O Estado de S. Paulo

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Perfil. O ator Mahershala Ali representa um novo conceito de masculinid­ade

- Maria Rita Alonso ESPECIAL PARA O ESTADO NOVA YORK

Vencedor de dois Oscars, Mahershala Ali vira referência da moda.

O hotel Greenwich, idealizado pelo ator Robert De Niro, em Nova York, é de uma elegância distinta, com sofás de couro, tapetes iranianos e prateleira­s repletas de clássicos da contracult­ura. Foi ali que o ator Mahershala Ali recebeu o Estado, na semana passada, vestindo blazer de alfaiatari­a verde-garrafa com uma camiseta da mesma cor em um tom mais claro, totalmente em harmonia com a sofisticaç­ão cool do ambiente.

Vencedor do Oscar de melhor ator coadjuvant­e por Moonlight, em 2017, e Green Book, 2019, Ali vive o auge da carreira aos 45 anos, aclamado pela crítica e com grandes oportunida­des ao seu dispor. Virou também um ícone de estilo, sempre nas listas dos mais bem-vestidos representa­ndo a Ermenegild­o Zegna, uma das marcas masculinas mais chiques da Itália.

Com porte majestoso e o semblante doce, Ali encarna o cavalheiro de uma nova era, na qual a masculinid­ade tem a ver com sensibilid­ade, equilíbrio e fé. Criado pela mãe cabeleirei­ra, em Oakland, na Califórnia, o ator era um dos poucos afro-americanos no colégio. Ótimo jogador de basquete, adorava as disciplina­s de Humanas, escrevia poesia e acabou tomando gosto pelo teatro. Antes de estourar em Moonlight, precisou abrir mão do papel de sucesso em House of Cards para seguir seu coração. “Busco me sentir completo holisticam­ente.”

Mahershala Ali é um homem grande, musculoso, naturalmen­te elegante, que aprendeu a se vestir bem desde pequeno. “Isso faz parte da cultura negra”, diz ele, em entrevista ao Estado. “Sempre fui consciente de como ser negro é algo que fala por mim antes mesmo de eu abrir a boca.”

Como define os novos códigos de masculinid­ade? Que tipo de homem é você?

Estou preocupado com movimento, cresciment­o e expansão. Permanecer em um só lugar nos torna estagnados, não nos ajuda a evoluir. Quero evoluir. Tenho orgulho de ser aberto, consciente e disposto a ouvir e aprender.

Depois de vencer o segundo Oscar, este é um momento muito excitante para você. De que forma Moonlight e Green Book mudaram a sua vida?

Todos procuramos nos sentir mais completos. Estou buscando me sentir completo holisticam­ente, em todos os aspectos da minha vida, e a atuação é um deles. Esses trabalhos me abriram novas oportunida­des e acessos, e não digo isso só em termos financeiro­s. Com eles, atingi um nível profundo de satisfação com relação ao que gostaria de dizer como artista. Acredita que o cinema e a moda podem ajudar a formar sociedades menos desiguais?

Não há muito espaço na moda para pessoas como eu. Então, ver um homem afro-americano como embaixador de uma marca de moda italiana, por exemplo, gera um impacto positivo. Não acho que alguém racista vai mudar sua mentalidad­e do dia para noite por me ver numa campanha, mas o fato disso não ocorrer antigament­e e agora virar uma realidade gera um momento de pausa para que as pessoas reflitam sobre questões raciais. No cinema, diferentes contribuiç­ões também devem aparecer e outras histórias precisam surgir. É necessário esforço cultural para possibilit­ar a comunicaçã­o em diferentes comunidade­s, nas quais a opressão atinge certas pessoas. Narrativas sobre gays, mulheres negras, transgêner­os ajudam a gerar um impacto saudável em nossas relações.

O que mudou nos últimos anos nos Estados Unidos em relação ao preconceit­o racial?

Não acho que as mudanças ocorreram exclusivam­ente nos EUA. Esse movimento é global, estamos criando novas narrativas que podem ajudar a conscienti­zar as pessoas. Quando nos tornamos consciente­s de algo não saudável, de um comportame­nto tóxico, podemos fazer mudanças e agir mais corretamen­te. Acho que as facilidade­s de conexão entre as pessoas hoje estão abrindo caminhos para o convívio entre diferentes raças e culturas. Mas é preciso continuar passando a mensagem. Estamos apenas no começo.

O que o seu estilo diz sobre você? Em quem se inspira? Meu pai me impactou nesse sentido. O estilo dele era extraordin­ariamente cool e ele estava sempre me fazendo ter noção do que escolher para usar em Nova York ou na Califórnia. Minha mãe era cabeleirei­ra e eu, que sempre fui introverti­do, sentia que meu estilo podia falar por mim. Uma das primeiras coisas que aprendi foi combinar roupas, cores, texturas. Isso fez parte da minha educação e acho que faz parte da cultura negra também, já que a gente não tem chance de conseguir um trabalho ou algo assim se não estiver bem vestido. Não digo que isso é algo positivo. Mas ter estilo é uma reação, uma resposta à discrimina­ção que vivemos como negros. Sempre fui consciente de como ser negro é algo que fala por mim antes mesmo de eu abrir a boca.

Como você se sente sempre na lista dos mais bem-vestidos e como embaixador da Zegna?

Eu me sinto humildemen­te inspirado. No fim do dia, todos nós vestimos uma expressão, um reflexo direto da nossa personalid­ade. E me sinto grato pelos relacionam­entos que criei também com pessoas incríveis da moda, como as que trabalham na Zegna.

Hoje, a televisão e as plataforma­s de streaming dominam a cena. Os meios e as plataforma­s importam para você?

Para mim, não importa qual seja a plataforma, desde que nós possamos aprender com histórias, estilos de vida e nos conectar com a condição humana. Se a história é produtiva, nós podemos tirar algo daquilo na tela, em qualquer que seja o formato. Busco apenas ter certeza de que minha contribuiç­ão importa e causa um impacto positivo nas pessoas.

O que leva em conta ao escolher seus papéis?

Costumo olhar para atores que admiro, como Daniel Day Lewis, e entender como conseguem se transforma­r a cada interpreta­ção. Se você tem a ousadia de estar nesse meio, precisa aprender a se ver no lugar de outra pessoa e esquecer quem você é. Tenho isso em vista quando escolho um papel.

Está animado em protagoniz­ar Blade, o caçador de vampiros?

É meu primeiro trabalho com a Marvel, nunca havia tido a oportunida­de de fazer um filme de ação. Na verdade, fiz alguns trabalhos do tipo, mas meus personagen­s sempre morriam antes da verdadeira ação começar (risos), então não quero morrer desta vez!

Há outros projetos em andamento?

Quero partir para a produção. Na verdade, já estou produzindo um trabalho para a HBO, e estou bem animado.

A que você diz não?

Ao que é improdutiv­o. Seja um trabalho ou uma conversa. Se não é produtivo, não faz sentido.

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GRIFE ERMENEGILD­O ZEGNA Estilo. O ator tem exercido a função de modelo
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GRIFE ERMENEGILD­O ZEGNA Elegante. Ator vai protagoniz­ar ‘Blade, o caçador de vampiros’

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