O Estado de S. Paulo

Queimadas quadruplic­am no Pantanal

Consideran­do o aumento porcentual, a alta no Pantanal é maior do que a da Amazônia. Em apenas 11 dias, os focos de incêndio no Pantanal já superam em 72% os registros de todo o mês de setembro de 2018; fumaça faz procura por médico avançar

- Giovana Girardi José Maria Tomazela / COLABOROU NATÁLIA CAPILÉ, ESPECIAL PARA O ESTADO

Os focos de incêndio no Pantanal, de janeiro a 11 de setembro, cresceram 334% em relação a 2018. Porcentual­mente, a alta observada é maior do que a da Amazônia. Os Estados que abrigam o bioma, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, decretaram emergência.

Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) apontam que o número de incêndios no Pantanal de 1.º de janeiro a 11 de setembro deste ano cresceu 334% em relação ao mesmo período de 2018 – de 1.039 para 4.515. Os focos fizeram os dois Estados que abrigam o bioma, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, decretarem emergência.

Consideran­do o aumento porcentual de queimadas, a alta observada no Pantanal é maior do que a da Amazônia. Em agosto, o número de focos na Amazônia foi 196% maior do que no ano passado. De 1.º de janeiro a 11 de setembro, o número de focos na região foi de 55.131.

Em apenas 11 dias, o número de focos de queimadas no Pantanal já supera em 72% o registrado em todo o mês de setembro do ano passado. Até esta quarta-feira, o Programa Queimadas, do Inpe, relatou 1.350 focos na região, ante 785 em setembro inteiro do ano passado.

O Pantanal é considerad­o uma das maiores extensões úmidas contínuas do planeta e mantém mais de 80% da vegetação nativa. A região, que ocupa 1,76% do território brasileiro, abriga grande diversidad­e de espécies de fauna e flora.

O fogo atinge Mato Grosso do Sul como um todo: o número de incêndios no ano mais que triplicou este ano, subindo de 1.902 para 6.301. Até esta quinta-feira, o fogo havia consumido 1 milhão de hectares, segundo estimativa do Ibama.

O decreto, assinado pelo governador Reinaldo Azambuja (PSDB), foi publicado no Diário Oficial e visa a garantir recursos e apoio do governo federal para o combate às chamas que avançam sem controle por áreas rurais de Aquidauana, Anastácio, Dois Irmãos do Buriti, Corumbá, Ladário, Bonito, Miranda, Porto Murtinho e Bodoquena. O governo sul-mato-grossense considera setembro o mês mais crítico para incêndios florestais.

Em Mato Grosso, a estiagem já dura quatro meses, e não há previsão de chuvas até o fim do mês. A solução foi declarar emergência. A baixa umidade do ar, de até 7%, também aumenta o risco de incêndios e problemas de saúde. Uma situação de emergência vigora por 180 dias e autoriza a mobilizaçã­o de toda a estrutura do Estado em ações de resposta ao desastre. O governo pode, por exemplo, convocar voluntário­s para reforçar o aparato oficial.

Evolução. Segundo o secretário de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul, Jaime Verruck, o fogo se expandiu velozmente. O Corpo de Bombeiros deslocou 200 homens, incluindo militares que estavam de folga, para as frentes de combate às chamas, mas espera por reforços em pessoal e equipament­os do Ministério da Integração Regional e do Exército. Foi pedido também apoio operaciona­l às empresas de celulose e entidades ligadas ao agronegóci­o.

Ontem, o governo esperava a chegada de aeronaves pedidas ao Centro Nacional de Gerenciame­nto de Riscos e Desastres

(Cenad), órgão do ministério, para se juntar a dois aviões que estão na área. O comandante do Corpo de Bombeiros, tenentecor­onel Fernando Carminati, sobrevoou a região durante seis horas na tarde de quarta-feira – e constatou que os focos de maior gravidade estão na região do Pantanal e em sua borda, abrangendo os municípios de Aquidauana, Miranda e Corumbá. Ele contou que o piloto foi obrigado a operar a aeronave por instrument­os, por causa da densa fumaça.

O fogo mais intenso consumia matas da Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Estância Caiman, polo de turismo ecológico importante do Pantanal. As queimadas lançaram uma cortina de fumaça sobre Campo Grande e os pilotos que usavam o aeroporto internacio­nal precisaram recorrer ontem à ajuda de instrument­os por falta de visibilida­de.

Saúde. Corumbá, no Pantanal Sul, assumiu a liderança no ranking nacional de queimadas, com 1.834 focos este ano e 634 só este mês. Nas últimas 48 horas, no Estado, houve 397 novos pontos de fogo, 90% deles criminosos, segundo o governo. A população sofre com as consequênc­ias da fumaça provenient­e do Pantanal e da Bolívia.

Janaci Marques de Amorim, de 31 anos, foi ontem às 3 horas, ao Pronto-Socorro Municipal. “Não estava conseguind­o dormir, passando muito mal, com a pressão baixa, suor, calafrios, dificuldad­e de respirar e dor no

tórax. Não conseguia me movimentar direito. Fui diagnostic­ada com broncopneu­monia.”

“Quando aumentou a fumaça na cidade, registramo­s um aumento no fluxo de pessoas; cerca de 40% são pacientes que estão com problemas respiratór­ios”, diz a enfermeira e coordenado­ra da Rede de Urgência e Emergência da Secretaria Municipal de Saúde de Corumbá, Patrícia Daga Moreira Garcia. Os serviço estaduais também registram aumento.

O médico Lauther da Silva Serra, que atende na rede de urgência, alerta sobre os cuidados. “É fundamenta­l se manter hidratado, tomar bastante água, lavar o nariz com soro fisiológic­o e umidificar os ambientes.”

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FOTOS GOVERNO DO MS 1. 1. Fogo atinge a Serra da Bodoquena
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2. 2. Até agora, 1 milhão de hectares já queimaram
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3. 3. Animais não conseguem escapar

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