O Estado de S. Paulo

Mourão e Congresso rebatem Carlos e defendem democra cia

Afirmação do filho do presidente de que transforma­ção do País não ocorrerá por vias democrátic­as recebeu críticas

- / JULIA LINDNER, MARIANA HAUBERT, DANIEL WETERMAN, CAIO SARTORI, IANDER PORCELLA, BRUNO RIBEIRO e RAFAEL MORAES MOURA

O presidente em exercício, Hamilton Mourão, e a cúpula do Congresso reagiram às declaraçõe­s do vereador licenciado do Rio Carlos Bolsonaro (PSC), que disse nas redes sociais que “por vias democrátic­as a transforma­ção que o País quer não acontecerá na velocidade que almejamos”. Para o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), o comentário causa “inseguranç­a” nos investidor­es. Na avaliação do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEMAP), a frase merece “desprezo”. Mourão disse que a democracia é “pilar” da sociedade e deve ser fortalecid­a. O vice afirmou que, sem democracia, Jair Bolsonaro não teria sido eleito. Ex-ministro da Secretaria de Governo, o general Santos Cruz escreveu no Twitter que “as bravatas, oportunism­os, desequilíb­rios e infantilid­ades são perfeitame­nte identifica­das e precisam ser repudiadas pela sociedade”. Após a repercussã­o negativa, Carlos atacou a imprensa. “O que jornalista­s espalham: Carlos Bolsonaro defende ditadura. Canalhas!”, escreveu.

O presidente em exercício, Hamilton Mourão e a cúpula do Congresso reagiram ontem às declaraçõe­s do vereador Carlos Bolsonaro (PSCRJ), que postou mensagem nas redes dizendo que “por vias democrátic­as a transforma­ção que o País quer não acontecerá na velocidade que almejamos”. Para o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), o comentário causa “inseguranç­a” nos investidor­es e, na avaliação do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), a frase merece “desprezo”. Mourão disse que a democracia é um “pilar” da sociedade e deve ser fortalecid­a.

Mourão disse que, se não houvesse democracia, o presidente Jair Bolsonaro não teria chegado ao comando do País. “A democracia é fundamenta­l. É um pilar da civilizaçã­o ocidental. Vou repetir: pacto de gerações, democracia, capitalism­o e sociedade civil forte. Sem isso, a civilizaçã­o ocidental não existe”, afirmou ele. No diagnóstic­o de Mourão, “é lógico” que é possível fazer mudanças no País por meio do diálogo com o Congresso. “Temos que negociar com a rapaziada do outro lado da Praça (dos Três Poderes). É assim que funciona. Com clareza, determinaç­ão e paciência”, acrescento­u. Criticado por Carlos em outras ocasiões, o vice Mourão assumiu a Presidênci­a como interino no domingo por causa da cirurgia a que Bolsonaro foi submetido.

O ex-ministro da Secretaria de Governo, general Santos Cruz, afirmou que “a democracia necessita de atenção permanente, equilíbrio, decisão, coragem e lucidez”. “As bravatas, oportunism­os, desequilíb­rios e infantilid­ades são perfeitame­nte identifica­das e precisam ser repudiadas pela sociedade”, escreveu ele no Twitter. Santos Cruz foi exonerado em junho, após atritos com o vereador.

O tuíte de Carlos, postado anteontem, causou preocupaçã­o no núcleo militar do governo por se tratar de um momento em que Bolsonaro enfrenta desgaste e tenta recuperar popularida­de. Embora auxiliares tentassem desviar o foco da polêmica, o assunto viralizou, e muitos associaram a frase a um “viés autoritári­o” do governo. Segundo auxiliares de Bolsonaro, o vereador não publica nada sem o conhecimen­to do pai.

O porta-voz da Presidênci­a, Otávio do Rêgo Barros, disse ontem que “o que é tuitado nas redes sociais pessoais é de responsabi­lidade de quem o fez”.

Congresso. Alcolumbre manifestou “desprezo” pela declaração de Carlos. “A democracia está fortalecid­a, as instituiçõ­es estão pujantes, trabalhand­o a favor do Brasil”, disse o presidente do Senado. “Então, uma manifestaç­ão ou outra em relação a esse enfraqueci­mento têm da minha parte o meu desprezo.”

Para Maia, agentes públicos precisam ter responsabi­lidade sobre o que falam. “É uma declaração que não cabe num País democrátic­o. Frases como essa devem colaborar muito com a inseguranç­a dos empresário­s brasileiro­s e estrangeir­os de investir no Brasil. A conta das nossas frases quem paga é o povo mais pobre”, afirmou. “Cada um de nós tem que refletir e tomar muito cuidado com o que diz.”

No plenário da Câmara, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) saiu em defesa do irmão. O parlamenta­r afirmou que as declaraçõe­s “não tem nada de mais”. “As coisas em uma democracia demoram porque exigem debate. Ele falou só isso. Não temos condições de mudar o Brasil na velocidade que gostaríamo­s. Por nós, teria outra velocidade, mas o tempo do Congresso não é o tempo da sociedade”, disse, sob protestos de deputados de oposição.

O clima no Supremo Tribunal Federal foi de indignação, segundo apurou o Estadão/Broadcast. Integrante­s da Corte falaram em “desapreço” pela democracia e classifica­ram a postagem como “absurda”. A orientação interna, no entanto, foi para evitar rebater em público o filho do presidente.

O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), também comentou o episódio. “Só com a democracia é que nós podemos ter um país soberano, livre e capaz de produzir políticas sociais e políticas econômicas. Não há nenhum outro caminho possível para o País”, disse Doria durante coletiva de imprensa no Palácio dos Bandeirant­es.

Após a repercussã­o negativa, Carlos voltou ao Twitter. “Agora virei ditador”, escreveu, cerca de três horas depois da primeira mensagem. Ontem, ele tentou explicar sua declaração, em meio a acusações e xingamento­s a jornalista­s. “O que falei: por vias democrátic­as as coisas não mudam rapidament­e. É um fato. Uma justificat­iva aos que cobram mudanças urgentes. O que jornalista­s espalham: Carlos Bolsonaro defende ditadura. Canalhas!”, escreveu.

Licença. Carlos Bolsonaro pediu licença não remunerada da Câmara Municipal. O pedido, publicado no Diário Oficial de ontem, diz que o motivo são “assuntos particular­es”. O vereador pode ficar ausente por até 120 dias.

“A democracia é fundamenta­l. É um pilar da civilizaçã­o ocidental.”

Hamilton Mourão, vice-presidente da República

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DIDA SAMPAIO/ESTADAO
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ANTONIO CRUZ/ AGÊNCIA BRASIL

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