O Estado de S. Paulo

Cadê o emprego?

- ADRIANA FERNANDES E-MAIL: ADRIANA.FERNANDES@ESTADAO.COM ADRIANA FERNANDES ESCREVE AOS SÁBADOS É JORNALISTA

Oministro da Economia, Paulo Guedes, deu um banho de água fria em quem esperava para logo o lançamento do pacote de medidas para combater o desemprego. No Rio de Janeiro, Guedes declarou ontem que o pacote de incentivos para o emprego “é bem para frente”.

As medidas em estudo já foram apresentad­as para a Casa Civil e um grupo de empresário­s e banqueiros. O que se contava agora era que o ministro desse sinal verde para acioná-las imediatame­nte diante da crise estrutural de emprego no Brasil.

Ainda falta trabalho no País para 28,10 milhões de pessoas. O total de trabalhado­res informais alcançou o patamar recorde de 38,683 milhões

em agosto, o equivalent­e a mais de 40% da população ocupada.

Diante da demora anunciada, ficam algumas perguntas no ar: Guedes não gostou das propostas que seus auxiliares desenharam? Tem dúvida da hora certa de fazer o lançamento? O ministro está titubeando? Por que esperar mais para botar o bloco na rua?

Há um evidente descompass­o não resolvido na cabeça do ministro sobre o alcance das medidas para o emprego, algumas mais liberaliza­ntes do que as outras e de difícil implementa­ção.

Mas está cada vez mais claro que o que retarda a decisão do ministro é a dúvida sobre como fazer a desoneraçã­o da folha de pagamentos das empresas – promessa da campanha eleitoral.

O caminho via compensaçã­o da desoneraçã­o com a criação de novo imposto na reforma tributária, nos moldes da extinta CPMF, traz riscos fiscais e tem rejeição do Congresso e da sociedade. Outro obstáculo a ser vencido é a rejeição do presidente Bolsonaro à recriação da CPMF.

Guedes não pode politicame­nte apresentar uma proposta de reforma tributária, com a nova CPMF, que já chegaria ao Congresso derrotada. Só vai levar adiante, se tiver chance real de ser aprovada. Ainda não tem. Por isso, a demora para enviar o projeto de reforma tributária.

O ministro, que tem medo de perder arrecadaçã­o com a desoneraçã­o, pode optar antes em abrir o caminho de forma mais gradual. Uma das propostas apresentad­as a ele é desobrigar as empresas de pagarem impostos sobre a folha de pagamento na contrataçã­o de jovens e pessoas que estão sem carteira assinada há mais de dois anos. A proposta é que a desoneraçã­o seja bancada com recursos do Sistema S. Um passo inicial que está no leque de medidas para estimular o emprego.

Da transição de governo até agora, já se passaram mais de dez meses. Já deu tempo para o governo elaborar um plano de ação. Nada nesse momento pode ser mais importante e urgente do que o enfrentame­nto do que o pontual do problema do desemprego.

A reforma da Previdênci­a, apontada como essencial para a recuperaçã­o da economia, já está próxima de ser aprovada. A promessa da equipe econômica era de que logo após a aprovação na Câmara as medidas para estimular retomada seriam acionadas. O que se viu até agora é a área econômica enrolada até o pescoço com os problemas de gestão do Orçamento e a negociação das mudanças das regras fiscais.

Os gatilhos são os mecanismos que permitem ao governo reduzir despesas obrigatóri­as, entre os quais suspender aumentos salariais dos servidores, conceder benefícios e dar reajustes de despesas acima da inflação, inclusive do salário mínimo.

A coluna já havia apontado que boa parte da agenda econômica do segundo semestre seria voltada a arrumar soluções para bloqueio forte de quase R$ 34 bilhões esse ano, que promove um quase “apagão” da máquina esse ano.

Para 2020, o problema é maior ainda com projeto de Orçamento apertado por conta das restrições impostas do teto de gasto. Ele pode não ser cumprido no ano que vem e abriu uma pressão dentro do governo para sua flexibiliz­ação.

Bolsonaro apoiou inicialmen­te a mudança do teto, posição que foi revista após conversa com Guedes. Depois do vaivém, o que se viu de verdade são os sinais de impaciênci­a do presidente com a falta de recursos e a demora da equipe econômica em apresentar soluções.

O presidente e seus aliados mais próximos estão angustiado­s com a demora da retomada do emprego. Os desdobrame­ntos dessa angústia crescente na agenda da equipe econômica, por ora, são uma incógnita.

Há um descompass­o na cabeça de Guedes sobre o alcance das medidas para o emprego

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