Balanço da Bienal do Rio
Polêmica ajudou a promover literatura LGBT no evento
A Bienal do Livro do Rio de Janeiro reuniu, entre os dias 30 de agosto e 8 de setembro, 600 mil pessoas no Riocentro. Se por um lado o número de visitantes vem diminuindo nos últimos anos – foram 680 mil em 2017 e 677 mil em 2015 –, a venda de livros foi comemorada por editores e organizadores. Estima-se que tenham sido vendidos 4 milhões de exemplares – dos 5,5 milhões disponíveis – durante a Bienal.
O último sábado foi o dia mais cheio, quando a Bienal registrou 100 mil visitantes. Era feriado, mas foi também o dia em que o youtuber Felipe Neto distribuiu cerca de 14 mil livros LGBT, numa resposta à polêmica iniciada na quinta-feira, quando o prefeito Marcelo Crivella emitiu uma notificação exigindo que a Bienal protegesse as edições da HQ Vingadores – A Cruzada das Crianças, que trazia um casal gay. Foi uma reação de Neto às inspeções dos fiscais da prefeitura do Rio, que foram à feira em busca de “conteúdo impróprio”, e às tentativas de barrar a venda de livros LGBT, e um gesto em defesa da garantia da livre circulação de ideias na feira do livro.
Também em resposta à tentativa de recolher ou esconder os livros com o que o prefeito chamou de “conteúdo impróprio”, as editoras apresentaram seus livros LGBT com mais destaque nos últimos dias da feira no Riocentro, quando os visitantes também se manifestaram dentro do pavilhão.
Para contextualizar: em 2017, o evento teve um dia a mais, e o 7 de setembro caiu numa sextafeira, o que aumentou o número de visitantes. A feira esperava receber, este ano, 600 mil, o que resulta na mesma média da edição anterior.
Na coletiva de encerramento, escritores divulgaram um manifesto contra “as insistentes tentativas de censura”, em que defendiam que o ataque de Crivella não era direcionado à Bienal do Livro, mas aos brasileiros. “Não precisamos ter quem determine o que podemos ler, pensar, escrever, falar ou como devemos nos relacionar”, diz o documento assinado, até domingo, por cerca de 70 autores.
Foi uma boa Bienal para a Planeta, que registrou aumento de 73% no faturamento, em comparação à edição passada. A Companhia das Letras, de 30%. E a Record, de 10% no geral e 75% no sábado, em comparação com o segundo sábado da Bienal passada. Também no sábado, segundo a editora, a venda dos livros LGBTQI triplicou em relação à média dos dias anteriores desta edição da Bienal, com destaque para autores como David Levithan, Luisa Marilac, Lucas Rocha e Tobias Carvalho.
Já a Intrínseca, que teve crescimento nulo em 2017, cresceu 18% agora – e obras como Boy Erased, sobre a “cura gay”, esgotaram no estande.
Dos 15.438 exemplares vendidos pela Faro, 2.796 tinham a temática LGBTQI. Muitos deles esgotaram, como Homem de Lata, de Sarah Winman; 1+1: A Matemática do Amor, O Garoto Quase Atropelado e Feitos de Sol, os três de Vinicius Grossos; e Rumo ao Sul, de Silas House.
O crescimento de venda geral nos estandes das editoras se justifica, também, porque a Livraria Saraiva, às voltas com sua crise e com a recuperação judicial, não esteve na Bienal este ano e o público foi procurar os livros nas próprias editoras.
Em 10 dias de feira, mais de 300 autores nacionais e estrangeiros, incluindo artistas, acadêmicos, filósofos, cientistas, lideranças religiosas e de movimentos sociais, ativistas e youtubers, se revezaram pelos palcos da Bienal – sem contar a programação feita pelas editoras em seus estandes.