O Estado de S. Paulo

União quer passar gastos com ensino básico a Estados

Para abrir espaço no Orçamento, sem ferir a regra do teto de gastos, equipe econômica busca transferir para governos regionais a gestão do Salário Educação, contribuiç­ão social paga por empresas que banca 12 programas ligados ao ensino básico

- Adriana Fernandes / BRASÍLIA

O governo estuda transferir para Estados e municípios a gestão do Salário-Educação, contribuiç­ão social paga por empresas para o financiame­nto de 12 programas ligados ao ensino básico. A saída desses R$ 9,3 bilhões da contabilid­ade federal abriria espaço no teto de gastos – mecanismo que proíbe que as despesas obrigatóri­as cresçam em ritmo superior à inflação – para outros itens, como custeio da máquina e investimen­tos, no orçamento de 2020.

Diante do aperto orçamentár­io, o governo federal estuda transferir para os Estados e municípios a gestão do Salário Educação – contribuiç­ão social paga por empresas destinada ao financiame­nto de 12 programas ligados ao ensino básico, que abrangem desde a compra de merenda escolar e de material didático a transporte de alunos e obras em escolas e creches.

Com isso, a equipe econômica conseguiri­a abrir um espaço de R$ 9,3 bilhões no teto de gastos, o mecanismo que proíbe que as despesas obrigatóri­as cresçam em ritmo superior à inflação. Ao retirar do Orçamento federal os pagamentos dos programas do Salário Educação, que são gastos obrigatóri­os, o governo ganha margem para aumentar as chamadas despesas discricion­árias, como o custeio da máquina e investimen­tos, em 2020.

A iniciativa é mais uma na lista do governo de estratégia­s para reduzir os gastos obrigatóri­os, que incluem o pagamento de salários e aposentado­ria (veja abaixo).

A vantagem dessa medida é que ela poderia ser feita por um projeto de lei, o que exigiria o apoio da maioria simples na Câmara e no Senado – outras mudanças, principalm­ente as que envolvem os servidores públicos, precisam ser feitas via proposta de emenda à Constituiç­ão (PEC), que exige o aval de três quintos dos deputados e senadores.

A alteração, além de reduzir as despesas obrigatóri­as e aumentar o espaço do teto de gastos, está em linha com a estratégia do ministro da Economia, Paulo Guedes, batizada de três

Ds: desindexar, desvincula­r e desobrigar. Em resumo, os três Ds acabam com a obrigação do governo de gastar em determinad­as áreas e de reajustar certas despesas. Na prática, pode significar fim de reajuste obrigatóri­o de salários e aposentado­rias, demissão facilitada de servidores e cortes na obrigatori­edade de investir em saúde e educação, por exemplo.

Origem. A arrecadaçã­o do Salário Educação vem de uma contribuiç­ão social de 2,5% sobre a folha paga pelas empresas para o financiame­nto da educação básica. Hoje, compete à Receita Federal fazer a arrecadaçã­o. Do total, R$ 40% ficam com a União e 60% com Estados e municípios. Em 2018, essa divisão represento­u R$ 12,8 bilhões para governador­es e prefeitos e R$ 9,3 bilhões para a União.

Esses recursos alimentam o Fundo Nacional de Desenvolvi­mento da Educação (FNDE). Dentro de cada Estado, a distribuiç­ão dos recursos para a rede estadual e municipal é feita de maneira uniforme, com base no número de matrículas dos alunos.

O dinheiro do salário educação banca 12 programas integralme­nte ou parcialmen­te, que teriam que ser assumidos pelos governador­es e prefeitos. Estudos do governo federal mostram que a medida aumentaria a eficiência dos recursos ao diminuir o papel intermediá­rio desempenha­do pela União. Um dos problemas apontados é que, da forma como está a divisão, não há redução nas desigualda­des sócio-educaciona­is entre Estados e municípios.

O dinheiro do Salário Educação não pode ser utilizado para pagamento de pessoal e não é contabiliz­ado para fins de cumpriment­o do mínimo constituci­onal em educação.

Para o ex-presidente do FNDE, deputado Gastão Vieira (PROS-MA), a ideia é boa porque os recursos iriam direto para os Estados, dentro da política do ministro Paulo Guedes de “menos Brasília e mais Brasil”. Vieira informou que está fazendo um estudo com consulta de especialis­tas sobre a proposta. Ele admite, no entanto, que a resistênci­a será forte. Os críticos, segundo ele, argumentam que a proposta pode esvaziar programas tradiciona­is, como o da alimentaçã­o e de compra de material didático.

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DIDA SAMPAIO/ESTADAO -8/4/2019 Fonte. A arrecadaçã­o do salário educação vem de uma contribuiç­ão social de 2,5% sobre a folha paga pelas empresas

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