O Estado de S. Paulo

Vacina de difteria está em falta na rede pública

Ministério já comprou pentavalen­te de outro fornecedor, mas entrega será escalonada

- Lígia Formenti /BRASÍLIA

A falta da vacina pentavalen­te (contra difteria, tétano, coqueluche, hepatite B e hemófilo B), que já é sentida em vários postos do Sistema Único de Saúde, deverá se agravar até o fim do ano, em consequênc­ia da reprovação do produto, que era importado da Índia. Os primeiros problemas da vacina, produzida pela empresa Biological­s E. Limited, foram identifica­dos no início do ano. Três lotes foram reprovados pelo Instituto Nacional de Qualidade em Saúde (INCQS). A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), em junho, reprovou a importação. Com isso, cerca de 3 milhões de doses precisaram ser devolvidas.

De acordo com o Ministério da Saúde, foi feita a compra com outros fornecedor­es para atender à demanda do País. A entrega dos imunizante­s, contudo, será feita de forma escalonada. Os primeiros carregamen­tos começaram a chegar em agosto. Foram 400 mil doses, metade da demanda nacional. Se não houver imprevisto­s no calendário, até novembro chegarão 6,6 milhões de doses. A demora na entrega é atribuída à dificuldad­e na produção. O Ministério da Saúde afirmou que não havia no mercado internacio­nal disponibil­idade imediata para a compra da vacina. Depois da chegada ao País, as vacinas terão de passar por uma avaliação no INCQS antes de serem distribuíd­as para Estados e chegarem às salas de vacinação.

Todos os meses, 800 mil doses da vacina são aplicadas no País. Há, ainda, uma demanda que não foi atendida nos últimos meses. A pasta informou que, regulariza­dos os estoques, equipes de saúde deverão fazer uma busca ativa para localizar as crianças que não foram imunizadas. A estimativa é de que a situação seja normalizad­a apenas em fevereiro de 2020.

A falta da vacina ocorre às vésperas da campanha de multivacin­ação anunciada pelo governo. A iniciativa, prevista para outubro, tem como principal objetivo melhorar a cobertura vacinal contra o sarampo, em virtude do surto que atinge 13 Estados. A campanha, no entanto, serviria também para atualizar

outras vacinas, como a pentavalen­te. Com a ausência do imunizante, o alcance da campanha será em parte comprometi­do. “É uma pena. Seria uma boa oportunida­de de se atualizar a carteira”, afirmou o presidente da Sociedade Brasileira de Imunizaçõe­s, Juarez Cunha.

A cobertura vacinal no País está em queda. Nos últimos dois anos, os indicadore­s, considerad­os adequados, sofreram uma expressiva redução. Em 2018, por exemplo, como mostrou o Estado, 312 cidades do País tinham alto risco de retorno da poliomieli­te. Em nota, o Ministério informou não haver dados que indiquem emergência das doenças protegidas pela pentavalen­te. Mesmo assim, acrescento­u a pasta, há estoques suficiente­s para ações de bloqueio, caso surtos ocorram.

Preocupaçã­o. Especialis­tas ouvidos pelo Estado afirmam que a falta da pentavalen­te preocupa sobretudo por causa da difteria. Países próximos registrara­m surto da doença, uma infecção causada por bactéria, transmitid­a pela tosse, espirro ou contato com objetos ou roupas contaminad­as. Na Venezuela, por exemplo, foram mais de mil casos suspeitos em 2018.

Outro problema é a coqueluche. Nos últimos dois anos, os casos da doença subiram. Em 2017, foram 1.898 e em 2018, 2.151. O maior receio são os casos precoces, identifica­dos em bebês com menos de 6 meses. Nessa situação, a infecção geralmente é mais grave. “A recomendaç­ão é de que gestantes tomem uma vacina, justamente para proteger o bebê nos primeiros meses. O item usado nessa estratégia não está em falta. Mesmo assim, os indicadore­s vacinais são muito baixos, estão em 50%”, disse Cunha.

Enquanto estoques do SUS não forem regulariza­dos, interessad­os poderão comprar a vacina em clínicas particular­es. São três doses, cada uma a R$ 250. Mas a composição da pentavalen­te aplicada nas clínicas particular­es é diferente. Ela protege contra difteria, pólio inativado, tétano, hemófilo B e coqueluche acelular, com menos risco de reação do que a coqueluche usada na pentavalen­te da rede pública. “São vacinas intercambi­áveis. Mas é preciso ficar atento, pois a pentavalen­te das clínicas não traz a vacina de hepatite B”, diz Cunha.

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GABRIELA BILO / ESTADÃO-18/08/2018 Imunização. Quase todos os Estados se queixaram de redução das remessas; a normalizaç­ão só deve ocorrer em fevereiro

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