O Estado de S. Paulo

Bolsonaro e Moro dividem aliados

Rusgas entre presidente e ministro da Justiça colocam representa­ntes da base de apoio ao governo no Congresso em lados distintos

- Mariana Haubert Breno Pires Daniel Weterman / BRASÍLIA

As desavenças entre o presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Justiça, Sérgio Moro, dividiram os aliados do governo no Congresso em dois grupos. De um lado, os “moristas” querem que o ministro enfrente a interferên­cia de Bolsonaro e, se não conseguir carta-branca, entregue o posto. Do outro, “bolsonaris­tas” minimizam a tensão, defendem em público a manutenção de Moro e pegam carona na popularida­de dele, mas não o consideram insubstitu­ível.

“O que queremos é governabil­idade. Se for preciso, e se houver algum tipo de ação que necessite blindar Moro no Parlamento, faremos isso. Ninguém é insubstitu­ível, mas acredito que isso não passa pela cabeça do ministro”, afirmou o deputado Marco Feliciano (PodemosSP). “O presidente tem demonstrad­o o desejo de ter Moro a seu lado num projeto político de longo prazo. Agora, se chegar outro ministro com trabalho bom, em 60 dias se esquece do outro”, disse o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE).

Nos últimos dias, aumentaram no Congresso os rumores de que Moro estaria disposto a abrir mão do cargo, caso Bolsonaro continue a medir forças com ele, como tem feito ao exigir mudanças na Polícia Federal. Mesmo deputados e senadores que não veem esse movimento admitem um processo de “fritura” do titular da Justiça comandado pelo presidente.

A divisão entre “moristas” e bolsonaris­tas virou disputa por comissões do Congresso. No último dia 28, por exemplo, uma articulaçã­o de última hora pôs o senador Zequinha Marinho (PSC-PA) no comando da Comissão Mista Permanente de Mudanças Climáticas, que agora vai focar nos debates relacionad­os às queimadas na Amazônia. Zequinha é ligado a Bolsonaro. Durante a instalação da comissão, ele defendeu a regulariza­ção fundiária na região atingida pelos incêndios. “Não se pense que lá (Amazônia) é apenas um santuário, não. A Amazônia tem mais de 20 milhões de habitantes”, afirmou o senador.

Havia um acordo entre líderes de partidos para que o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), próximo a Moro, fosse o presidente da comissão. O Planalto não gostou da indicação e o acordo foi quebrado.

Para o grupo “morista”, o exjuiz da Lava Jato deve estabelece­r condições para permanecer no cargo. Uma delas seria a autonomia para manter quadros técnicos na PF e o diretor-geral da corporação, Maurício Valeixo. Em conversas recentes, Moro foi aconselhad­o por senadores a impor suas exigências a Bolsonaro, para não perder autoridade. “Você não pode se apequenar” e “Se perder o poder de indicação na Polícia Federal, você está morto”, ouviu o ministro de parlamenta­res.

“Não vejo motivos para a substituiç­ão na PF. O trabalho vem sendo exemplar e está no início. Qualquer alteração não será pelos melhores motivos”, afirmou o senador Alessandro Vieira, que foi diretorger­al da Polícia Civil em Sergipe, entre 2016 e 2017.

Cobrança. A ala próxima de Moro também cobra dele uma posição firme em relação às interferên­cias do presidente na Receita Federal e no Coaf. Há, entre os “moristas”, os que pedem ao ministro para tirar dividendos da crise e pedir demissão “ao vivo”, durante entrevista. Na avaliação desse núcleo, que votou em Bolsonaro, mas se diz decepciona­do com ele, o presidente deixou de priorizar o combate à corrupção e as ações de segurança pública – suas principais bandeiras de campanha – ao escantear Moro.

O secretário de Segurança do Distrito Federal, Anderson Gustavo Torres, cotado para substituir Valeixo, virou alvo. “É um absurdo essa fritura em cima do Moro. Está na cara que o presidente acabou não priorizand­o a segurança pública”, disse o senador Marcio Bittar (MDB-AC).

O senador Major Olimpio (PSL-SP) admitiu ser necessária a conciliaçã­o entre os grupos, e observou que Moro precisa receber apoio. “Sérgio Moro deve ser tratado com toda distinção pela capacidade e credibilid­ade que ele tem para o mundo e os brasileiro­s porque ele só soma ao governo”, afirmou o líder do PSL no Senado.

Moro tem se esforçado para se aproximar de parlamenta­res. Recentemen­te, participou de jantares na casa de senadores, como Marcos Do Val (Podemos-ES) e Lucas Barreto (PSDAP). Para aliados, uma das maneiras de evitar maior desgaste é barrar requerimen­tos para o ministro comparecer ao Congresso. Na semana passada, houve pedido para Moro explicar os cortes no orçamento da Justiça. Protocolad­o na Comissão de Segurança Pública, presidida pelo deputado aliado Capitão Augusto (PL-SP), o requerimen­to não deve ser pautado.

Relator do pacote anticrime de Moro na Câmara, Capitão Augusto disse que o ministro tem um projeto para o País “muito maior que seu orgulho”. “A oposição torce para que ele saia, mas não há nenhuma chance de isso acontecer”, afirmou. Para ele, a saída de Moro formaria um “vácuo muito grande” no governo porque o ex-juiz é “o ministro mais importante para a sustentaçã­o de Bolsonaro”.

“Moro deve ser tratado com toda distinção pela capacidade e credibilid­ade que tem para o mundo e os brasileiro­s.” Major Olimpio

SENADOR (PSL-SP)

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MARCOS OLIVEIRA /AGENCIA SENADO-6/7/2019 Divergênci­as. Após quebra de acordo, senador Zequinha Marinho vai comandar comissão sobre mudanças climáticas
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