O Estado de S. Paulo

Bradesco reduz projeção do PIB para 1,9% em 2020

Para economista-chefe do banco, revisão da atividade econômica tem ‘100% a ver’ com cenário externo: instituiçã­o corta previsão para Selic

- Francisco Carlos de Assis Altamiro Silva Junior

O Bradesco manteve a projeção de cresciment­o do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil em 0,8% este ano e reduziu a estimativa para 2020, de 2,2% para 1,9%. A revisão do PIB tem “100% a ver” com o cenário externo, que está ficando mais desafiador, afirmou o economista-chefe do Bradesco, Fernando Honorato Barbosa.

Barbosa avalia que a Argentina vai seguir com a economia complicada e será um fator negativo para a atividade do Brasil nos próximos dois anos. “A Argentina não vai ajudar o Brasil a crescer.”

A previsão do banco é de contração de 1% do Produto Interno Bruto (PIB) do país vizinho, ante cresciment­o estável previsto anteriorme­nte. A volta ao cresciment­o positivo vai depender da agenda de medidas do próximo presidente, disse ontem o economista a jornalista­s.

Para a relação entre Estados Unidos e China, a avaliação do Bradesco é que o quadro de maior tensão pode ser mais permanente do que temporário, pois não se limita à questão comercial. “A China está disposta a repensar seu modelo, mas no ritmo dela”, disse a economista do Bradesco, Fabiana D’Atri. “A guerra comercial entre EUA e China vai muito além de discussão sobre tarifas.”

“A China vai se manter forte nas negociaçõe­s”, afirmou ela, destacando que Pequim concordou em se reunir com os EUA em outubro, mas ao mesmo tempo recorreu à Organizaçã­o Mundial do Comércio (OMC). “A China tem em mente que a discussão com os EUA é de longa data e envolve transferên­cia tecnológic­a.”

A previsão do Bradesco é de desacelera­ção da economia chinesa, que deve crescer 5,8% em 2020 e há cenários de que esse número pode convergir para perto de 5% mais à frente. Uma desacelera­ção da expansão chinesa tem impacto importante para toda a economia mundial, disse ela.

O Bradesco reduziu também a previsão para a taxa básica de juros, a Selic, de 5% para 4,75% este ano, nível que deve ser mantido até o fim de 2020. “Se a economia não cresce e com inflação estando abaixo da meta, não há por que não reduzir juro, disse Barbosa.

No câmbio, a expectativ­a é de dólar mais forte este ano, com estimativa subindo de R$ 3,80 para R$ 4,00. Para 2020, a estimativa foi mantida em R$ 3,80.

Investimen­tos. Barbosa disse que a variável que falta para investidor­es estrangeir­os entrarem no País é um maior cresciment­o da economia. “O Brasil não tem PIB para mostrar ao investidor estrangeir­o”, afirmou. O economista explicou que o Brasil perdeu ao redor de US$ 50 bilhões nos últimos meses de recursos externos. Uma das explicaçõe­s é que muitas empresas passaram a trocar dívida externa por dívida em real, por conta dos custos atrativos de captar recursos no mercado de capitais brasileiro. Outro fator é a redução do diferencia­l de juros entre o Brasil e os mercados desenvolvi­dos. Um terceiro fator que ainda pesa é o fato de o Brasil não ser mais classifica­do como grau de investimen­to.

Perguntado sobre os juros altos no crédito bancário, o economista disse que modalidade­s como cartão de crédito e cheque especial têm taxas elevadas porque são modalidade­s sem garantia. “Quem recorre ao cartão e ao cheque especial é porque teve problemas financeiro­s”, disse.

Honorato ressaltou que não há barreira de entrada a bancos estrangeir­os no País, embora a legislação do setor seja complexa. Uma das evidências de que não é que o Brasil já atraiu uma série de bancos de fora, que ficaram ou não no País dependendo de suas estratégia­s. “Não será a maior concentraç­ão bancária que vai impedir os juros de caírem”, afirmou.

“O potencial para crescer crédito no Brasil nos próximos anos é enorme se mantivermo­s os juros baixos”, disse, ressaltand­o que o País passa por uma transição de política econômica, com ajuste fiscal e setor privado ganhando maior protagonis­mo.

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JF DIORIO/ESTADÃO-14/5/2019 PIB. Barbosa vê volta do investidor só com cresciment­o

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