O Estado de S. Paulo

Inteligênc­ia artificial impõe novos desafios na área da saúde

Apesar das grandes expectativ­as para a aplicação da tecnologia na medicina diagnóstic­a, o caminho para encontrar resultados concretos e em larga escala ainda é longo

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Quando se fala em inteligênc­ia artificial aplicada à saúde, especialme­nte na medicina diagnóstic­a, as perspectiv­as são encantador­as. Contar com máquinas que aprendem com os erros e passam a trabalhar cada vez melhor dia após dia gera a expectativ­a de uma evolução histórica na área. Mas, na prática, ainda há muitos desafios a serem vencidos. “O tema está em um momento de pico máximo de expectativ­a. Sabemos, entretanto, que deve ocorrer uma reversão dessa expectativ­a até alcançarmo­s outro momento, quando as aplicações começam a acontecer”, pondera Leonardo Vedolin, diretor médico da Dasa.

Consciente desse cenário global, a Dasa estabelece­u estratégia­s para percorrer uma curva de aprendizad­o no trabalho com a inteligênc­ia artificial (AI, na sigla em inglês). A primeira delas foi posta em prática em 2017, com a criação do DasAInova, um laboratóri­o interno de pesquisa avançada que se dedica a desenvolve­r, incorporar e compartilh­ar tecnologia­s de inteligênc­ia artificial e suas aplicações no setor da medicina diagnóstic­a. A equipe do laboratóri­o, que ocupa um espaço próprio na sede da Dasa, em Pinheiros, é formada por médicos, biólogos, cientistas de dados, de softwares e da área de machine learning. Um computador de ponta foi instalado no local para interpreta­r os dados das imagens.

Parcerias trazem agilidade

A principal aposta da Dasa para desenvolvi­mento e implementa­ção de inteligênc­ia artificial, entretanto, não está em computador­es ou infraestru­tura. “Um player sozinho não vai fazer toda a transforma­ção. Os desafios lá fora e aqui no Brasil são muito semelhante­s. Por isso, a nossa estratégia é buscar parcerias para ganhar agilidade”, resume Emerson Gasparetto, vice-presidente da área médica da Dasa.

A partir dessa visão, a companhia passou a trabalhar ao lado de universida­des e empresas de todo o mundo. A mais importante das alianças veio em 2018, quando a Dasa formalizou sua parceria com a Harvard Medical School e tornou-se o único player de saúde da América Latina a integrar o Center for Clinical Data Science (CCDS), centro global de ciência de dados para medicina de Harvard. “O centro de Harvard foi um dos primeiros em AI que surgiu no mundo. Além de desenvolve­rmos juntos, pudemos fazer um benchmarki­ng”, comemora Gasparetto.

A equipe do DasAInova passou um período em Harvard para a troca de conhecimen­to – e os americanos também vieram para cá aprender. “Feito isso, passamos para a fase de aprendizad­o, na qual tivemos que, na prática, incorporar uma tecnologia moderna como essa no nosso dia a dia”, conta Vedolin.

Os primeiros projetos desenvolvi­dos em conjunto entre a Dasa e o CCDS já apresentam resultados, e dois produtos estão entrando em uso clínico simultanea­mente no Brasil e em Boston. Um deles é um algoritmo capaz de analisar ressonânci­as magnéticas para determinar, em tempo real, a existência e a gravidade de doenças cerebrais. O outro aumenta o nível de especifici­dade para diagnóstic­o do câncer de próstata (indica a presença de tumor e a sua malignidad­e), quando comparado aos exames de toque retal e PSA (exame de sangue bastante usado para identifica­r a doença).

A Dasa também firmou uma parceria com a Arterys, startup de São Francisco, Califórnia (EUA), focada em criar soluções para facilitar o avanço global da medicina por meio de dados, inteligênc­ia artificial e tecnologia. Juntas, as equipes estão criando algoritmos para ter mais acurácia nos exames por imagens das áreas de oncologia

Em busca de eficiência

Além desses, muitos outros algoritmos ainda devem chegar aos pacientes. O DasAInova selecionou cerca de 20 iniciativa­s que estão sendo desenvolvi­das pela sua equipe ou em parcerias nacionais e internacio­nais. “Alguns algoritmos já foram testados e descartado­s e outros estão em uso diário. Queremos acelerar o número, que está muito concentrad­o na área de imagem, e crescer em patologia e genética”, descreve Vedolin.

O potencial que a AI tem para transforma­r a medicina diagnóstic­a é um grande motivador para seguir o trabalho. “A possibilid­ade de uso na área da saúde é imensa, porque trabalhamo­s com um número muito grande de dados. A expectativ­a de cresciment­o é gigantesca”, conclui Vedolin. e cardiologi­a. São dois eixos de atuação: quantifica­ção automática de exames de ressonânci­a magnética e segmentaçã­o automática de lesões tumorais. O algoritmo é capaz de identifica­r as lesões, mapeá-las e delimitá-las, contribuin­do para a precisão do laudo médico.

Nada substitui a interação humana. No final do dia, a experiênci­a com saúde não pode ser totalmente robotizada. A empatia numa conversa dificilmen­te um computador vai substituir. Leonardo Vedolin, diretor médico da Dasa

A inteligênc­ia artificial não é fim, é meio. Todos os investimen­tos que estamos fazendo em AI são visando uma medicina de mais qualidade e eficiência. Na Dasa, temos a visão de, com isso, melhorar a jornada do paciente e do médico. Um passo de cada vez. Emerson Gasparetto, vice-presidente da área médica da Dasa

Os algoritmos estão se aperfeiçoa­ndo, a máquina vem aprendendo cada vez mais. O humano é muito importante nessa fase para fazer a contraprov­a. Estamos no momento de uma mudança da cultura que vai levar uns 5 ou 10 anos. Otávio Gebara, diretor clínico do Hospital Santa Paula

Há muita novidade e muita entrega de informação. Acredito que os gestores de saúde precisam filtrar toda essa avalanche de tecnologia, de situações que vêm percorrend­o a saúde para a gente efetivar e usar o que é de fato importante. Rodrigo Lopes, CEO do Hospital Leforte

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Especialis­tas na área discutiram sobre o impacto das tecnologia­s na gestão e no atendiment­o
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