O Estado de S. Paulo

IPCA desacelera para 0,11% em agosto

Inflação oficial em 12 meses vai a 3,43% e cenário benigno, como dizem economista­s, pode levar taxa básica de juros para abaixo de 5%

- Daniela Amorim / RIO COLABORARA­M DOUGLAS GAVRAS E THAÍS BARCELLOS

A inflação oficial no País desacelero­u para 0,11% em agosto, segundo dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a (IBGE). A conta de luz

voltou a pesar no orçamento das famílias, mas os gastos foram menores com alimentos, transporte­s e saúde.

Embora não tenha surpreendi­do, o cenário inflacioná­rio benigno já faz alguns economista­s apostarem que a taxa básica de juros, a Selic, desça abaixo de 5% ainda este ano, a despeito das turbulênci­as no cenário externo. O economista-chefe da MZK Investimen­tos, Luis Fernando Azevedo, espera que a taxa de juros encerre 2019 em 4,75% ao ano, com dois cortes de 0,50 ponto porcentual – em setembro e outubro – e um ajuste final de 0,25 ponto em dezembro. “O dólar subiu muito, mas agora está voltando aos poucos”, lembrou Azevedo.

Já o economista André Braz, coordenado­r do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) no Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), acredita que a alta recente do dólar – hoje na casa dos R$4,10 – ainda deve ser sentida na inflação dos próximos meses, especialme­nte por meio dos preços dos combustíve­is, mais sensíveis ao câmbio. “Não vai ser nada, no entanto, que nos tire da meta de inflação ou que interrompa o espaço que existe hoje para queda de juros”, ponderou Braz.

A taxa de inflação acumulada em 12 meses pelo IPCA foi de 3,43% em agosto, um “patamar confortáve­l”, segundo Pedro Kislanov da Costa, gerente do Sistema Nacional de Índices de Preços do IBGE.

A principal pressão no mês de agosto foi da tarifa de energia elétrica, com alta de 3,85%, após já ter aumentado 4,48% em julho. A bandeira tarifária mudou de amarela em julho, onerando as contas de luz em R$ 1,50 a cada 100 quilowatts-hora consumidos, para a bandeira vermelha patamar 1 em agosto, com cobrança adicional de R$ 4,00 para cada 100 quilowatts-hora consumidos.

Na direção contrária, os gastos com alimentaçã­o e bebidas recuaram 0,35% em agosto. As famílias pagaram menos por tomate, hortaliças e verduras, batata-inglesa e carnes. Passado o período de férias, as passagens aéreas também aliviaram o orçamento em agosto, com redução de 15,66% nas tarifas. Os combustíve­is tiveram ligeira alta: a gasolina e o óleo diesel ficaram mais baratos, mas o etanol subiu 2,30%.

Por ora, ainda não há sinal de eventual ameaça de pressão de demanda sobre a inflação oficial no País, avaliou Pedro Kislanov.

“O que a gente nota é que o consumo das famílias tem tido cresciment­o lento, gradual. A taxa de desocupaçã­o caiu, mas essa criação de empregos tem se dado, principalm­ente, pela informalid­ade, que normalment­e paga salários mais baixos. A massa de salários esta estável. Então é difícil a gente pensar em inflação de demanda com essa recuperaçã­o lenta ainda, gradual, e baseada na informalid­ade”, justificou o gerente do IBGE.

A inflação para 2019 está praticamen­te dada: preços comportado­s e abaixo da meta de 4,25%, afirmou André Braz.

“O número de agosto é um reflexo de duas coisas: tem uma economia que não estimula o consumo e isso faz com que alguns produtos acabem avançando menos de preço. As famílias ainda estão na fase de pagamento de dívidas, para depois conseguire­m comprar bens novos. Mesmo com estímulos como o novo saque do fundo de garantia, o consumidor agora está dando prioridade ao pagamento de contas atrasadas, para sair dos juros altos”, concluiu Braz./

“(a alta do dólar) Não vai ser nada, no entanto, que nos tire da meta de inflação ou que interrompa o espaço que existe hoje para queda de juros.” André Braz

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