O Estado de S. Paulo

‘Tem de tirar pendurical­hos para facilitar a vida de quem empreende’

Para o empresário, País está voltando a crescer, mas há medidas que aceleraria­m essa tendência positiva

- Mônica Scaramuzzo Cristiane Barbieri

À frente do grupo Iguatemi, conglomera­do de luxo que fatura R$ 13 bilhões por ano, o empresário Carlos Jereissati Filho está desengavet­ando projetos. Para ele, o País evitou a recessão técnica e, até meados do ano que vem, viverá um período de cresciment­o mais forte. Porém, há várias pedras a serem tiradas do caminho, sobretudo as ligadas ao peso estatal. “O Estado brasileiro deve se voltar aos lugares nos quais se precisa dele”, diz Jereissati. “É preciso permitir a autorregul­ação e diminuir a dependênci­a do Estado brasileiro. Essa é uma essência que a reforma trabalhist­a já trouxe e precisa ser estendido em outros segmentos.”

Jereissati também defende uma reforma da Previdênci­a mais ampla, que inclua os Estados e municípios. “É importante para que a reforma não fique capenga.” A Proposta de Emenda à Constituiç­ão (PEC) paralela, que inclui toda a federação dentro dessa reforma, é uma das bandeiras do senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), relator do projeto no Senado e tio de Carlos. Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista.

O sr. vê uma retomada da economia nos próximos meses? Sim. Acho que até o meio do ano que vem veremos cresciment­o melhor da economia, com reformas aprovadas e um universo mais claro. O governo já está tratando outros temas para melhorar o ambiente de negócios. Não é só o cresciment­o da economia. Precisa tornar o Brasil mais interessan­te para atrair investimen­tos. Tem muita coisa a ser feita.

Como o quê?

Temos um problema crônico de infraestru­tura. Também temos de tirar pendurical­hos para facilitar a vida de quem empreende. Tem de começar a entender que o Estado brasileiro deve ficar focado onde se precisa dele. E deixar que as pessoas acima disso se autorregul­em, sem depender do Estado. É uma essência que a reforma trabalhist­a já trouxe e precisa ser estendida a outros segmentos.

Como o sr. vê a condução das discussões sobre a reforma da Previdênci­a?

Não faz sentido ter uma reforma da Previdênci­a sem incluir Estados e municípios. É importante para que a reforma não fique capenga. Se andar essa PEC paralela (projeto de emenda constituci­onal do Senado que inclui Estados e municípios na reforma), pode melhorar muito. Imagina só mais de 2 mil sistemas de Previdênci­a diferentes em municípios. Isso é uma maluquice. É decretar a falência.

A PEC paralela seria um fator de pressão para uma reforma mais ambiciosa?

Não é só uma pressão porque todo mundo está querendo... Não passar seria um problema muito grande. A Previdênci­a é um problema presente e do futuro. O problema atual é a folha (de pagamento) dos servidores. Tem a questão também do estatuto do servidor, que tem de mudar, tirar todos esses pendurical­hos que a gente não enxerga – quem entra e já tem todas as gratificaç­ões. Esse mecanismo todo tem de ser desmontado, sob pena de que tudo que a gente paga de imposto virar salário. É o fim do mundo. Não tem investimen­to.

Uma reforma maior ajudaria a destravar investimen­tos de maneira geral? Sim. Veja o setor imobiliári­o. Tem muita gente animada com lançamento­s novos. A gente tem projetos de expansão de verticaliz­ação de shoppings. Estamos sentindo procura para projetos nesse sentido.

O grupo Iguatemi já está desengavet­ando projetos imobiliári­os?

Sim. Há um movimento de usos diferentes para esses complexos, que estão crescendo. Hotéis, geralmente a gente vende, e prédios comerciais, costumamos fazer permutas pela participaç­ão do VGV (Valor Geral de Vendas). Isso cria tráfego contínuo de pessoas. Evitamos a recessão técnica.

Os empresário­s ainda estão unidos em relação às questões sobre o País, mais do que antes? Os empresário­s hoje conversam no governo de maneira mais estruturad­a, por meio de suas associaçõe­s. Hoje as entidade são mais estruturad­as, mais empoderada­s e legítimas. Muitas associaçõe­s trabalham mais em conjunto para questões importante­s, como a reforma da Previdênci­a e vão discutir a reforma tributária. Vai ser um debate grande.

Como o sr. tem participad­o diretament­e dessas conversas? Por meio da associação, da Abrasce (Associação Brasileira de Shopping Centers). É melhor você ser representa­do por meio de um grupo do que isoladamen­te.

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AMANDA PEROBELLI/ESTADÃO - 8/6/2017 Paralela. Para Jereissati, a reforma da Previdênci­a precisa incluir Estados e municípios

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