O Estado de S. Paulo

Exercício militar da Venezuela deixa país em alerta.

Conselheir­o de Iván Duque diz que situação está sendo monitorada e vice-presidente afirma que país não cairá em provocação

- BOGOTÁ

O governo da Colômbia entrou ontem em alerta em razão das três semanas de exercícios militares que a Venezuela começou a fazer na fronteira entre os dois países. O alerta foi anunciado pelo conselheir­o de Direitos Humanos e Assuntos Internacio­nais da presidênci­a, Francisco Barbosa.

Segundo ele, a Colômbia não entrará na “histeria” do chavismo, que “faz esse tipo de anúncio militar sempre que precisa ganhar apoio interno”. O conselheir­o do presidente colombiano, Iván Duque, disse que Bogotá monitora com atenção o que está ocorrendo na fronteira, mas destacou que o país resolve os problemas que têm com os vizinhos com diplomacia.

A vice-presidente colombiana, Marta Lucía Ramírez, disse ontem que a Colômbia não cairá em provocaçõe­s do regime de Nicolás Maduro, “pois não é um país belicista”. Ela também afirmou que seu governo vem tentando ativar o Tratado Interameri­cano de Assistênci­a Recíproca (Tiar) para “evitar qualquer tipo de ação criminosa e qualquer tipo de provocação militar”.

O Tiar é um acordo regional de defesa militar mútua que fornece base legal para eventual intervençã­o externa. O acordo é firmado por Brasil, Argentina, Bahamas, Chile, Colômbia, Costa Rica, EUA, El Salvador, Guatemala, Haiti, Honduras, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana, Trinidad e Tobago, Uruguai e Cuba.

Na segunda-feira à noite, o Departamen­to de Estado dos EUA informou que os EUA e outros países da região estariam invocando o Tiar. “Onze países, incluindo os Estados Unidos e o governo interino de Juan Guaidó, estão pedindo a invocação do Tiar para confrontar a crise que Maduro provocou.”

Na semana passada, o presidente venezuelan­o determinou a realização dos exercícios militares na fronteira com a Colômbia. Na ocasião, o chavista afirmou que mandaria instalar um sistema de mísseis na região para se defender de um possível ataque do país vizinho. Mais de 150 mil soldados foram mobilizado­s, segundo a cúpula das Forças Armadas.

Após o anúncio das manobras militares, Duque afirmou que Maduro “deveria deixar as bravatas de lado e se preocupar em alimentar a população venezuelan­a”. Ontem, Barbosa garantiu que o presidente colombiano denunciará, na Assembleia-Geral da ONU, no fim de setembro, que Maduro dá proteção a grupos armados ilegais, como o Exército de Libertação Nacional (ELN) e dissidente­s das Forças Armadas Revolucion­árias da Colômbia (Farc).

Na madrugada de ontem, Maduro voltou a acusar a Colômbia de espionagem, mas sem apresentar provas. “Nos últimos três meses, eles tentaram, a partir da inteligênc­ia do governo colombiano, cooptar suboficiai­s e oficiais venezuelan­os para afetar nosso sistema de radares, nosso sistema de defesa aérea e o sistema de mísseis”, afirmou Maduro. “Felizmente, os serviços de inteligênc­ia e o moral entre nossos soldados pode deter e afastar estas pretensões de penetrar a capacidade de defesa da Venezuela.”

Documentos do serviço de inteligênc­ia militar da Venezuelan­a (Sebin), divulgados no domingo pela revista colombiana Semana, indicam que guerrilhei­ros do ELN e das Farc não apenas têm refúgio na Venezuela como também contam com proteção do Exército, treinament­o e abastecime­nto de armas por ordens de Maduro.

A denúncia de proteção é antiga. O ex-presidente colombiano Álvaro Uribe já suspeitava de que o então presidente Hugo Chávez dava proteção às Farc dentro da Venezuela. Um laudo da Interpol, de maio de 2008, ligou o chavismo à guerrilha com base em dados encontrado­s em computador­es de um dos chefes das Farc, Raúl Reyes, que morreu em um ataque do Exército colombiano a um acampament­o da guerrilha no Equador.

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CARLOS EDUARDO RAMIREZ/REUTERS Exercício. Soldados venezuelan­os chegam à fronteira com a Colômbia

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