O Estado de S. Paulo

Aras diz que frisou independên­cia do Ministério Público a Bolsonaro

Indicado à PGR afirma ter dito a presidente que Planalto não pode ‘mandar e desmandar’ no trabalho do MP

- Daniel Weterman /BRASÍLIA

Indicado para comandar a Procurador­ia-Geral da República (PGR), o subprocura­dor Augusto Aras afirmou ontem ter dito ao presidente Jair Bolsonaro que ele não pode “mandar, desmandar” nem mudar o que for feito pelo Ministério Público porque o ocupante do cargo tem garantias constituci­onais.

A afirmação foi feita durante visita de Aras ao gabinete do senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), que é contrário à sua indicação. “Tive o primeiro contato com o presidente através de um amigo de muitos anos e disse ao presidente exatamente isso: ‘Presidente, o senhor não pode errar (...) porque o Ministério Público, o procurador-geral da República, tem as garantias constituci­onais, que o senhor não vai poder mandar, desmandar (...). Tem a liberdade de expressão para acolher ou desacolher qualquer manifestaç­ão. O senhor não vai poder mudar o que for feito”, disse Aras ao senador. A conversa foi captado por cinegrafis­ta da TV Globo.

Antes de anunciar a escolha de Aras, Bolsonaro defendeu o alinhament­o do procurador-geral com algumas ideias. Em entrevista ao Estado, no mês passado, o presidente afirmou que não pretendia indicar para o cargo um “xiita” da questão ambiental nem das minorias.

Desde o início da semana, Aras está em busca de votos no Senado. Para ser efetivado no cargo, ele será sabatinado na Comissão de Constituiç­ão e Justiça e precisa do apoio de pelo menos 41 dos 81 senadores. A sabatina está marcada para o próximo dia 25. Ainda ontem, o subprocura­dor defendeu um Ministério Público “moderno”, em sintonia com as necessidad­es de um Brasil novo, “que exige não somente combate à corrupção, mas também o destravame­nto da economia”.

Alessandro Vieira disse que Aras demonstrou interesse em “domar a independên­cia” dos colegas que atuam na primeira instância. “Ele tem uma visão de que o MP tem um papel importante na indução de políticas econômicas. Eu entendo que não. O MP não é parceiro do governo. É, mais do que tudo, um fiscal das políticas desenvolvi­das”, afirmou o senador.

A indicação do subprocura­dor tem como relator o senador Eduardo Braga (MDB-AM), que é investigad­o na Lava Jato. Braga afirmou que seu parecer será favorável à indicação. “Minha percepção (em relação ao subprocura­dor) é no sentido de que teremos avanços”, disse ele. Questionad­o se não se sente constrangi­do em ser relator, quando pode depender de uma avaliação da Procurador­ia-Geral para ser ou não denunciado, Braga respondeu: “Não tenho pendência na Justiça. Sequer há uma acusação formal.”

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DIDA SAMPAIO / ESTADÃO - 10/9/2019 Visita. Simone Tebet recebeu Augusto Aras no Senado

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