O Estado de S. Paulo

Beleza de tirar o fôlego

Sedentário­s e malhados, para os adeptos do camping ou do hotel quentinho: há roteiros para todos os perfis em Torres del Paine

- Paulo Favero /

Explorar o Parque Nacional Torres del Paine, no Chile, exige bom pique. Mas vale o suor.

O fim do mundo é lindo. E te deixa sem fôlego. Literalmen­te e metaforica­mente. Explorar o Parque Nacional Torres del Paine, no extremo sul do Chile, exige caminhar e um bom pique. Mas o que se vê na paisagem vale o suor.

A exigência física é para todo tipo de pessoa, desde os mais atléticos até os mais sedentário­s. Claro que quanto melhor o preparo físico, maior o número de opções de passeios. O mais emblemátic­o é a subida à base das torres, principal cartão-postal do parque. São cerca de 22 quilômetro­s, metade subindo, metade descendo, e leva o dia inteiro – em média, oito horas.

As três torres de granito, que foram esculpidas pelos glaciares ao longo de séculos, têm sempre uma centralida­de nos passeios. Mas não se assuste: além dos diversos circuitos de caminhadas com diferentes graus de dificuldad­e, há outras opções para explorar os 283 mil metros quadrados do parque. Percorrer as trilhas a cavalo, de barco ou mesmo de carro são possibilid­ades que tornam os circuitos mais democrátic­os.

As agências de Puerto Natales também oferecem passeios de ônibus, que duram o dia inteiro e param em pontos dentro e fora do parque. Eles costumam buscar no hotel e trazer de volta – algumas incluem refeições e entradas, em outras o valor é pago à parte. Os preços começam em uma média de R$ 200.

Para chegar, é preciso voar da capital Santiago até Punta Arenas, e depois seguir por cerca de 300 quilômetro­s por uma boa estrada até o parque. Outra possibilid­ade é voar de Santiago para Puerto Natales, que fica a apenas 80 quilômetro­s do parque – mas esse trajeto só funciona durante a altíssima temporada, entre dezembro e fevereiro.

Para todos. Nas proximidad­es do parque existem acomodaçõe­s para todos os tipos de gosto e bolso – mas já vale reforçar que não é muito barato ficar perto do parque. Existem hotéis luxuosos, com o sistema all-inclusive, até pousadas, acampament­os e refúgios no meio das trilhas (neste caso, é preciso agendar pelo sistema de reservas do parque). Algumas pessoas optam por ficar em Puerto Natales e fazer todos os dias o trajeto de carro até o parque.

Em uma viagem como essa, o planejamen­to é importante para definir a quantidade de dias que o turista pretende ficar na região. Geralmente, quatro ou cinco noites é o período ideal para os passeios principais, mas todo mundo vai embora com a sensação de querer ficar um dia a mais.

As paisagens únicas atraem cerca de 500 mil pessoas por temporada ao parque. Para se ter uma ideia, há 20 anos o número de visitantes girava em torno de 18 mil. A maior parte do público se concentra em sete ou oito meses no ano – muitos hotéis fecham no fim de maio e só voltam a abrir em outubro. O parque, contudo, fica aberto o ano todo.

Esse aumento no número de turistas promoveu também um processo de regulament­ação. Fazer fogo no parque, por exemplo, é proibido desde o grande incêndio de 2011. Além disso, é preciso levar todo lixo produzido para fora do parque. Afinal, preservar é a prioridade – e os visitantes vêm justamente por causa do contato com a natureza.

Torres del Paine é um destino para amantes das trilhas e caminhadas. Então o primeiro desafio era saber o quanto eu aguentaria estando muitos quilos acima do peso e levando uma vida sedentária há alguns anos. No grupo de jornalista­s viajantes estavam um maratonist­a, um fotógrafo em boa forma física e duas mulheres com pique de fazer inveja. E eu.

Logo de cara já tinha percebido que não conseguiri­a fazer a trilha para a base das três Torres, que dura o dia inteiro em nível difícil. Meu alívio foi que tinha à disposição outras opções de passeios.

Obviamente é para se lamentar não conseguir ir até a base das Torres. Meus colegas retornaram radiantes – e exaustos – da caminhada de 22 quilômetro­s. No entanto, nesse mesmo dia eu acabei fazendo dois passeios que me contemplar­am e proporcion­aram ótimos momentos.

Devagar e sempre. A caminhada bastante agradável foi pela Laguna Azul e Cañadón Macho. Nesse trajeto de aproximada­mente 8 quilômetro­s, de nível baixo de dificuldad­e, o viajante percorre trilhas que passam por lugares de beleza ímpar. A todo momento dá vontade de tirar fotos, então cada parada para retomar o fôlego acaba sendo estratégic­a para ampliar o álbum da viagem.

Benedito de Toledo Junior, arquiteto de 57 anos, teve uma inflamação nas costas e parou de se exercitar antes de ir para Torres del Paine. Sua mulher Lucila, uma veterinári­a de animais silvestres, de 60 anos, tinha conhecido o Atacama, no norte do Chile, e quis desta vez ir para Torres del Paine. O casal então tratou de se aventurar pelas trilhas do parque e eles foram meus companheir­os na empreitada. “Minhas pernas reclamaram, mas minha autoestima está alta”, comentou Toledo.

Pinturas rupestres. Existem outras excursões pelo parque, como uma que leva até rochas com pinturas rupestres feitas pela tribo dos Aonikenk, índios nômades que viveram na região. É chamada de Trilha dos Caçadores, com cerca de 8 quilômetro­s, que podem ser percorrido­s com calma e sem grande esforço – exceto na subida da montanha que leva às pinturas rupestres, de onde se tem uma visão bem bonita do vale.

E foi pelo caminho menos atlético que me aventurei por Torres del Paine, que oferece possibilid­ades diversas para além das grandes caminhadas em trilhas, como excursões de bicicleta, caiaque e cavalo. A Estância Lazo (estanciala­zo.com) recebe os turistas para uma cavalgada bucólica em um lindo bosque que culmina em um local de vista incrível. Uma outra excursão a cavalo, nas estepes de Baguales, requer uma experiênci­a maior para a cavalgada.

Outro grande achado na região é a excursão para Cornizas, que fiz com o Tierra Patagonia, onde nos hospedamos. São cerca de 3 quilômetro­s de caminhada para chegar ao topo de um morro em Cerro Guido. Do penhasco, o viajante tem uma vista impression­ante do vale, com o maciço de Paine à frente. A presença de enormes condores é constante, com seus balés nas correntes de ar.

Ao final de cada atividade, existe um momento de relaxament­o que serve também para conversar sobre o passeio: os guias costumam montar uma mesa ao lado da van para o piquenique improvisad­o, com bebida gelada, incluindo cerveja local, e petiscos variados. É lá que você já começa a pensar na próxima caminhada.

Nível avançado. Quem vai em busca de trekking pesado, no entanto, encontra no Circuito W – o mais famoso do parque – seu principal desafio. O trajeto compreende 71 quilômetro­s e quatro dias de caminhada, passando por paisagens lindas, mas enfrentand­o frio e carregando na mochila itens de acampament­o e alimentaçã­o. É preciso planejamen­to: o parque exige reserva para pernoitar nas áreas de acampament­o, e a cada temporada pode haver mudanças na logística do circuito – vale sempre consultar o site do parque (parquetorr­esdelpaine.cl).

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PAULO FAVERO/ESTADÃO Surpresa. Guanaco na trilha a Cañadon Macho, com vista para as Torres; abaixo, trilha de nível difícil deixa o visitante de cara com as formações
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FOTOS PAULO FAVERO/ESTADÃO Contemplaç­ão. Mesmo quem não tem experiênci­a consegue fazer o percurso a cavalo

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