O Estado de S. Paulo

Maia teme mudanças no teto de gastos

Presidente da Câmara apoia PEC de regras fiscais, mas teme que texto afrouxe mecanismo que limita avanço dos gastos à inflação

- Adriana Fernandes Idiana Tomazelli /

“Será que essas pessoas não entenderam que o Estado está falido?” Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos Deputados

O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse que é favorável à Proposta de Emenda Constituci­onal (PEC) do deputado Pedro Paulo (DEMRJ), que muda as regras fiscais, mas está preocupado com o risco de o texto abrir espaço para mudanças no teto de gastos, mecanismo que limita o cresciment­o dos gastos à inflação. “Vamos deixar o teto onde está”, disse.

O Estadão/Broadcast apurou que, para Maia, os chamados gatilhos, que antecipam as medidas de ajuste, são impopulare­s e, por isso, é preciso que o governo encampe a defesa das ações, que incluem congelamen­to do salário mínimo e de aposentado­rias e pensões.

O presidente da Câmara defendeu também o envio urgente pelo governo da reforma administra­tiva para reduzir as carreiras de Estado e acabar com a estabilida­de do servidor. “Ou nós temos coragem de enfrentar esses gastos ou não vamos a lugar nenhum”, afirmou. Os principais gatilhos que podem ser incluídos na PEC envolvem despesas com pessoal, como a permissão, por exemplo, de redução de jornada e salário – o que foi proibido em recente julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF).

Maia disse que os políticos precisam entender que o cresciment­o permanente das despesas está destruindo a política. Para ele, é preciso encarar essa mudança para que a política volte a ter “capacidade discricion­ária”. Isso significa aportar os recursos de investimen­tos para as áreas de interesse. “Ou vamos ficar enxugando gelo arrumando receitas extraordin­árias”, previu. Ele lembrou que as despesas para custeio da máquina e investimen­tos já estiveram no patamar de R$ 200 bilhões. Para 2020, as chamadas despesas discricion­árias – que reúnem gastos com itens como compra de materiais, diárias, energia elétrica, além de investimen­tos em infraestru­tura e bolsas de estudo – estão estimadas em R$ 89,161 bilhões.

Ele ressaltou que o Estado banca hoje, com o pagamento das despesas de Previdênci­a, pessoal e juros, 33% do Produto Interno Bruto (PIB), recursos que são tirados da sociedade todos os anos. Reforma. No governo, a proposta de reforma administra­tiva está avançada. Ela vai atacar o problema da progressiv­idade rápida das carreiras de Estado e reduzir os salários iniciais. Na maioria delas, o servidor chega ao topo em apenas cinco anos.

Maia tem sido um ferrenho

• Carreiras de Estado O presidente da Câmara, Rodrigo maia, defendeu o envio urgente pelo governo da reforma administra­tiva para reduzir as carreiras de Estado e acabar com a estabilida­de do servidor.

defensor da manutenção do teto de gastos, criado no governo do ex-presidente Michel Temer, e contrário a mexer na norma para poder, por exemplo, excluir os investimen­tos da regra. “O que adianta tirar a despesa de investimen­to e não controlar a despesa obrigatóri­a que está indexada em 80% de todo o Orçamento público?”, questionou. “Será que essas pessoas não entenderam que o Estado está falido?”.

O presidente da Câmara avaliou que o envio de uma proposta de Orçamento de 2020 bastante apertada será “bom” porque vai gerar estresse com os ministros, o que deve pressionar o Parlamento a encontrar soluções para aumentar a capacidade de investimen­tos.

Para o deputado Pedro Paulo, Maia tem uma preocupaçã­o política porque a pressão tem crescido no Congresso por um “fura-teto” que libere mais gastos no Orçamento. “Houve uma superestim­ação dos efeitos da reforma previdenci­ária, uma expectativ­a de que ela sozinha garantiria 10 anos de cresciment­o”, disse. “Essa proposta garante um ajuste de tamanho igual ou maior que a Previdênci­a, e de forma imediata.”

O deputado autor da PEC destacou que a reforma da Previdênci­a vai gerar um impacto de R$ 85 bilhões até o fim do mandato do presidente Jair Bolsonaro. Os gatilhos, por sua vez, segundo o parlamenta­r, têm poder para um ajuste maior que o dobro disso.

 ??  ??
 ?? DIDA SAMPAIO/ESTADÃO ??
DIDA SAMPAIO/ESTADÃO

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil