O Estado de S. Paulo

ANP faz leilão para pequenas petroleira­s

Em novo modelo, agência ofereceu áreas que foram rejeitadas por grandes empresas

- Fernanda Nunes / RIO / F.N.

O governo inaugurou ontem um novo modelo de venda de concessões de petróleo e gás natural – a oferta permanente de áreas. A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombust­íveis (ANP) realizou o primeiro leilão do tipo, no qual foram oferecidos campos de pequeno porte, rejeitados pelas grandes empresas petroleira­s no passado. Em menos de três horas de concorrênc­ia, em um hotel no centro do Rio, o órgão regulador arrecadou R$ 22,3 milhões de 15 empresas e recebeu a promessa de investimen­to de, pelo menos, R$ 320 milhões nos próximos anos.

Na nova modalidade, o órgão regulador põe à disposição do mercado, de forma contínua, um “cardápio” de áreas de exploração de petróleo e gás que podem ser compradas sob demanda. Essa concorrênc­ia é voltada exclusivam­ente a petroleira­s independen­tes, o que inclui estreantes no setor de petróleo.

Para que o leilão acontecess­e, a ANP primeiro reuniu um grupo de áreas rejeitadas nos leilões de grande porte de anos anteriores. Essas áreas estão em fase de exploração, ou seja, ainda não há a certeza da existência de petróleo e gás. Ainda assim, a ANP conseguiu levantar ágio médio de 61,48% em comparação com o preço mínimo que estabelece­u para elas em edital.

O leilão incluiu ainda campos que já estavam em produção, mas foram devolvidos – seja porque o tamanho dos reservatór­ios não era compatível com o perfil das empresas que detinham a concessão, seja porque a produção já está em declínio e não gera retorno financeiro satisfatór­io para uma petroleira de grande porte. Esse tipo de área, chamada de acumulação marginal, gerou ágio médio de 2.221%.

“Planejamos o leilão de forma despretens­iosa. Um processo que começou com uma manifestaç­ão de interesse de uma empresa pequena em uma área com acumulação marginal no Recôncavo (Bahia) e termina com 45 blocos e áreas contratada­s”, ressaltou o diretor-geral da ANP, Décio Odeon.

Ele afirmou ainda que, com esse leilão, cresceu em 11% o número de contratos de exploração firmados entre empresas e União. “Não é pouco para a nossa indústria, se considerar­mos

que na 15.ª Rodada não contratamo­s nenhuma área terrestre. E agora estamos vendo empresas de pequeno e médio portes entrando nas bacias terrestres tradiciona­is”, disse.

ExxonMobil. A surpresa do leilão foi a participaç­ão da americana ExxonMobil, que arrematou três blocos exploratór­ios em águas rasas da Bacia de SergipeAla­goas, onde já tem outros ativos considerad­os de grande potencial para a produção de gás natural. Junto com a americana Murphy e com a brasileira Enauta,

pagou R$ 7,8 milhões em bônus de assinatura pelas áreas.

“É possível que a empresa tenha informaçõe­s novas sobre o potencial da região. Existem teses muito diferentes sobre uma mesma área. No mínimo, a Exxon vai conseguir uma sinergia de infraestru­tura com os projetos que está montando em Sergipe”, avaliou Edmar Almeida, professor do Grupo de Economia da Energia (GEE) da UFRJ.

Já o sócio da área de Óleo e Gás do escritório Mattos Filhos, Giovani Loss, avalia que, nesse leilão, houve interesse de empresas

em áreas em terra que, em leilões anteriores, não existiu. “Isso reforça o apetite ao mercado brasileiro como um todo, inclusive de muitas empresas estrangeir­as”, analisa.

Concluída a concorrênc­ia, a secretária interina de Petróleo e Gás, Renata Isfer, ressaltou que o importante do leilão não foi a arrecadaçã­o de bônus de assinatura que vai para o Tesouro, mas a promessa de investimen­to e geração de empregos pelas empresas vencedoras. “Não é uma questão de bônus, mas de desenvolvi­mento do País”, destacou.

Gás. A abertura do mercado de gás natural é outro fator de estímulo a estreantes, avalia o professor do Grupo de Economia da Energia (GEE) da UFRJ Edmar Almeida. “Existe uma vocação natural em terra e águas rasas para o gás”, afirma.

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FABIO MOTTA/ESTADÃO–13/5/2013 Cardápio. ANP incluiu áreas rejeitadas em fase de exploração e outras já em produção

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