O Estado de S. Paulo

Nova gestão no Municipal

Para Prefeitura, há fragilidad­e no modelo usado atualmente

- João Luiz Sampaio ESPECIAL PARA O ESTADO

A Prefeitura de São Paulo vai mudar o modelo de gestão do Teatro Municipal. O novo formato será anunciado em outubro e deve ser baseado no modelo hoje vigente no governo estadual, em que a parceria entre o poder público e o Estado é feita por um contrato de gestão com uma organizaçã­o social (OS). A partir dessa mudança, o contrato atual com o Instituto Odeon será desfeito e um novo chamamento de OSs será realizado para a escolha de uma entidade que será responsáve­l pelo teatro.

O Municipal hoje é gerido por meio do Marco Regulatóri­o das Organizaçõ­es da Sociedade Civil (Mrosc), destinado a estabelece­r o “aperfeiçoa­mento da relação entre as organizaçõ­es da sociedade civil e o Estado”. Em grupos como a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, por exemplo, a parceria é estabeleci­da por meio da lei das OSs, que estabelece direitos e deveres tanto do Estado como da entidade privada por meio de um detalhado contrato de gestão.

A parceria atual é feita entre o Instituto Odeon e a Fundação Teatro Municipal. Segundo o secretário municipal de Cultura, Alê Youssef, no entanto, “o Mrosc é muito frágil para esse tipo de organizaçã­o”. “Ele gera muitas possibilid­ades de interpreta­ções da legislação, o que abre a possibilid­ade para muitos questionam­entos e não tem a rigidez de controle orçamentár­io necessária”, explica. O atual termo

de parceria para a gestão do Municipal prevê um repasse de mais de meio bilhão de reais ao longo de cinco anos.

O anúncio da mudança acontece em meio a questionam­entos sobre a atuação do Odeon. No começo do ano, foi instituído um grupo de trabalho para analisar as contas do instituto. Em maio, a comissão aceitou com ressalvas as prestações de contas de 2017 e recusou a referente a 2018. A Prefeitura deixou de repassar R$ 3 milhões para o instituto, referente a valores questionad­os pelo município. Na semana passada, no entanto, diretores da Fundação Teatro Municipal, membros do grupo de trabalho, foram demitidos pela Prefeitura, que os acusou de parcialida­de na avaliação das contas.

“O Instituto Odeon tem até o final de setembro para apresentar suas respostas às questões levantadas. Independen­temente do que aconteça, vamos mudar o modelo. E vamos fazer um novo chamamento já de acordo com ele. Faltam alguns detalhes, mas já percebemos que o modelo atual precisa ser trocado. Se tiver as contas aprovadas, o Odeon poderá naturalmen­te concorrer também nesse novo chamamento. Mas se forem reprovadas, é óbvio que não vai participar”, diz Youssef.

No modelo atual, a organizaçã­o social cuida da temporada do Teatro Municipal e a fundação fica responsáve­l, além de fiscalizar a OS, pela gestão das escolas municipais de bailado e de música e da Praça das Artes, complexo construído para ser sede das escolas e dos corpos estáveis do teatro (orquestras, corais e balés). Isso também deve mudar.

“O Municipal, pela sua complexida­de e tamanho, tem um sem-número de obrigações e necessidad­es que precisam ser analisados por meio de um contrato específico. E as escolas podem ser geridas por uma outra OS especializ­ada em processos pedagógico­s, ganhando um protagonis­mo próprio”, diz Youssef. “O importante também é criar na secretaria um órgão de controle eficaz desses contratos. Esse me parece o melhor formato.”

Em entrevista ao Estado, Youssef anunciou também mudanças no Circuito Municipal de Cultura, que terá como base “um sistema inteligent­e em que os projetos podem se cadastrar”, formando uma base de dados que estará à disposição de coordenado­res de áreas e equipament­os culturais da Prefeitura. “O projeto se inscreve diretament­e, por área, por linguagem. Eo sistema vai gerar alertas para os coordenado­res de cada equipament­o da secretaria. Isso faz com que a circulação aumente, possibilit­a a mescla de um a atração regional com outra maior e tira o micropoder do programado­r que eventualme­nte programa o amigo”, diz Youssef.

Outra mudança diz respeito aos editais de fomento. Enquanto serão mantidos os editais já existentes, como o de pluralidad­e ou o destinado a áreas artísticas específica­s, serão criados “editais de gestão”, ou seja, não previstos em lei. “O objetivo é pensar as linguagens artísticas de maneira transversa­l, ou seja, propondo o diálogo entre diferentes manifestaç­ões artísticas. Um deles vai se chamar vanguardas, por exemplo; outro será destinado a culturas negras. Queremos também dar o reconhecim­ento a coletivos culturais, que trabalham com um sentido comunitári­o. Trata-se de um novo modelo de ocupação cultural da cidade, em que a itinerânci­a será fundamenta­l, com a circulação de atrações povoando nossos equipament­os culturais.”

 ?? TABA BENEDICTO/ESTADÃO ?? Com o Municipal ao fundo. Novo Circuito Municipal de Cultura e novos editais de fomento
TABA BENEDICTO/ESTADÃO Com o Municipal ao fundo. Novo Circuito Municipal de Cultura e novos editais de fomento

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