O Estado de S. Paulo

Falta de luz agrava crise de hospitais venezuelan­os

Escassez de energia afeta tratamento­s como diálise e respiração mecânica

-

Os recentes apagões que atingiram o sistema elétrico agravaram a crise do sistema de saúde venezuelan­o. Segundo pesquisa da Universida­de Central da Venezuela, apenas 26% dos hospitais do país têm serviço de água diariament­e. Em média, os centros médicos contam com 6 horas e 48 minutos de energia elétrica por dia.

De acordo com o estudo, os apagões e a escassez de água são “um problema crônico” na Venezuela. Em julho, 70,87% dos hospitais contavam com um serviço “intermiten­te” de água e apenas 26,21% manteve o fornecimen­to diário de abastecime­nto.

Nos últimos meses, a entrada de equipament­os básicos de saúde no país, liberada após um acordo entre governo e oposição e intermedia­do pela Cruz Vermelha, melhorou as condições de atendiment­o em prontos-socorros e centros cirúrgicos da Venezuela.

Apesar disso, o colapso do sistema de saúde é iminente. A ONG venezuelan­a Médicos Pela Saúde disse que não conseguiu saber o impacto da ajuda humanitári­a de Rússia e China, pois não há informação sobre sua distribuiç­ão. “Nenhuma ajuda humanitári­a substitui um sistema de saúde decente”, disse à agência Bloomberg o médico Julio Castro, autor do estudo.

De acordo com o relatório, a escassez de insumos para atendiment­o básico de saúde nos hospitais venezuelan­os ficou em 43,3%. A de instrument­os cirúrgicos foi de 34,1%, uma melhora em relação aos números do último levantamen­to, em novembro de 2018.

O estudo foi feito nos 40 maiores hospitais da Venezuela em 23 Estados e avaliou a escassez dos 20 principais itens de atendiment­o básico e os 11 de instrument­ação cirúrgica. Ainda de acordo com Castro, a situação é mais crítica em Estados do oeste da Venezuela, como Zulia e Trujillo, já que o governo concentra os recursos em Caracas.

“Nenhum hospital consegue prestar um bom serviço com os níveis de desabastec­imento atuais”, disse Castro. “A falta de luz e água não afeta apenas o funcioname­nto de elevadores e da limpeza, mas também são duas coisas fundamenta­is para pacientes que precisam de diálise e respiração mecânica.”

Denúncia. Em meio à crise humanitári­a, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, voltou a acusar ontem seu colega colombiano, Iván Duque, de tentar “assassiná-lo”. O líder chavista disse que apresentar­ia uma denúncia formal à ONU.

“Temos provas e vamos apresentá-las ao Conselho de Segurança (da ONU). Prova com vídeos, fotos, com todos os depoimento­s das testemunha­s, de como o governo da Colômbia está preparando terrorista­s para fazer ataques a alvos militares, civis, institucio­nais e para tentar assassinar o presidente Maduro”, afirmou o chavista em discurso.

As provas, no entanto, ainda não foram apresentad­as. A declaração foi feita na mesma semana em que a troca de acusação entre os dois países alcançou um nível crítico. Caracas ordenou um exercício militar próximo à fronteira colombiana e Bogotá reagiu entrando em alerta máximo.

• 43,3% Decadência é o índice de escassez de insumos básicos nos hospitais.

34,1% é a falta de instrument­os cirúrgicos, segundo estudo

“Nenhum hospital consegue prestar um bom serviço com os níveis de desabastec­imento atuais. A luz e a água são coisas fundamenta­is para pacientes que precisam de diálise e respiração mecânica” Julio Castro UNIVERSIDA­DE CENTRAL DA VENEZUELA

 ?? MARCO BELLO/REUTERS-10/3/2019 ?? Dificuldad­es. Médicos e pacientes protestam diante de hospital infantil em Caracas
MARCO BELLO/REUTERS-10/3/2019 Dificuldad­es. Médicos e pacientes protestam diante de hospital infantil em Caracas

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil