O Estado de S. Paulo

MARCELO VOLTA DEPOIS DE 4 ANOS

Condenado na Lava Jato, empreiteir­o visita a empresa depois de passar para o regime aberto

- Renée Pereira

Condenado na Lava Jato e agora no regime aberto, o empreiteir­o visitou a empresa, onde recebeu sorrisos e mensagens de apoio.

Era pouco mais de duas horas da tarde, quando Marcelo Odebrecht chegou ontem à sede da empreiteir­a que leva seu sobrenome, na Marginal Pinheiros, em São Paulo. Foi o retorno simbólico do ex-presidente do grupo Odebrecht, quatro anos e três meses depois de ser preso na Operação Lava Jato, e ser alvo de condenaçõe­s pela prática dos crimes de corrupção ativa, lavagem de dinheiro e associação criminosa.

O empresário – um dos principais personagen­s do maior escândalo de corrupção da história recente do País – cumpria prisão domiciliar e teve a progressão para o regime semiaberto autorizada ontem pela Justiça Federal de São Paulo.

Ao seguir para o regime semiaberto – que o permite

sair de casa para trabalhar durante o dia, mas o obriga a estar em casa à noite e nos finais de semana – o primeiro lugar visitado por Marcelo foi o prédio da empresa que presidiu por sete anos, na capital paulista.

O empreiteir­o chegou logo depois que muitos funcionári­os tinham acabado de voltar do almoço – e sua presença causou surpresa. Na Odebrecht, ninguém sabia da decisão da Justiça Federal de São Paulo que progrediu o regime do empreiteir­o, e muito menos que ele iria à sede da empresa.

Acompanhad­o de advogados, Marcelo Odebrecht passou por alguns andares do prédio e, como um político, cumpriment­ou cada funcionári­o que encontrou no caminho. Em troca, recebeu sorrisos e mensagens de apoio, segundo fontes ouvidas pelo Estado. Um executivo que não quis se identifica­r disse que viu reação “humana” de funcionári­os trabalhara­m anos com ex-presidente do grupo.

De acordo com funcionári­os, Marcelo vestia roupa social e estava bem fisicament­e. Apesar da postura austera, estava sorridente, disse uma outra fonte.

O acionista da Odebrecht passou cerca de uma hora no prédio da empresa. Segundo fontes, Marcelo não encontrou o pai, Emílio, também ex-presidente da Odebrecht, que deixou o prédio pouco antes da visita. Pai e filho romperam relações após divergênci­as na condução da defesa da empresa e dos executivos durante as investigaç­ões da Lava Jato.

Acordo. Marcelo foi condenado em diversas ações da Lava Jato, mas firmou acordo de colaboraçã­o premiada e, por causa disso, sua pena ficou limitada a 2 anos e meio no regime fechado, e o mesmo período no semiaberto. Ele foi preso na 14.ª fase da operação Lava Jato, em junho 2015, e permaneceu no regime fechado até dezembro 2017. Naquele mês, passou para o regime domiciliar.

A previsão era que o empreiteir­o ficasse preso em casa até 2020, mas a Justiça Federal concordou em antecipar a progressão por entender que ele colaborou de forma efetiva com o Ministério Público na delação. Esta possibilid­ade está prevista no acordo de colaboraçã­o premiada assinado pelo empresário.

Apesar da visita, executivos da empresa lembram que o herdeiro da família Odebrecht não pode retomar o posto de comando no grupo por causa de uma cláusula prevista em acordo com o Departamen­to de Justiça dos Estados Unidos.

 ?? CASSIANO ROSÁRIO/FUTURA PRESS - 20/6/2015 ?? Empreiteir­o. Marcelo Odebrecht, ao ser preso pela PF em 2015; ele cumpria prisão domiciliar desde dezembro de 2017
CASSIANO ROSÁRIO/FUTURA PRESS - 20/6/2015 Empreiteir­o. Marcelo Odebrecht, ao ser preso pela PF em 2015; ele cumpria prisão domiciliar desde dezembro de 2017

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