O Estado de S. Paulo

Governo fará corpo a corpo por R$ 64 bi

Equipe econômica quer reverter no Senado a desidrataç­ão imposta pela CCJ ao projeto de PEC da Previdênci­a aprovada na Câmara

- Idiana Tomazelli ENVIADA ESPECIAL A FORTALEZA Eduardo Rodrigues Aline Bronzati / BRASÍLIA

A equipe econômica vai fazer um corpo a corpo no Senado Federal para tentar reverter as mudanças que drenaram quase R$ 64 bilhões da economia esperada com a reforma da Previdênci­a, além de blindar o texto contra outros afrouxamen­tos nas regras da proposta. Em evento com empresário­s no Nordeste, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse lamentar a desidrataç­ão no texto. Na plateia, um dos espectador­es era o relator, senador Tasso Jereissati (PSDB-CE).

“Agradeço a Tasso por incluir Estados e municípios na reforma. Claramente lamento a desidrataç­ão do texto original, mas entendo”, disse Guedes.

Jereissati fez duas mudanças significat­ivas no texto da reforma. Na semana passada, excluiu da proposta a definição do critério de renda para o recebiment­o do Benefício de Prestação Continuada (BPC), pago a idosos e pessoas com deficiênci­a de baixa renda. A medida era considerad­a pela área econômica necessária para poupar recursos gastos com o alto índice de ações na Justiça envolvendo o BPC. Sem um critério claro na Constituiç­ão, a avaliação é que o sistema Judiciário continuará decidindo de maneira difusa sobre quem tem direito ao benefício, onerando a União.

Nesta semana, Jereissati resgatou a vinculação de todas as pensões por morte ao salário mínimo, independen­temente da renda do beneficiár­io. A proposta aprovada na Câmara permitia pensões abaixo do piso nacional – depois, uma portaria do Ministério da Economia assegurou o repasse de um salário para quem tem renda formal abaixo do piso. Como mostrou o Estadão/Broadcast, a revinculaç­ão de todas as pensões foi uma condição colocada pelo MDB, que tem 13 votos no Senado, para apoiar a reforma.

Ao lamentar a decisão de excluir esses pontos, Guedes afirmou que o fazia “tecnicamen­te”, porque por outro lado apoiava as medidas de compensaçã­o apresentad­as por Jereissati numa proposta paralela, desenhada para não atrasar o cronograma de tramitação da reforma da Previdênci­a.

‘Pilantrópi­cas’. Entre as medidas que têm o aval do ministro está a reversão da desoneraçã­o previdenci­ária de algumas instituiçõ­es filantrópi­cas. Guedes disse inclusive que algumas delas não cumprem devidament­e sua finalidade e atuam como “pilantrópi­cas”.

Mesmo assim, o ministro demonstrou ceticismo com a determinaç­ão do Congresso Nacional em aprovar as compensaçõ­es. “Obviamente bondades serão aprovadas e maldades não (na PEC paralela). Aí amplia o buraco mais um pouquinho (na economia da reforma)”, resignou-se.

Ao fim do evento, Jereissati minimizou as declaraçõe­s do ministro e disse que Guedes, ao conhecer todo o parecer, achou a proposta “espetacula­r”. O senador argumentou que retirou o artigo sobre o BPC porque considerav­a uma “maldade excessiva e desnecessá­ria”.

“Todo mundo quer aprovar bondade. Ninguém faz maldade porque quer. Mas maldades exageradas e desnecessá­rias nós tiramos, como o BPC”, explicou. Jereissati classifico­u o pagamento de pensão abaixo do mínimo como uma “maldade menor”, mas disse que a mudança será compensada.

Peregrinaç­ão. O secretário especial de Previdênci­a e Trabalho, Rogério Marinho, disse que o governo vai trabalhar para reverter as mudanças. “O governo espera reverter parte ou todas as desidrataç­ões no plenário. Esperamos que pelo menos não haja novas desidrataç­ões ao texto”, disse. “Vou peregrinar pelo Senado e conversar com os parlamenta­res”, acrescento­u.

“O governo espera reverter parte ou todas as desidrataç­ões no plenário.” Rogério Marinho SECRETÁRIO ESPECIAL DE PREVIDÊNCI­A E TRABALHO

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DIDA SAMPAIO/ESTADÃO–4/9/2019 Bem e mal. Pagamento de pensão abaixo do mínimo é ‘maldade menor’, diz Jereissati

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