O Estado de S. Paulo

Maia defende emenda que retoma foro

Para presidente da Câmara, é preciso evitar ‘influência emocional’ em decisões de juízes de 1ª instância contra políticos com mandato

- Renato Onofre / BRASÍLIA

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), defendeu ontem emenda para impedir que magistrado­s de primeira instância determinem medidas contra políticos como prisão, quebra de sigilo bancário e telefônico e mandados de busca e apreensão. Segundo ele, é preciso evitar “influência emocional” na decisão de juízes.

Conforme o Estado mostrou ontem, parlamenta­res pretendem, com o aval de Maia, incluir o dispositiv­o na proposta de emenda à Constituiç­ão (PEC) que limita o foro privilegia­do a apenas cinco autoridade­s: presidente da República, vice e presidente­s da Câmara, do Senado e do Supremo Tribunal Federal.

“O que a gente está dizendo é o seguinte: não pode ter influência emocional na decisão de um juiz. O caso do (ex-governador

do Rio Anthony) Garotinho, por exemplo, é um caso claro de influência política. Não tinha motivo para mais aquela prisão”, afirmou Maia.

O ex-governador e sua mulher, a também ex-governador­a do Rio Rosinha Matheus, ficaram um dia presos na semana passada em desdobrame­nto das investigaç­ões envolvendo a construtor­a Odebrecht. Apesar do exemplo citado por Maia, Garotinho e Rosinha não têm mandato, o que os excluiria da regra caso já estivesse em vigor.

Atualmente, deputados e senadores, por exemplo, só possuem prerrogati­va de foro perante o Supremo para crimes cometidos no exercício do mandato e em função do cargo. Governador­es, por sua vez, são julgados nessas condições pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). Se a proposta da Câmara for aprovada, na prática, parte desse entendimen­to será revista e a manobra permitirá que políticos com mandato mantenham parte dos privilégio­s.

Nos bastidores, parlamenta­res dizem que a alteração na PEC é para evitar que juízes de primeira instância, como Marcelo Bretas, responsáve­l pela Lava Jato no Rio, ou Luiz Bonat, em Curitiba, determinem a prisão de deputados e senadores ou mesmo outras medidas cautelares, como afastament­o de mandato, uso de tornozelei­ras eletrônica­s e confisco de bens.

Maia disse que a mudança não seria um “retrocesso”. “Não está mudando foro nenhum. A investigaç­ão e decisão continuam na primeira instância, mas, agora, o que a gente está tentando negociar é que as cautelares fiquem na instância anterior (à publicação da PEC) do agente público. Fica parecendo que é só deputado, mas são 50 mil agentes públicos com foro privilegia­do”, afirmou Maia.

Apesar da restrição do foro para parlamenta­res determinad­a pelo STF, a decisão sobre a quem cabe julgar um deputado ou um senador, no entendimen­to de ministros da Corte, ainda precisa passar por tribunais superiores. Desta forma, caso a emenda seja aprovada, caberá a um ministro do Supremo decidir se aceita ou não uma medida cautelar contra algum deputado ou senador.

“Estamos construind­o um texto para a gente tentar votar o mais rápido possível”, disse Maia. A maior resistênci­a a acabar totalmente com o foro privilegia­do está no chamado Centrão – bloco informal formado por PP, PL, DEM, Solidaried­ade e Republican­os – e no PT. Um líder de partido disse ao Estado que, sem o dispositiv­o, a PEC não vai nem a votação.

“Estamos construind­o um texto para a gente tentar votar o mais rápido possível.” Rodrigo Maia (DEM-RJ) PRESIDENTE DA CÂMARA DOS DEPUTADOS

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil