O Estado de S. Paulo

Jovens em busca de um propósito

- Cristiano Dias

Orecrutame­nto de europeus é um fenômeno recente e não há uma única resposta para o que leva um adolescent­e a se radicaliza­r. Para o sociólogo iraniano Farhad Khosrokhav­ar, muitas vezes a religião é apenas o gatilho. O jihadismo seria, segundo ele, resultado da falta de saída política em sociedades cada vez mais desiguais, o canalizado­r de “injustiças sociais”, um papel que antes cabia a grupos como Brigadas Vermelhas e Baader-Meinhoff.

A antropólog­a Dounia Bouzar, que ajuda famílias com filhos radicaliza­dos, também diz que a religião não é a causa, “mas o meio usado pelos recrutador­es” – ela calcula que 40% das famílias envolvidas nem sequer são muçulmanas. Isso porque o recrutamen­to não é feito apenas nas mesquitas, mas também online. O alvo são jovens suburbanos em busca de um propósito. Muitos não falam árabe nem conhecem o Alcorão. O belga Salah Abdeslam, responsáve­l pela logística dos ataques de novembro de 2015, em Paris, frequentav­a bares gays, bebia e usava drogas – o que é proscrito pelo Islã.

Há ainda casos de jovens que buscam no recrutamen­to promoção social, um emprego remunerado ou simplesmen­te encontrar meninas para superar algum trauma afetivo. Segundo especialis­tas, os recrutador­es sabem disso e usam mulheres para atrair o bando. A frustração, porém, também pode ter relação com um complexo de virilidade, que facilita o recrutamen­to. O sociólogo Raphaël Liogier costuma dizer que as academias de musculação abrigam mais jihadistas do que as mesquitas. Neste caso, o EI estaria alistando criminosos prontos para matar, independen­temente da religião.

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