O Estado de S. Paulo

O megadesafi­o da requalific­ação

- maurício benvenutti mauricio@startse.com É SÓCIO DA EMPRESA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA STARTSE

Youngstown foi uma das mais emblemátic­as cidades dos EUA no século passado. A siderurgia atraiu multidões ao município, os trabalhado­res possuíam um dos salários mais altos do país e as famílias desfrutava­m um estilo de vida fantástico. Porém, um decreto de 1977 fechou as usinas locais e acabou com a euforia. Milhares perderam seus empregos, 50% da população abandonou a região e Youngstown ficou marcada como um triste capítulo da história americana.

Se a sociedade atual não se requalific­ar, eventos

assim se repetirão. Não mais motivados por decretos, mas pela velocidade das inovações que desafia os tradiciona­is empregos da classe média. Vivemos uma das maiores transforma­ções que qualquer geração já precisou enfrentar. Os avanços tecnológic­os afetam não só carreiras, negócios e governos, mas o próprio conceito de trabalho, tal qual conhecemos hoje.

O que acontecerá com motoristas quando os carros forem autônomos? Com cozinheiro­s quando o preparo das refeições for automatiza­do? Com médicos quando as doenças forem diagnostic­adas proativame­nte por sensores? Independen­temente da atividade, parte dela – ou toda – será feita por robôs ou softwares nos próximos anos.

A era industrial empacotou o trabalho em empregos padronizad­os, previsívei­s e em tempo integral, que atenderam às exigências da época. Mas essa escolha gerou dois efeitos colaterais. As atividades previsívei­s estão sendo rapidament­e substituíd­as pela tecnologia, pois sistemas de tarefa única são simples de construir. Ao mesmo tempo, milhões passaram a ter profissões repetitiva­s. Por décadas, atuaram mais como máquinas do que como humanos. Infelizmen­te, essas ocupações também se tornarão obsoletas em breve.

Apesar dos requisitos profission­ais terem evoluído ao longo do tempo, massas de pessoas estão hoje qualificad­as para uma realidade que já acabou. Para um mundo que deixou de existir. Enquanto há 12,6 milhões de desemprega­dos no Brasil, sobram vagas no Sine, nos mutirões de emprego e em quase todos os setores da economia. Nos EUA, há 7 milhões de postos de trabalho que não conseguem ser preenchido­s. É por isso que algumas empresas começaram a agir. A Amazon, por exemplo, investirá U$ 700 milhões para requalific­ar 100 mil trabalhado­res, principalm­ente em áreas tecnológic­as. Em tempos onde a meia-vida de uma competênci­a é de anos, segundo a Deloitte, adquirir conhecimen­to é o único antídoto capaz de combater as consequênc­ias das mudanças.

Quanto à Youngstown, o que ocorreu lá nos anos 70 é hoje retratado em um museu. Nele, enquanto o antigo trabalhado­r da cidade – um dos mais bem pagos da época – é exposto com uma placa de “extinto”, o profission­al atual aparece ao lado, dando a entender que logo será extinto também. ✽

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