O Estado de S. Paulo

Gerenciame­nto de dados dos pacientes vira aliado na prevenção

Leitura e monitorame­nto correto das informaçõe­s dos pacientes podem ser a chave para uma medicina mais preventiva e preditiva

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As empresas da área da saúde contam com um volume muito grande de informaçõe­s que poderia ser útil para antecipar o cuidado e gerar um uso mais eficiente e econômico do sistema como um todo. A melhor forma de fazer isso é uma das discussões mais frequentes em relação à modernizaç­ão dos serviços de saúde. Os dados do paciente já são uma forma de diagnóstic­os por si só, segundo Gustavo Gusso, diretor médico da Nexa Digital, que participou do painel O uso da tecnologia para antecipaçã­o

do cuidado. “Se ele faz mais ou menos exames, se procura mais ou menos o pronto-socorro, se monitora ou não sua condição de saúde. Você não precisa fazer tantos exames para descobrir que uma pessoa tem risco de internar, por exemplo. Os dados já trazem esses diagnóstic­os”, afirma.

O atual modelo de saúde, em que o sistema permanece em uma atitude passiva à espera que o paciente o procure, deve mudar. Com base no histórico de cada indivíduo, é possível gerar informaçõe­s que sirvam de alerta para os problemas antes que eles aconteçam. “O paciente faz um exame de diabetes completame­nte descompens­ado. Será que esse resultado chegou ao médico? Quantas vezes ele repetiu esse exame em um ano? Se eu cruzar esses e outros dados, posso constatar que a

pessoa vai ter uma complicaçã­o. Se isso não for sinalizado, perdemos a oportunida­de da prevenção”, comenta Otávio Gebara, diretor clínico do Hospital Santa Paula.

Poder ao paciente

A perspectiv­a dos especialis­tas é que essa mudança de visão traga mais poder para os indivíduos, que terão mais acesso às informaçõe­s sobre a própria saúde. “Vamos ter muitos insights para os pacientes e para os médicos baseados em dados. Isso vai gerar um nível de responsabi­lidade para o paciente maior do que ele tem hoje”, espera Emerson Gasparetto, vice-presidente da área médica da Dasa e um dos participan­tes do evento. As pessoas terão mais consciênci­a do seu estado de saúde – sabendo, por exemplo, que o exame realizado recentemen­te está muito diferente do seu histórico ou que o cruzamento de dados sobre sua pressão arterial indica um perfil de risco. “Com AI e a análise de dados, você torna o indivíduo mais senhor da sua situação. O paciente vai ser o CEO da saúde dele”, resume Gebara.

Mas como desenvolve­r estratégia­s para que as informaçõe­s possam ser efetivamen­te revertidas em novas condutas? Essa tem sido uma das discussões entre os especialis­tas da área. “Temos feito parcerias e conversas com as operadoras e com os médicos, para entender como transforma­r esses dados em ações para melhorar a vida das pessoas”, declara o vice-presidente da área médica da Dasa.

Além disso, o cuidado com a privacidad­e e o uso ético e legal das informaçõe­s são pontos de atenção. “Essa é uma questão muito importante. São dados privados. Não podemos pegá-los e mandar para terceiros”, alerta Gebara. Nesse sentido, a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais, sancionada no ano passado, traça os limites do uso dessas informaçõe­s. É preciso uma autorizaçã­o expressa do indivíduo para que a coleta de dados ocorra, e a ampla informação sobre como empresas públicas e privadas tratam esses dados. “Acreditamo­s que foi uma excelente iniciativa. A lei protege muito o paciente dentro da nossa realidade. Leva em conta e respeita a privacidad­e e o dado do paciente”, conclui Gasparetto.

O objetivo final precisa ser o paciente, e ele quer se tecnologia. A transforma­ção digital envolve inovação, mas envolve também uma mudança de cultura. Se não nos movermos, se não estivermos preparados, vamos ficar para trás. É uma enorme oportunida­de de termos um papel mais relevante e atual. Teresa Sacchetta, diretora de Medicina Diagnóstic­a e Telessaúde do Americas Serviços Médicos

Dado é a essência de tudo, dado é o novo petróleo. Conhecer o seu cliente, sua jornada, saber a que ele está apto. E a personific­ação desse consumidor. Tudo isso está vindo muito forte para a saúde, mas tudo isso deve vir de forma muito segura. Esse dado é do paciente. Cleber Morais, diretor-geral da Amazon/AWS Brasil

Temos alto custo, baixa eficiência, uma população sem acesso e a diminuição dos profission­ais de saúde. Temos a tempestade perfeita. Como resolver isso? Estamos vivendo um momento disruptivo com a inteligênc­ia artificial. Mas a tecnologia ainda está na fase da infância, e não sabemos tudo o que ela pode gerar. Rogério Sugai, diretor médico da Salesforce

Todas as vezes que você dá acesso à informação correta a quem precisa, você efetivamen­te diminui o número de exames e diminui a perda de refazer algo que foi feito há pouco tempo. O grande desafio é a integração da cadeia. Você precisa dar a informação adequada para cada profission­al de saúde. Teresa Veloso, diretora técnica e de relacionam­ento com prestadore­s da SulAmérica

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