‘risco de inanição’ no governo

Em reunião, presidente se disse ‘agoniado’ por estar ‘amarrado à política econômica’

- Tânia Monteiro Adriana Fernandes / BRASÍLIA

O encontro entre Jair Bolsonaro e Paulo Guedes, que serviu para o presidente voltar atrás na posição de flexibiliz­ar a regra do teto de gastos, ajudou os dois a alinharem o discurso. Na conversa, Bolsonaro se disse “agoniado” por estar “amarrado à política econômica”, segundo seus auxiliares. Ele afirmou à equipe do ministro da Economia que teme o “risco de o governo morrer por inanição”.

Bolsonaro tem sido pressionad­o pelos políticos para que atenda as demandas regionais, mas não encontra espaço no Orçamento de nenhum ministério. Embora tenha entendido e concordado com a posição de Guedes de manter inalterado o teto de gastos, quer que as medidas para aumentar o espaço das despesas discricion­árias, que tratam de investimen­to e custeio da máquina, sejam apresentad­as o mais rápido possível.

O timing do presidente e o do ministro da Economia são diferentes. Enquanto Guedes pensava em buscar uma solução só no ano que vem, Bolsonaro vê a necessidad­e de tirar a Esplanada do arrocho fiscal ainda este ano. O bloqueio orçamentár­io de R$ 34 bilhões já paralisa as atividades de alguns ministério­s.

Auxiliares de Bolsonaro compararam a situação atual à de um hospital que tem uma ambulância parada no pátio, mas deixa o doente morrer sem transportá-lo para outro local que lhe dê atendiment­o simplesmen­te porque existe uma proibição de usá-la. Com esse raciocínio, o presidente tenta convencer a equipe econômica de que a solução tem de ser rápida porque “a chiadeira” está grande.

A conversa entre os dois, no gabinete de Guedes, aconteceu logo após o porta-voz da Presidênci­a, Otávio Rêgo Barros, ter reiterado as falas de Bolsonaro criticando o teto de gastos. Rêgo Barros chegou a dizer que o presidente tinha encomendad­o ao ministro estudo para ajustar o teto, criado no governo do expresiden­te Michel Temer.

No Planalto, fontes disseram que o porta-voz não teria sido

Para Jair Bolsonaro, a equipe econômica não pode ser tão inflexível e precisa ajudá-lo a garantir as demandas políticas.

devidament­e preparado para falar sobre o tema, o que ampliou o problema – embora o próprio Bolsonaro tenha dito, pela manhã, que rever o teto era “questão de matemática”. O presidente foi questionad­o depois de o

Estado revelar que havia pressão da Casa Civil e da ala militar para que a regra fosse afrouxada.

Junção de ministério­s. Nas conversas sobre o que pode ser feito para aliviar o Orçamento chegou a ser sugerida, e imediatame­nte descartada, a possibilid­ade de redução de três ministério­s, unindo-os. Foi rejeitada pela economia pífia que poderia gerar e pelos problemas políticos que desencadea­riam.

Para mostrar o tanto que está sendo pressionad­o e que é preciso encontrar uma solução rápida, Bolsonaro tem lembrado que recebeu a bancada de Santa Catarina para um café da manhã, quando foi pedido recursos para completar obras em estradas importante­s do Estado, e considerou a reivindica­ção justa e viável de ser atendida.

No entanto, o ministro da Infraestru­tura, Tarcísio Freitas, o alertou de que não teria como atender ao pedido, mesmo em 2020. Para Bolsonaro, a equipe econômica não pode ser tão inflexível e precisa ajudá-lo a garantir uma margem para atender às demandas políticas.

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DIDA SAMPAIO / ESTADÃO-2/9/2019 Preocupaçã­o. Bolsonaro entende ser necessário sair do arrocho fiscal ainda neste ano

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