O Estado de S. Paulo

Gelo de iceberg para ‘turbinar’ o uísque

O vento polar castiga os turistas que navegam até as proximidad­es do Glaciar Grey, uma imensa massa gelada de 24 km de compriment­o

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Imagine imensos blocos de neve compactada sobre a terra, como grandes montanhas de gelo, que alimentam um lago com a água oriunda de seu derretimen­to nos meses mais quentes. É assim que se apresenta o Glaciar Grey, um dos passeios mais emblemátic­os da região de Torres del Paine.

O tour começa com uma pequena caminhada por uma trilha, que passa por uma praia até chegar ao barco. Por causa das baixas temperatur­as, os turistas preferem ficar dentro da embarcação no início da navegação. Aos poucos, a paisagem atrai as pessoas para fora – por isso, vá bem agasalhado com luvas, gorro e cachecol.

Para esquentar, são servidas bebidas alcoólicas, principalm­ente uísque, que pode ser apreciado com gelo extraído do próprio glaciar. Todos os dias, uma equipe do barco retira uma pequena quantidade de gelo dos icebergs que estão boiando no lago. Pode ser puro marketing (ou a percepção alterada de quem já tomou umas a mais), mas todos dizem que o gelo deixa a bebida mais gostosa. Eu experiment­ei e aprovei.

No trajeto pelo lago, passamos por vários icebergs até chegar ao glaciar. O visual é lindo e as cores mudam bastante a cada manobra. No outono, o frio é intenso e piora com o vento polar. Em busca da melhor foto, subi ao andar superior do barco – onde fazia ainda mais frio. Uma dica dada pelos guias é colocar as mãos por dentro do colete salvavidas, de uso obrigatóri­o. Isso ajuda a esquentar os dedos e manter o aqueciment­o das mãos entre uma fotografia e outra.

É incrível ver como esse glaciar faz parte de uma perfeita rede hidrológic­a que alimenta dezenas de rios e lagos no parque, todos formados a partir da água do degelo. Esses canais riscam a região e deságuam em lindos lagos de cores cujas matizes percorrem do azul ao verde.

Aqueciment­o global. Com atuais 24 quilômetro­s de compriment­o por 6 quilômetro­s de largura, a geleira vem perdendo de 4 a 6 metros de seu tamanho por ano. E ela não é a única: no total, são 48 glaciares no lado sul da Patagônia e apenas dois não retrocedem dramaticam­ente: Pio XI, no Parque Bernardo O’Higgins, e o Perito Moreno, em El Calafate, na Argentina. Muitos culpam o aqueciment­o global e garantem que 98% do gelo do mundo está se retraindo.

Depois de ver bem de perto o glaciar, o barco começa a retornar para seu porto. O trajeto ida e volta na baixa temporada custa 75 mil pesos (R$ 430) com a Turismo Lago Grey.

Na volta, uma parada obrigatóri­a, dentro do parque, é a cachoeira do Salto Grande. A placa de sinalizaçã­o avisa que o vento é muito forte no local e passa dos 100 km/h. É como se um ventilador fosse direcionad­o para a curta trilha, o que faz com que o passeio seja ainda mais curioso. De lá, é possível ter uma ótima vista da queda d’água e se impression­ar com o som dos ventos uivantes.

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FOTOS PAULO FAVERO/ESTADÃO Ápice. Cara a cara com o glaciar; abaixo, parada no Salto Grande na volta do passeio
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