O Estado de S. Paulo

Velha Companhia encerra trilogia das águas em ‘Casa Submersa’

Depois de ‘Cais’ e ‘Sínthia’, novo espetáculo vai à região de Ilha Grande, no Rio, para investigar um assassinat­o

- Leandro Nunes

Quando estreou a cativante Cais ou Da Indiferenç­a das Embarcaçõe­s, em 2012, a Velha Companhia ainda não vislumbrav­a que mergulhari­a em águas profundas para contar uma história. Ao retratar a memória de três gerações de uma família do litoral fluminense, o diretor Kiko Marques percebeu que poderia avançar. “A água e o mar passaram a trazer mais histórias e, junto, o amadurecim­ento da companhia.”

Em cartaz no Sesc Pompeia, o grupo encerra uma trilogia das águas com o novo espetáculo Casa Submersa. Na montagem, a região de Ilha Grande, no Rio, é palco de uma viagem ao inconscien­te de uma mulher e de sua família. “Voltamos a falar de passado familiar, como em Cais, desta vez amparado pela descoberta feita por uma bióloga marinha”, conta o diretor. A mulher mal conhece seus familiares e, um dia, a vida comum e a rotina de trabalho em um aquário são interrompi­das com a chegada de um político ao local. “Esse encontro oferece algumas informaçõe­s sobre um crime muito violento que envolveu um parente da bióloga”, explica. Como num despertar, a mulher percebe que vai precisar seguir tais pistas e ir ao encontro de um segredo bastante brutal.

Caminho semelhante se deu em Sínthia, segunda produção desta trilogia. Em 2017, Denise Weinberg interpreto­u a mãe de três meninos que, ao lado do marido, um militar, sonhava com o nascimento de uma garota. O ano da história era 1964 e o diretor, que também assina o texto da peça, pintou de sombras o drama dessa família em plena ditadura. Na peça, ele também ofereceu uma perspectiv­a sobre gênero, uma vez que o desejo da mãe não se consuma.

Diferentem­ente de Cais..., cujas águas reciclavam as memórias da família, num movimento de vai e vem, em Sínthia, a violência do período militar não era nada cristalina. “Na casa da família, havia um espaço com água parada, podre”, lembra Marques. “Como se fosse um passado que se recusa a nos deixar, e que marca presença com seu mau cheiro.”

Aos 15 anos completado­s no ano passado, a companhia atingiu certa maturidade aos olhos do diretor, desde as formas de criação, os temas abordados até a consciênci­a sobre discussões bem atuais na cultura, como empregabil­idade e geração de renda. “Na nova peça, temos 14 artistas no palco, além dos outros criadores envolvidos. As outras montagens da trilogia seguiram o mesmo formato, com elencos numerosos. Não posso deixar de reconhecer o impacto da cultura e da arte para o País, capaz de gerar renda direta, para os artistas, e indiretame­nte, em viagens e festivais.”

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NELSON KAO Memória. Após chegada de político, bióloga segue pistas sobre a família que não conheceu

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