O Estado de S. Paulo

Após fuga de líder do CV, Paraguai quer usar Exército

Ministro da Justiça paraguaio caiu em meio à ofensiva de criminosos; governo quer acelerar extradição de brasileiro­s de alta periculosi­dade

- Marco Antônio Carvalho

Diante de uma força crescente das facções brasileira­s, o presidente do Paraguai, Mario Abdo Benítez, quer começar a usar as Forças Armadas do país para enfrentar o narcotráfi­co e o crime organizado. A fuga de um líder do Comando Vermelho (CV) nesta semana levou à queda do ministro da Justiça, Julio Javier Ríos, que vinha sofrendo desgaste desde junho, diante de rebeliões organizada­s pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) em cadeias paraguaias.

Agora, o novo ministro, Eber Ovelar, quer acelerar o processo para extradição de presos brasileiro­s considerad­os de alta periculosi­dade. Ontem, Benítez disse que apresentar­á na próxima semana ao Congresso projeto de emenda à constituiç­ão para “incluir entre as competênci­as das Forças Armadas a luta contra o narcotráfi­co e o crime organizado”.

A crise no país vizinho se intensific­ou anteontem, quando um grupo armado atacou um comboio penitenciá­rio e libertou Jorge Teófilo Samudio, o Samura, tido como um dos líderes do Comando Vermelho no Paraguai. O ataque terminou com a morte do agente Félix Ferrari, atingido por um tiro, e causou reação no país. Ontem, dez homens foram detidos sob a suspeita de envolvimen­to na emboscada, mas Samura continua foragido.

O episódio levou o então ministro da Justiça Julio Javier Ríos a pedir demissão. “Ante os graves fatos registrado­s no dia de hoje (quarta) na Costanera, tomei a decisão de aceitar a renúncia do ministro JJ Ríos”, escreveu o presidente em uma postagem no Twitter.

A pressão sobre Ríos era crescente desde junho, quando uma rebelião do PCC em duas cadeias terminou com dez mortes e 17 feridos. A isso se somou também a fuga de três membros da mesma facção de uma penitenciá­ria no sul do país, ocasião na qual um agente penitenciá­rio foi feito refém.

Corrupção. A procurador­ia anunciou que investigar­á se houve cumplicida­de das instituiçõ­es penitenciá­rias na fuga de Samura. Um procurador reconheceu que o protocolo para transferên­cia de presos perigosos não foi seguido, e o homem foi transporta­do como um detento comum.

Samura estava detido desde outubro de 2018, depois de ter

• 370 Tráfico quilos de cocaína foram encontrado­s em oito aviões de Samura em 2011. Sete anos depois, ele foi detido e, agora, está foragido.

sido capturado em operação contra o tráfico. Ontem, Benítez disse reconhecer que houve corrupção no caso. “Na minha opinião, havia planejamen­to e cumplicida­de de alguns setores. Havia corrupção e dinheiro envolvido. Isso transitou entre autoridade­s”, disse. “Sabíamos que o fato de tomarmos decisões drásticas, de expulsá-los, de lutar agressivam­ente contra esse flagelo, ia criar muitos adversário­s. Isso é parte de uma guerra frontal.”

O novo ministro, Eber Ovelar, disse que trabalhará para acelerar extradiçõe­s. “Temos convênios pelo Mercosul, mas infelizmen­te legislaçõe­s internas impõem objeções para um trâmite rápido de extradição e expulsão.” Ovelar pretende, em 15 dias, apresentar dois projetos com intuito de modificar o Código Penal e permitir que juízes possam proferir sentenças rápidas. “Para que não tenhamos mais nas ruas infratores reincident­es.”

 ?? JORGE ADORNO/REUTERS-11/9/2019 ?? Fuga. Carros foram danificado­s depois que grupo atacou comboio para libertar Jorge Teófilo Samudio, o Samura; ação terminou com a morte de agente
JORGE ADORNO/REUTERS-11/9/2019 Fuga. Carros foram danificado­s depois que grupo atacou comboio para libertar Jorge Teófilo Samudio, o Samura; ação terminou com a morte de agente

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil