O Estado de S. Paulo

Palestra em SP

Taleb vem ao País pregar descentral­ização econômica.

- Fernando Scheller

Oautor marca a entrevista cedo, às 7h30. A agente quer restringir a conversa a seis perguntas, ou dez minutos. Ela se pergunta se Nassim Nicholas Taleb, autor do best-seller A Lógica do Cisne Negro, vai esquecer o compromiss­o. Lembra que ele está em Nova York e que são 5h30 por lá. “Será que ele acordou?”, pergunta-se. “Sim, eu acordei”, responde, de supetão, a terceira voz da conferênci­a.

A conversa começa com perguntas rápidas. A primeira é sobre a teoria do Cisne Negro, mas Taleb interrompe e diz não estar interessad­o em falar sobre a discussão de eventos imponderáv­eis que

vendeu tantos livros.

Diz que não é homem de um sucesso só – lançou, posteriorm­ente, títulos como Antifrágil e Arriscando a Própria Pele. Prefere falar do tema que deve dominar sua palestra em São Paulo, hoje: a importânci­a da descentral­ização da economia.

Nascido no Líbano em 1960, Taleb é autor, ensaísta e estatístic­o. Filho de uma família de políticos libaneses, deixou o País na época da guerra civil, iniciada em 1975. Estudou na França e depois migrou para os EUA, onde trabalhou com capital de alto risco, gerenciou fundos de investimen­to e fez fortuna no mercado financeiro.

Taleb vem ao Brasil para o 6.º Fórum Liberdade e Democracia, cujo “line-up” ainda incluirá Guilherme Benchimol (fundador da XP Investimen­tos), Gustavo Montezano (presidente do BNDES) e a empresária Cristiana Archangeli (do programa Shark Tank Brasil).

O discurso de Taleb, que fará a palestra de encerramen­to, vai focar em dois temas caros ao governo Jair Bolsonaro: a defesa da descentral­ização da economia e a crítica à burocracia estatal, vista como vilã do desenvolvi­mento econômico.

“A centraliza­ção das decisões faz as coisas parecerem boas por algum tempo, mas dura uns dez anos, no máximo”, diz. Ele vê forte tendência de centraliza­ção no Brasil – lembrando que o País gosta de colocar “Brás” em quase tudo. “A ideia de ‘tudo Brás’ parece boa no papel, e não estou dizendo que não tem seus méritos. Mas não dura muito.”

Em um momento de polarizaçã­o, Taleb evita simplifica­r o problema entre esquerda e direita. “Vejo as coisas de maneira diferente. Separo entre as tendências de centraliza­r ou descentral­izar (a economia)”, diz.

Para o autor, os chamados “burocratas” – pessoas que trabalham na engrenagem governamen­tal e protegem a máquina pública – não cumprem uma função real na sociedade. Citando um de seus livros, ele diz que esses profission­ais “não arriscam a própria pele”. “Não é como um dentista, um encanador ou mesmo um agente”, diz, lembrando que, em comum, todas essas pessoas dependem de clientes para sobreviver.

Em sua visão, Suíça, Hong Kong e Malásia são bons exemplos de países que souberam aplicar bem na prática a descentral­ização econômica. “Na Suíça, o Estado reteve muito poucas tarefas, entre elas o sistema de trens e o Exército”, diz. “E, assim, pôde se concentrar em fazer essas coisas muito bem.”

Antes de desligar, Taleb ainda explica que uma mudança na política não quer dizer evolução nas mudanças rumo à descentral­ização da economia. Ele considera que Barack Obama tentou centraliza­r decisões – um erro fatal –, mas diz que a modernizaç­ão prometida por Donald Trump ficou na promessa.

Com o conselho de diferencia­r promessas políticas vazias e ação real em relação a uma economia livre dos burocratas, ele encerra a chamada. Depois de 50 minutos.

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SHANNON STAPLETON / REUTERS - 16/11/2005 Visita. Taleb, de ‘A Lógica do Cisne Negro’: palestra em fórum sobre liberdade e democracia em SP

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