IPCA desacelera para 0,11% em agosto
Inflação oficial em 12 meses vai a 3,43% e cenário benigno, como dizem economistas, pode levar taxa básica de juros para abaixo de 5%
A inflação oficial no País desacelerou para 0,11% em agosto, segundo dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A conta de luz
voltou a pesar no orçamento das famílias, mas os gastos foram menores com alimentos, transportes e saúde.
Embora não tenha surpreendido, o cenário inflacionário benigno já faz alguns economistas apostarem que a taxa básica de juros, a Selic, desça abaixo de 5% ainda este ano, a despeito das turbulências no cenário externo. O economista-chefe da MZK Investimentos, Luis Fernando Azevedo, espera que a taxa de juros encerre 2019 em 4,75% ao ano, com dois cortes de 0,50 ponto porcentual – em setembro e outubro – e um ajuste final de 0,25 ponto em dezembro. “O dólar subiu muito, mas agora está voltando aos poucos”, lembrou Azevedo.
Já o economista André Braz, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) no Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), acredita que a alta recente do dólar – hoje na casa dos R$4,10 – ainda deve ser sentida na inflação dos próximos meses, especialmente por meio dos preços dos combustíveis, mais sensíveis ao câmbio. “Não vai ser nada, no entanto, que nos tire da meta de inflação ou que interrompa o espaço que existe hoje para queda de juros”, ponderou Braz.
A taxa de inflação acumulada em 12 meses pelo IPCA foi de 3,43% em agosto, um “patamar confortável”, segundo Pedro Kislanov da Costa, gerente do Sistema Nacional de Índices de Preços do IBGE.
A principal pressão no mês de agosto foi da tarifa de energia elétrica, com alta de 3,85%, após já ter aumentado 4,48% em julho. A bandeira tarifária mudou de amarela em julho, onerando as contas de luz em R$ 1,50 a cada 100 quilowatts-hora consumidos, para a bandeira vermelha patamar 1 em agosto, com cobrança adicional de R$ 4,00 para cada 100 quilowatts-hora consumidos.
Na direção contrária, os gastos com alimentação e bebidas recuaram 0,35% em agosto. As famílias pagaram menos por tomate, hortaliças e verduras, batata-inglesa e carnes. Passado o período de férias, as passagens aéreas também aliviaram o orçamento em agosto, com redução de 15,66% nas tarifas. Os combustíveis tiveram ligeira alta: a gasolina e o óleo diesel ficaram mais baratos, mas o etanol subiu 2,30%.
Por ora, ainda não há sinal de eventual ameaça de pressão de demanda sobre a inflação oficial no País, avaliou Pedro Kislanov.
“O que a gente nota é que o consumo das famílias tem tido crescimento lento, gradual. A taxa de desocupação caiu, mas essa criação de empregos tem se dado, principalmente, pela informalidade, que normalmente paga salários mais baixos. A massa de salários esta estável. Então é difícil a gente pensar em inflação de demanda com essa recuperação lenta ainda, gradual, e baseada na informalidade”, justificou o gerente do IBGE.
A inflação para 2019 está praticamente dada: preços comportados e abaixo da meta de 4,25%, afirmou André Braz.
“O número de agosto é um reflexo de duas coisas: tem uma economia que não estimula o consumo e isso faz com que alguns produtos acabem avançando menos de preço. As famílias ainda estão na fase de pagamento de dívidas, para depois conseguirem comprar bens novos. Mesmo com estímulos como o novo saque do fundo de garantia, o consumidor agora está dando prioridade ao pagamento de contas atrasadas, para sair dos juros altos”, concluiu Braz./
“(a alta do dólar) Não vai ser nada, no entanto, que nos tire da meta de inflação ou que interrompa o espaço que existe hoje para queda de juros.” André Braz
COORDENADO
R DO IPC DA
FGV