O Estado de S. Paulo

Weintraub esteve em reuniões que definem Orçamento

Mal-estar com a participaç­ão do ministro veio à tona após Educação, ministério sob sua gestão, obter R$ 5 bilhões a mais em recursos

- Adriana Fernandes Idiana Tomazelli / BRASÍLIA

O ministro da Educação, Abraham Weintraub, garantiu lugar privilegia­do nos momentos decisivos da divisão do bolo de recursos do Orçamento de 2020. Nas reuniões finais da Junta de Execução Orçamentár­ia (JEO) para bater o martelo sobre o projeto de Lei Orçamentár­ia do ano que vem, Weintraub participou como convidado e pôde fazer uma pressão corpo a corpo por mais dinheiro, segundo apurou o ‘Estadão/Broadcast’ com três fontes do governo.

No comando de uma das pastas mais importante­s da Esplanada, o ministro da Educação conseguiu aumentar em R$ 5 bilhões os recursos previstos no Orçamento, enquanto outros colegas sofreram perdas maiores, como as pastas de Infraestru­tura, Desenvolvi­mento Regional (que administra o programa Minha Casa, Minha Vida), Mulheres e Meio Ambiente.

Como mostrou o Estadão/Broadcast, Weintraub – assim como outros ministros do governo – estava muito insatisfei­to com a dotação orçamentár­ia preliminar dada pela equipe econômica para a elaboração da peça orçamentár­ia. Ex-secretário executivo da Casa Civil e integrante da equipe de Bolsonaro desde a campanha, ele chegou a enviar um ofício ao Ministério da Economia pedindo aumento de R$ 9,8 bilhões nas verbas previstas em despesas discricion­árias.

No momento do ofício, a proposta orçamentár­ia teria R$ 16 bilhões para as despesas discricion­árias da Educação. O texto final, no entanto, ficou com R$ 5 bilhões a mais. Houve ampliação também do orçamento para a Justiça, mas em menor nível: R$ 500 mil.

A maioria dos ministros está inconforma­da com a restrição de recursos para o segundo ano de governo, quando se esperava que haveria mais espaço para aplicar em novos programas. Um dos mais inconforma­dos é o ministro de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicaçõ­es, Marcos Pontes, que ficou sem dinheiro para novas bolsas em 2020. Ao Estadão/Broadcast, Pontes disse que não participou de nenhuma JEO e sequer foi convidado para uma apresentaç­ão no colegiado.

Permissão. A Junta de Execução Orçamentár­ia é formada pelos ministros da Economia, Paulo Guedes, e da Casa Civil, Onyx Lorenzoni. O colegiado é o responsáve­l por tomar as decisões sobre o Orçamento. O funcioname­nto da JEO é regulado por decreto, que foi reeditado em junho deste ano. A nova versão passou a permitir de forma explícita que representa­ntes de outros órgãos da administra­ção pública sejam convidados para a reunião do colegiado, desde que a convite do coordenado­r da JEO – que é o ministro da Economia. Antes, não havia essa previsão formal no decreto.

A participaç­ão de pessoas de fora na JEO tem causado incômodo na área econômica. Em ofício de 16 de julho de 2019 obtido pelo Estadão/Broadcast, o secretário de Orçamento Federal, George Soares, solicitou ao secretário executivo do Ministério da Economia, Marcelo Guaranys, “parcimônia” quanto aos convites. Soares, que integra a comissão técnica da junta, ressaltou que os valores discutidos e as decisões tomadas possuem “alto grau de sensibilid­ade”. O ofício tratava de uma convocação da JEO para deliberar sobre os cortes no Orçamento deste ano e sobre a preparação do Orçamento de 2020.

A reportagem questionou por três dias seguidos a Casa Civil e o Ministério da Educação sobre o motivo da participaç­ão de Weintraub nas reuniões da JEO, se isso influencio­u na decisão de dar mais recursos ao MEC em 2020 e se outros ministros foram convidados para uma exposição ao colegiado que decide sobre o Orçamento. Não houve resposta.

A realização da JEO antes da decisão sobre cortes no Orçamento ou da elaboração de propostas orçamentár­ias é importante para delimitar a responsabi­lidade de cada definição sobre os recursos federais. No passado, a JEO existia apenas informalme­nte e não era possível rastrear quem tinha tomado alguma decisão.

Todas as discussões e decisões nas reuniões da JEO são registrada­s em ata, que não são públicas. O Estadão/Broadcast solicitou, por meio da Lei de Acesso à Informação, em 22 de maio as atas das reuniões realizadas até então. Em 7 de junho, o Ministério da Economia informou que o governo classifico­u as atas como documentos de caráter “reservado”, o que impõe um sigilo por um período de cinco anos.

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DIDA SAMPAIO/ESTADÃO - 9/4/2019 Educação. Pasta de Weintraub ficou com R$ 21 bi em 2020

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