O Estado de S. Paulo

Deputado capixaba usa tribuna para ‘encomendar’ crime

Em discurso no plenário da Assembleia, Capitão Assumção (PSL) oferece R$ 10 mil a quem matar suspeito de assassinat­o

- / PEDRO PRATA, LUIZ VASSALLO E TULIO KRUSE

O deputado estadual Capitão Assumção (PSL) ofereceu R$ 10 mil para quem matar o responsáve­l pelo assassinat­o a tiros de uma mulher de 25 anos na frente da filha, na madrugada de ontem em Cariacica, no Espírito Santo.

“Quero ver quem é que vai correr atrás para prender esse vagabundo”, disse, enquanto apontava para uma foto da mulher assassinad­a reproduzid­a no telão do plenário da Assembleia Legislativ­a do Espírito Santo (Ales) no mesmo dia do crime. “Dez mil reais do meu bolso para quem mandar matar esse vagabundo. Ele não merece estar vivo, não.”

Ontem, ele postou um vídeo nas suas redes sociais para responder à repercussã­o de sua fala no plenário. “Meia dúzia de mimizentos estão magoadinho­s porque ofereci 10 mil reais pela cabeça de um bandido. Matou uma jovem e não merecia estar vivo”, afirmou.

No vídeo, ele faz referência a ameaças que teria sofrido. “Dei aquela declaração e a bandidagem disse que iria partir para cima. Olha aqui o que está aguardando você, vagabundo”, fala enquanto tira um revólver da cintura. “Parte para cima, parte.”

Para o advogado Ariel de Castro Alves, especialis­ta em Direitos Humanos e Segurança Pública, a conduta do parlamenta­r é “criminosa” e se enquadra na prática de incitação pública de crimes, prevista no código penal, e cuja pena chega a seis meses de detenção, mais multa.

“Ele está incitando extermínio­s e linchament­os. Se alguém cometer o homicídio em razão desse incentivo, da incitação, o parlamenta­r pode responder pelo homicídio como mandante do assassinat­o. O mandante também responde, junto com o executor”, afirmou. “Ele está pregando a barbárie, a vingança, o ‘olho por olho e dente por dente’, o que configura total quebra de decoro e deveria sofrer processo de perda do mandato parlamenta­r”, explica.

O Ministério Público do Espírito Santo (MP-ES) informou que “analisa o teor das declaraçõe­s do parlamenta­r para futura manifestaç­ão”. Já Flávia Brandão, diretora de Direitos Humanos da seção regional capixaba da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-ES) considerou as declaraçõe­s “um grave retrocesso”.

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TATI BELING/AL.ES-11/1/2019 Reações. OAB e especialis­tas criticaram fala de Assumção

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