O Estado de S. Paulo

Morte por policiais avança 20%. São 6,2 mil registros

Rio lidera ranking e 17 Estados tiveram alta; Fórum liga situação a um discurso político de enfrentame­nto

- / M.A.C. e MARCIO DOLZAN

As mortes cometidas por policiais contra suspeitos de crimes chegaram a 6,2 mil casos ao longo de 2018 e representa­ram aproximada­mente uma em cada dez mortes no País, segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. O número é 20,1% maior que os registros de letalidade policial em 2017 e quase o triplo de 2013, quando houve 2,2 mil relatos.

Em 17 Estados, a polícia matou mais no período, com destaque negativo para o Rio, onde a quantidade de registros pela polícia chegou a 1.534, o equivalent­e a quatro por dia. Foi no Estado fluminense que a maior taxa por 100 mil habitantes foi constatada (8,9).

Aos 18 anos, Marcos Luciano se transformo­u, em janeiro de 2018, em uma das 1.534 vítimas do Rio, durante uma operação na Favela do Muquiço (zona norte). “Ele estava com envolvimen­to (com traficante­s), infelizmen­te. Mas estava querendo sair. Meu filho entrou como auto de resistênci­a, com dois tiros nas costas”, diz a vendedora ambulante Bruna Cristina Mozer, de 38 anos. Procurada, a polícia alegou que o caso continua sob investigaç­ão.

Dados de 2019 indicam que a tendência de alta permanece no Estado, com recorde histórico no primeiro semestre. “As polícias têm estado no centro do debate público e vêm sendo usadas por políticos populistas para fazer valer a ideia de que o enfrentame­nto ao criminoso e o uso da violência são a sua missão primordial”, apontam os pesquisado­res do Fórum.

As menores taxas nacionais pertencem ao Distrito Federal (0,1). São Paulo está entre os Estados que conseguira­m reduzir a letalidade, passando de 940 casos, quantidade que represento­u um recorde estadual em 2017, para 851. Proporcion­almente, a taxa paulista é de 1,9 por 100 mil habitantes, o que a coloca no meio do ranking como a 15.ª mais alta.

O perfil dos mortos é masculino (99,3%), negro (75,4%) e jovem (78,5% das vítimas têm até 29 anos). “Impossível negar o viés racial da violência no Brasil”, escreveram Samira Bueno Nunes, David Marques, Dennis Pacheco e Talita Nascimento.

Mortes de policiais. Os supostos confrontos também deixaram 343 policiais mortos, ante os 373 de 2017. Também foi no Rio que com maior frequência os agentes morreram: 89 relatos.

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ALEX RIBEIRO/ESTADÃO Bruna. ‘Meu filho entrou como auto de resistênci­a’

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