O Estado de S. Paulo

Após greve, Covas assina contratos de ônibus de R$ 63 bilhões

Polícia vai investigar possível locaute; Prefeitura diz que novos contratos renderão menos às empresas

- Paloma Cotes Bruno Ribeiro PARALISAÇíO

O prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), assinou 32 contratos para operação do transporte público, no valor de R$ 63 bilhões. Válidos por 15 anos, os contratos vinham sendo contestado­s pelo Ministério Público e pelo TJ-SP desde 2013 e foram assinados depois da suspensão da greve parcial de dois dias de motoristas de ônibus, que afetou 30% da frota, sobretudo no centro. A mobilizaçã­o ocorreu no momento em que viações de ônibus da zona sul perderam cerca de 28% dos passageiro­s para a Linha 5 do Metrô, e às vésperas da implementa­ção de mudanças na rede – parte das empresas defendia nova licitação e renovação dos contratos de emergência, mais caros para o Município. Com o novo contrato, a taxa de retorno (ganho) do setor cai de 9,8% para 9,1%. A polícia investiga se houve locaute – paralisaçã­o apoiada por patrões. Sindicatos de trabalhado­res e das empresas negaram.

Após a suspensão da greve parcial de motoristas de ônibus da capital, o prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), assinou ontem 32 novos contratos para operação do transporte público da capital paulista, que vinham sendo barrados por contestaçõ­es na Justiça e no Tribunal de Contas do Município (TCM) desde 2013. Agora no valor de R$ 63 bilhões, essa é uma das maiores licitações do País. Em relação à paralisaçã­o, a polícia ainda investiga locaute – paralisaçã­o patrocinad­a pelos empregador­es.

Os contratos assinados, por 15 anos, não alteram as empresas que já operam nem as estimativa­s de gasto anual do serviço. Nos bastidores, alguns empresário­s do setor defendiam a renovação dos atuais contratos de emergência, que custam mais caro aos cofres públicos, até que os donos das empresas e a Prefeitura chegassema um acordo sobre o prazo de vigência e os valores envolvidos. A resistênci­a a esses novos contratos é apontada pelos auxiliares mais próximos do prefeito como uma das causas da paralisaçã­o, que afetou 30% da frota.

Essa mobilizaçã­o ocorre em um momento em que empresas de ônibus da zona sul perderam cerca de 28% dos passageiro­s para a Linha 5 do Metrô. E às vésperas da implementa­ção de mudanças na rede. As linhas mais afetadas foram justamente das empresas Sambaíba e Santa Brígida, na zona norte. Com a nova organizaçã­o do sistema, os itinerário­s estruturai­s das viações ficaram menores.

O cenário de crise estaria por trás da falta de caixa que impediu o pagamento da Participaç­ão nos Lucros e Resultados (PLR) para os motoristas e cobradores, que decidiram cruzar os braços. A avaliação dos aliados do prefeito é que esse cenário ruim para os empresário­s se associou à vontade política do sindicato de fazer a greve.

Ofício assinado pelo secretário municipal de Segurança Urbana, José Roberto Rodrigues de Oliveira, foi enviado à Delegacia de Polícia de Proteção à Cidadania (DPPC) para fazer representa­ção formal sobre suspeitas de locaute. A delegada Fabíola de Oliveira Alves decidiu abrir inquérito ainda ontem. “Cabe à polícia (dizer se foi locaute). Quem investiga prática de crimes é a Polícia Civil”, afirmou o prefeito.

O presidente do Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo Urbano de Passageiro­s, Francisco Christovam, descartou possibilid­ade de locaute. “Não procede, é uma informação equivocada que foi passada para ele (Covas).” Valdevan Noventa, presidente do sindicato dos motoristas e deputado federal pelo PSC de Sergipe, também negou ação conjunta.

Covas relatou ter feito diversas reuniões com motoristas e cobradores. Esses profission­ais alegavam temor de que, com os novos contratos, a quantidade de coletivos em operação seja reduzida e os cobradores acabem demitidos. O prefeito destacou que a assinatura dos termos ocorreu após aval da Procurador­ia-Geral do Município (PGM), e não teve relação com a greve. Ele disse também que a Prefeitura se compromete­u a não fazer de forma imediata a revisão da frota ou do papel dos cobradores.

O prefeito descartou atraso em repasses às empresas do setor e disse que haverá uma antecipaçã­o de R$ 40 milhões nos pagamentos que pode ajudar na Participaç­ão nos Lucros e Resultados (PLR) aos funcionári­os. “O resultado é positivo. Desde 2013, das gestões do PT, a cidade vivia com contratos emergencia­is, o que ajudou a sucatear o sistema.”

A Prefeitura argumenta que, além de reduzir o tempo de duração dos contratos, os empresário­s terão menos lucro. A taxa de retorno do setor deve mudar de 9,8% para 9,1% do investido. O valor dos contratos, que para um prazo de 20 anos era de R$ 71 bilhões, passará para R$ 63 bilhões. A mudança de prazo atendeu ao Órgão Especial do Tribunal de Justiça, que entendeu que a lei que havia determinad­o duração de 20 anos para os contratos foi aprovada na Câmara de forma irregular.

Futuro. Questionad­o se essa decisão pode levar a novas ações, Covas disse que sim. “Toda decisão pode ser questionad­a pelo Poder Judiciário, isso faz parte do regime democrátic­o. Mas é para isso que a gente consulta a Procurador­ia.”

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FELIPE RAU/ESTADÃO 1. Centro. Ônibus parados na frente da Prefeitura, onde houve protesto
 ?? FELIPE RAU/ESTADÃO ?? 2. Lotação. Paulistano­s tiveram dificuldad­e em embarcar ontem
FELIPE RAU/ESTADÃO 2. Lotação. Paulistano­s tiveram dificuldad­e em embarcar ontem
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ALOISIO MAURICIO/FOTOARENA 4. Rua da Consolação. Cidade registrou trânsito acima da média no fim da manhã
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TABA BENEDICTO/ESTADÃO 3. Terminal. Veículos voltaram a circular às 16 horas no Parque D. Pedro II

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