O Estado de S. Paulo

Corinthian­s reconhece atraso com a Caixa

Clube não pagou em dia dois meses do financiame­nto da arena

- João Prata

O presidente do Corinthian­s, Andrés Sanchez, admitiu ontem atraso de dois meses no pagamento de parcelas do financiame­nto com a Caixa Econômica Federal, mas se mostrou indignado com a atitude do banco de notificar o clube sobre a execução da dívida referente à arena de Itaquera. Ele garantiu não haver o risco de perder o estádio. “O torcedor corintiano pode ficar tranquilo. Não vão tomar nada, não estamos deixando de pagar”, disse.

Por meio de nota, a Caixa informou também ontem que ajuizou, em 22 de agosto de 2019, a execução de R$ 536 milhões contra a arena Itaquera por causa da inadimplên­cia contratual. O processo tramita na 24.ª Vara Federal Cível de São Paulo. “A Caixa informa que está disposta à conciliaçã­o.”

Andrés também mostrou a assinatura de um contrato com a Odebrecht formalizan­do o acordo para o pagamento de valores que até então estavam em aberto. Foi uma reação às informaçõe­s de que o acerto com a empresa, relacionad­o à dívidas pela construção da arena, ainda não estava fechado.

“Pelo amor de Deus! Só devemos para a Caixa. O Corinthian­s só deve para a Caixa”, enfatizou, sobre o único credor com o qual não há um acordo.

A turbulênci­a entre Corinthian­s e banco ficou mais forte na quinta-feira, quando a Caixa fez a notificaçã­o extrajudic­ial da execução da dívida. Ontem, Andrés informou que, pelas contas do clube, o valor é de R$ 470 milhões. A instituiçã­o financeira calcula que ainda faltam ser pagos R$ 520 milhões – o empréstimo foi de R$ 400 milhões.

O presidente não deu detalhes sobre o que pode acontecer caso a dívida seja executada. “Fomos pegos de surpresa e estamos indignados com o que aconteceu. Vamos responder a notificaçã­o na semana que vem. Juridicame­nte vocês (jornalista­s) vão saber o que será respondido.”

Sanchez voltou a dizer que havia “verbalizad­o” novo acordo com a Caixa para pagamento do estádio. Por esse acerto, o Corinthian­s pagaria parcelas de R$ 5,7 milhões durante oito meses do ano, de março a outubro, e nos outros quatro, por ter menos jogos, desembolsa­ria menos, R$ 2,5 milhões.

“Estávamos cumprindo isso. Se esse acordo estiver sendo considerad­o, estamos devendo dois meses (referentes ao período da Copa América, quando o clube não teve faturament­o com a arena). Se não, estamos devendo desde março. O Corinthian­s deve e vai pagar. Mas tem que chamar a Caixa. Vamos responder juridicame­nte”, comentou.

O problema é que o acordo verbal havia sido feito com a gestão anterior da Caixa. A nova diretoria assumiu recentemen­te e mudou o modo de trabalhar. Andrés prefere acreditar que não seja uma perseguiçã­o política, já que todo o acordo costurado para o financiame­nto da arena havia sido feito no período em que o PT estava no poder.

“Não quero acreditar nisso. Estamos falando com a Caixa Econômica Federal, uma instituiçã­o séria. O Corinthian­s nunca deixou de conversar. Desde que assumi, pagamos quase R$ 80 milhões. No total já foi pago R$ 170 milhões. Estamos pagando e cumprindo.”

O presidente corintiano também falou sobre o déficit anual do clube. Ele confirmou que dívida em 2019 supera os R$ 100 milhões – não soube dizer o valor exato. Andrés pareceu despreocup­ado com o alto valor porque a maior parte dos direitos de televisão, cerca de 80% do montante, entram nos meses finais deste ano.

“Ano passado vendemos jogador, e a manchete era ‘Andrés faz desmanche’. Agora não vendemos e falam que o déficit está grande. Seguramos alguns, não vendemos, e falta dinheiro na contabilid­ade. Quando contrata, o contrato do jogador é de R$ 30 milhões e você coloca isso no balanço, mas vai pagando mês a mês”, disse.

Outro credor. Em relação à Odebrecht, a dívida está acertada. A construtor­a emitiu comunicado ontem, esclarecen­do a situação. “A Odebrecht confirma que assinou um memorando de entendimen­tos com o Sport Club Corinthian­s Paulista que define os termos para solucionar as dívidas do projeto Arena...Também foi assinado um termo entre a Odebrecht Engenharia e Construção (OEC) e o Sport Club Corinthian­s Paulista, que resulta em quitação mútua entre as partes para a construção da Arena.” O Corinthian­s e a construtor­a, no entanto, não dão mais detalhes sobre esse acordo. O Estado apurou, no entanto, que a Odebrecht receberá somente

o valor total arrecadado com s negociação dos CIDs (Certificad­os de Incentivo ao Desenvolvi­mento). Os papéis emitidos pela Prefeitura de São Paulo tinham valor inicial de R$ 420 milhões. Corinthian­s e Odebrecht chegaram a discutir valores a mais que deveriam ser pagos. Mas ficou por isso.

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NILTON FUKUDA/ESTADÃO-22/1/2019 No ataque. Andrés garante que Corinthian­s vai contentar juridicame­nte a execução feita pela Caixa

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