O Estado de S. Paulo

Aras tem apoios em comissão do Senado

Indicado por Bolsonaro, subprocura­dor avisa à presidente da CCJ, Simone Tebet, que vai visitar todos os 81 senadores; presidente volta a defender escolhido

- Daniel Weterman Camila Turtelli / BRASÍLIA / COLABORARA­M BRENO PIRES e JULIA LINDNER

De 24 integrante­s da Comissão de Constituiç­ão e Justiça do Senado consultado­s pelo Estado, apenas dois declararam que não pretendem dar aval à indicação de Augusto Aras para a Procurador­ia-Geral da República. Seis declararam apoio, 10 não quiseram responder e seis não têm opinião. Senadores veem Aras como contrário à criminaliz­ação da política, o que poderia favorecer sua aprovação.

Senadores que vão analisar inicialmen­te a indicação de Augusto Aras para a Procurador­ia-Geral da República evitaram ontem impor resistênci­as ao nome escolhido pelo presidente Jair Bolsonaro. Entre os titulares da Comissão de Constituiç­ão e Justiça (CCJ), apenas dois declararam que não pretendem dar aval à nomeação, enquanto seis se disseram favoráveis, segundo levantamen­to do Estadão/Broadcast. Única representa­nte do PSL, partido de Bolsonaro, na CCJ, a senadora Juíza Selma (MT), declarou que vai votar contra o escolhido para suceder a Raquel Dodge. Na oposição, o vice-líder do PT, Rogério Carvalho (SE), se disse a favor.

A reportagem ouviu 24 dos 27 titulares da comissão, responsáve­l por sabatinar o indicado. Dez não quiseram comentar, seis afirmaram ainda não ter opinião e apenas três não respondera­m.

Otto Alencar (PSD-BA) e Angelo Coronel (PSD-BA), dois parlamenta­res que têm se posicionad­o contra o governo em uma série de votações no Senado, elogiaram a escolha de Bolsonaro para chefiar o principal órgão de investigaç­ão do País. “Ele não vai se dobrar a quem o indicou, ele é um homem do Direito e muito sério”, afirmou Alencar, líder do partido no Senado. “A indicação de Augusto Aras talvez seja o ato mais responsáve­l do presidente da República até então”, disse Coronel.

Em reservado, parlamenta­res avaliaram que as críticas do escolhido de Bolsonaro a condutas da Lava Jato imprimiram nele um perfil contrário à criminaliz­ação da política, o que pode favorecer sua aprovação pelos senadores. Para ser nomeado, ele precisará do voto da maioria no plenário da Casa.

O líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), afirmou esperar que o indicado tenha o “apoio de todos os partidos, da direita à esquerda, devido à sua trajetória”. “As críticas que ele fez à Lava Jato foram devido à ‘midiatizaç­ão’. Mas ele é um homem que defende a bandeira do presidente contra a corrupção. Tem um perfil adequado e equilibrad­o”, afirmou o Bezerra Coelho.

Aras chegou a criticar colegas do Ministério Público. Em entrevista ao Estado, afirmou que a instituiçã­o estava aparelhada e defendeu uma “disruptura” para a Procurador­ia “retomar os trilhos” da Constituiç­ão.

Para o líder do PT, Humberto Costa (PE), a oposição deve ouvir Aras para avaliar se concorda com a nomeação. “O que queremos é que o procurador coloque o MP para ter uma atuação condizente com a Constituiç­ão e acabar com esse estrelismo de alguns servidores do MP e a perseguiçã­o política”, disse.

O nome, porém, desagradou a senadores “lavajatist­as”, como a Juíza Selma – chamada de “Moro de saias” durante a campanha eleitoral – e Alessandro Vieira (Cidadania-SE). “Não adianta o presidente escolher um PGR que tenha posicionam­entos parecidos com os dele se cada membro do MPF tem o seu próprio posicionam­ento e independên­cia para trabalhar. Eu não teria feito essa escolha”, afirmou a senadora, que criticou a indicação fora da lista tríplice eleita pela categoria.

Aras vai começar a visitar senadores na próxima semana em busca de apoio. Ele avisou à presidente da CCJ, Simone Tebet (MDB-MS), que pretende ir a todos os 81 gabinetes. O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), porém, disse que não pretende dar prioridade à análise da indicação à PGR na Casa, que ainda discute a reforma da Previdênci­a.

‘Chance’. Um dia após ser alvejado nas redes sociais pela escolha, que desagradou a boa parte de seus apoiadores, Bolsonaro voltou ontem a pedir “uma chance” a Aras. “Reconheço as minhas limitações, a minha fragilidad­e, a minha incompetên­cia em alguns momentos. Mas vou continuar me empenhando para fazer o melhor todo dia”, disse o presidente a pessoas que o esperavam ontem na porta do Palácio da Alvorada.

Questionad­o se Aras vai combater a corrupção, Bolsonaro respondeu que um procurador­geral da República “não pode focar só na corrupção”. “É questão ambiental, direitos humanos, minorias. Tem a ver indiretame­nte com a economia. Essa é a intenção.”

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DIDA SAMPAIO/ESTADAO -5/9/2019 Brasília. Após indicação, subprocura­dor Augusto Aras pretende conversar com senadores

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