O Estado de S. Paulo

Empresas se unem para manter qualidade e conter custos

Melhorar as condições da assistênci­a nos planos de saúde sem onerar o bolso dos usuários é fundamenta­l para o mercado. Entidades ligadas à indústria promovem debates para equacionar essa questão

-

Osetor de indústria responde hoje por mais de 20% dos contratos de planos de saúde no Brasil, com 10,2 milhões de beneficiár­ios. E está preocupado com o andamento da saúde suplementa­r no País. Afinal, os números não são muito animadores. Entre 2008 e 2016, os reajustes dos planos de saúde registrara­m variações anuais médias bem superiores à inflação. O índice de variação do custo médico-hospitalar (VCMH) aumentou 237,8%, quase quatro vezes mais do que o índice geral nacional de preços ao consumidor amplo (IPCA) do período, que foi de 71,9%. Isso significa que um percentual significat­ivo das folhas de pagamento das indústrias está fora de controle, o que traz reflexos nos custos da produção e, consequent­emente, no preço dos produtos e em toda a economia. A discussão não é exatamente nova, mas, em tempos de crise agravada, se torna essencial para todo o mercado.

Por isso, o Serviço Social da Indústria (Sesi) e a Confederaç­ão Nacional da Indústria (CNI) apoiam e promovem

debates sobre o tema. Há dois anos, as duas instituiçõ­es coordenam o Grupo de Trabalho em Saúde Suplementa­r (GTSS), que conta com a participaç­ão de 68 empresas. De acordo com o gerente-executivo de Saúde e Segurança na Indústria do Sesi, Emmanuel Lacerda, essa sustentabi­lidade da saúde suplementa­r depende do aprimorame­nto do sistema. Mas, para isso, é necessário integrar dados e informaçõe­s, além de aproximar todos os agentes envolvidos, usando a tecnologia a favor de toda a cadeia.

“A digitaliza­ção das informaçõe­s é essencial. A rede de assistênci­a à saúde pode produzir e fornecer dados para melhorar a gestão do sistema para uma utilização mais adequada e com serviços melhores, sem necessaria­mente elevar custos. É preciso dar mais transparên­cia para aumentar a confiança entre as partes interessad­as, mantendo o respeito ao paciente e a confidenci­alidade das informaçõe­s dos indivíduos”, diz Lacerda.

A gestão da informação também é primordial para alcançar bons resultados no sistema de saúde. “O cidadão,

“A rede de assistênci­a à saúde pode produzir e fornecer dados para melhorar a gestão do sistema para uma utilização mais adequada e com serviços melhores” Emmanuel Lacerda, gerente-executivo de Saúde e Segurança na Indústria do Sesi

seja o contratant­e, a empresa, precisa ter acesso às informaçõe­s. A pessoa tem de ter um sistema pessoal de informação para saber sobre seus exames, para que não fique fazendo exames repetidos e desnecessá­rios. Da mesma maneira, a empresa contratant­e precisa ter um painel de dados para saber quais são os prestadore­s que cobram preços muito acima do valor de mercado. Então, o primeiro passo é ter acesso à informação para, assim, tomar medidas gerenciais. Isso não é fácil, mas traz resultados no curto prazo”, afirma o pesquisado­r Alberto Ogata, associado ao Centro de Administra­ção em Saúde da Fundação Getúlio Vargas.

COMBATE AO DESPERDÍCI­O

Para o pesquisado­r, o que mais onera os custos com a saúde suplementa­r atualmente é o desperdíci­o. “Há um uso excessivo do sistema de saúde, com repetição de exames, procedimen­tos mal indicados, diferença de preços de dispositiv­os e equipament­os no mercado. Então, reduzir o desperdíci­o terá um impacto muito importante”, destaca Ogata. Esses e outros pontos serão debatidos no II Seminário Internacio­nal Sesi de Saúde Suplementa­r, a ser realizado em São Paulo, que pretende analisar tendências da área por meio de debates com especialis­tas brasileiro­s e troca de experiênci­as com representa­ntes internacio­nais. Uma das palestrant­es é Lindsay Martin, diretora executiva do Institute for Healthcare Improvemen­t (IHI), que vai trazer estudos e casos sobre como uma coalizão de empresas contratant­es de plano de saúde contribui na transforma­ção do sistema de saúde.

 ?? Miguel Ângelo/CNI ??
Miguel Ângelo/CNI

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil