O Estado de S. Paulo

‘Concessão já passou um pouquinho da conta’

Para economista, corte de R$ 63 bi na economia prevista em dez anos é o limite; ‘qualquer coisa além não pode’

- Vinicius Neder / RIO

A concessão de “benemerênc­ias” na proposta de emenda constituci­onal (PEC) de reforma da Previdênci­a em tramitação no Senado já “passou um pouquinho da conta”, na avaliação do economista Paulo Tafner. Com as mudanças aprovadas, na quarta-feira, na Comissão de Constituiç­ão e Justiça (CCJ), o impacto fiscal previsto em dez anos caiu de R$ 933,5 bilhões, conforme o texto aprovado na Câmara, para R$ 870,5 bilhões. Para Tafner, a diferença de R$ 63 bilhões “não é pouca coisa” e deveriam ser encarados como limite nas concessões.

• Qual a importânci­a de incluir novamente a Previdênci­a de Estados e municípios na reforma, com a ‘PEC paralela’?

Os Estados estão quebrados. Essa é a realidade. E vários Estados já não conseguem pagar salários, aposentado­rias e fornecedor­es. Não pagar fornecedor tem um impacto para as pessoas em geral. Significa, na ponta, não pagar salário de trabalhado­r da iniciativa privada, o que é até pior, em certo sentido. Como os salários médios no setor público são maiores, quando o Estado deixa de pagar a empresa que faz faxina, faz segurança, os atrasos de salários ocorrem sobre as pessoas mais pobres.

• Por que a Previdênci­a é importante nas finanças estaduais?

A causa originária dessa situação (da crise fiscal dos Estados) é a despesa previdenci­ária. Em praticamen­te metade dos Estados no Brasil, o gasto com Previdênci­a é próximo de 50% ou mais no gasto total com pessoal. E a cada ano essa relação vai piorando.

• Qual a avaliação sobre as mudanças feitas na PEC da reforma na esfera federal, incluindo a Previdênci­a do setor privado?

O País passa por uma situação em que qualquer benemerênc­ia é prejudicia­l ao brasileiro, aos Estados e à população mais pobre. Achar que defende pobre fazendo benemerênc­ia não é verdade. Não acho adequada a mudança nas pensões. Só a mudança nas pensões são R$ 65 bilhões que se perde de economia (em dez anos). Isso para garantir que nenhum benefício de pensão seja inferior ao salário mínimo. Isso é uma bobagem, porque a PEC ( da forma como saiu da Câmara) diz que para quem não tem renda nenhuma está garantida a pensão de um salário mínimo. Para quem tem renda vai ser 60% do valor da pensão; 25% da despesa com Previdênci­a são com pensão.

• As flexibiliz­ações chegaram ao limite?

Acho que até já foi além, já passou um pouquinho da conta. Perder R$ 60 e poucos bilhões é pesado, não é pouca coisa. É muito dinheiro. Isso já foi. Agora, vamos ver se o plenário do Senado não faz mais nenhuma concessão.

• Aprovar a reforma do jeito que está é melhor do que aprovar a reforma desenhada no governo Michel Temer?

O texto do Temer que foi aprovado para ir à votação dava um impacto de R$ 410 bilhões. A PEC atual, já com as alterações do Senado, vai dar uma economia de R$ 860 bilhões a R$ 870 bilhões. É mais do que o dobro. Suponha que tivéssemos adotado a estratégia de aprovar a reforma do Temer até abril. Aprovar R$ 410 bilhões em abril, ou R$ 870 bilhões em outubro? Eu prefiro R$ 870 bilhões em outubro. Por isso que não pode perder mais, porque se não a conta muda. Esse é o limite. Qualquer coisa além disso não pode.

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