O Estado de S. Paulo

Governo quer acabar com o monopólio da Caixa no FGTS

Para diretor do departamen­to do FGTS do Ministério da Economia, um país do tamanho do Brasil não pode ter um só banco na gestão do fundo; no financiame­nto imobiliári­o, em vez de subsidiar imóveis, ideia é criar seguro para ampliar total de beneficiár­ios

- Adriana Fernandes / BRASÍLIA

O Ministério da Economia quer o fim do monopólio da Caixa na gestão do FGTS e mudar a forma como são feitos os aportes no programa Minha Casa Minha Vida. A Caixa recebe 1% dos ativos para fazer a gestão do FGTS – R$ 5,1 bilhões, em 2018. Outros bancos, na avaliação do governo, poderiam cobrar menos e oferecer maior retorno.

O Ministério da Economia estuda o fim do monopólio da Caixa na gestão do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), que é uma poupança forçada feita pelos trabalhado­res, e planeja uma reformulaç­ão na forma como são feitos os aportes no programa de habitação popular Minha Casa Minha Vida.

O banco estatal, responsáve­l pela gestão do FGTS desde 1990, recebe 1% dos ativos do fundo para fazer esse trabalho. Em 2018, isso represento­u R$ 5,1 bilhões. “Não dá para um país do tamanho do Brasil contar com um banco só”, diz Igor Vilas Boas de Freitas, diretor do departamen­to do FGTS do Ministério da Economia, área criada no governo Jair Bolsonaro. Para os defensores da ideia, outros bancos poderiam cobrar menos pela administra­ção e oferecer maior retorno aos trabalhado­res com outros tipos de aplicação. Por lei, o dinheiro do FGTS só pode ser fonte para financiar as áreas de habitação, saneamento e infraestru­tura.

Para Freitas, a Caixa sempre foi um “entrave” para a modernizaç­ão do FGTS. “Os interesses da Caixa, até pela sua presença no conselho curador, eram impostos aos interesses do fundo e dos seus cotistas”, afirma.

Por ano, o FGTS destina R$ 9,6 bilhões para o Minha Casa. A ideia é que os recursos sejam usados para criar um fundo garantidor em vez de serem utilizados para dar um desconto no valor dos imóveis que são financiado­s pelo programa a juros mais baixos. Segundo Freitas, isso possibilit­aria multiplica­r por 200 o número de beneficiár­ios. Em tese, o fundo garantidor funcionari­a como um seguro para as pessoas que são barradas no financiame­nto à casa própria por não conseguire­m aprovação na análise de risco do banco.

O fundo garantidor também permitiria, segundo o diretor, baratear o custo da operação, pois os bancos contariam com uma espécie de seguro. Caso o mutuário não pague as parcelas, o fundo cobre. “O que estamos avaliando é de que forma empregar esse recurso, que já é perdido todo o ano, para a equação de sustentabi­lidade do fundo. Diminuir um pouco esse montante e não prejudicar o nível de execução”, diz.

Freitas afirma que o Minha Casa se transformo­u em um “samba de uma nota só”. “Tem um modelo único de aplicação de recursos. Com quase R$ 10 bilhões por ano de aplicação, o FGTS pode fazer mais do que faz. O fundo tem de fazer isso de uma forma eficiente e garantir que a população de baixa renda em todo o Brasil receba o recurso”, afirma.

O FGTS hoje é o grande responsáve­l pela manutenção do Minha Casa mesmo em tempos de restrição orçamentár­ia. Na faixa 1 (destinada a famílias que ganham até R$ 1,8 mil), cerca de 90% do valor do imóvel são bancados com recursos do Orçamento. O FGTS, porém, já socorreu o governo para bancar as obras dessa faixa. Em outras faixas, o fundo banca parte do subsídio.

As mudanças foram discutidas na semana passada em reunião com representa­ntes de construtor­as e incorporad­oras. “O próprio setor de construção já entendeu que o modelo faixa 1 não tem futuro. É preciso que haja outras fontes de financiame­nto e outros modelos de aplicação dos recursos que não dependam 100% do Orçamento”, afirma. A estimativa é que as mudanças sejam aprovadas até dezembro para entrarem em funcioname­nto em 2020.

FI-FGTS. O conselho curador do FGTS, órgão formado por representa­ntes do governo, de trabalhado­res e de patrões, também aprovou a reformulaç­ão do fundo de investimen­to que usa recursos do FGTS para aplicar em infraestru­tura (o FIFGTS). Um grupo de trabalho foi criado para refazer a estrutura de governança e a política de investimen­to. O fundo de investimen­to foi criado tendo como justificat­iva aumentar a rentabilid­ade do fundo para os trabalhado­res, mas foi alvo de operações da Lava Jato por suspeitas de corrupção.

“Ter investimen­tos, assumindo maior risco, para ter retorno maior é importante para o FGTS. O problema foi que as regras do FI-FGTS, a maneira pela qual foi gerenciado, é que foram ruins. Privilegia­ram o interesse da Caixa e abriram espaço para a corrupção em detrimento do resultado do FGTS”, afirma.

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GABRIELA BILO / ESTADÃO - 5/9/2019 FGTS. Caixa é ‘entrave’ para modernizaç­ão, diz Freitas

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