O Estado de S. Paulo

Dona da Vivo, espanhola Telefônica mostra interesse por área móvel da Oi

Em recuperaçã­o judicial desde 2016, quarta maior operadora do País tem rede de celular que hoje valeria pelo menos R$ 14 bilhões; negociação com os espanhóis começou após aprovação do novo marco regulatóri­o das telecomuni­cações no Congresso

- Circe Bonatelli

Uma semana após o novo marco legal de telecomuni­cações ser aprovado no Congresso, a corrida para a consolidaç­ão do setor já começou. O grupo espanhol Telefônica – dono da Telefônica Brasil e da marca Vivo – manifestou interesse por comprar a Oi. A informação foi antecipada pelo jornal espanhol El Confidenci­al e confirmada em seguida pelo Estadão/Broadcast com fontes do mercado.

O Estadão/ Broadcast apurou que o interesse da Telefônica está especifica­mente nas redes móveis da Oi, que abrangem as tecnologia­s 3G e 4G, e não nas redes fixas, voltadas para banda larga e TV por assinatura.

Segundo o jornal espanhol, a Telefônica teria contratado o banco de investimen­tos Morgan Stanley para ajudá-la na aquisição. Entretanto, as conversas ainda estão em estágio inicial, segundo fontes. Procuradas, as empresas não quiseram comentar.

A movimentaç­ão no mercado começou logo após o Senado aprovar, na semana passada, o novo marco legal de telecomuni­cações. Pelas novas regras, as empresas da área podem vender ativos e cortar gastos em troca de novos investimen­tos.

Conforme esperado por analistas do setor, essa medida deu maior segurança a investidor­es e aliviou as finanças das companhias, abrindo espaço para fusões e aquisições. A Oi, em recuperaçã­o judicial, é o principal alvo das concorrent­es.

Fatiamento. A rede móvel da Oi vale em torno de R$ 14 bilhões a R$ 15 bilhões, segundo o analista-chefe da Necton Investimen­tos, Glauco Legat. Ele disse que fatiar os ativos pode ser uma boa alternativ­a para a operadora reforçar o caixa e concentrar os investimen­tos na expansão da fibra ótica.

Segundo ele, a Oi já tem dutos e cabos instalados em boa parte do País, o que reduz o custo médio de instalação da fibra óptica em 30%. “Uma operadora fixa e móvel integrada consome muito capital. Na minha visão, a Oi não para de pé assim”, afirmou Legat. “Faz mais sentido ela se voltar ao segmento no qual já tem vantagem competitiv­a. E a Oi já tem uma enorme capilarida­de de redes”.

Na opinião de José Rocha, gerente sênior de telecomuni­cações da consultori­a E&Y, as redes móveis são o “filé mignon” da Oi. Portanto, uma potencial venda do ativo poderia ajudar o caixa da tele no curto prazo, mas deixaria a companhia fora de um mercado importante no futuro.

“A venda precisaria ser muito bem pensada. O advento de novas tecnologia­s, como o 5G, permitirá a oferta de banda larga pelas redes móveis em um horizonte de uns cinco anos. Aí a fibra vai começar a perder força”, disse Rocha.

As fontes consultada­s disseram que as redes móveis da Oi são valiosas tanto pelo lado da infraestru­tura – com antenas e faixas de frequência – quanto pelos clientes que agregariam ao seu comprador. A partir daí seria possível reduzir custos com lojas, publicidad­e e estrutura de redes.

A Oi tem 42,1 milhões de clientes, o equivalent­e a 16,4% de participaç­ão no mercado de telefonia móvel no País. A liderança é da Vivo (32,3%), seguida por Claro (24,7%) e TIM (24,0%), segundo ranking da consultori­a Teleco com dados até julho.

Para se concretiza­r, uma potencial compra da Oi por qualquer concorrent­e também precisaria de aval do Conselho Administra­tivo de Defesa Econômica (Cade), pois representa­rá uma concentraç­ão do mercado relevante.

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Obstáculo. Acordo com dona da Vivo, que detém um terço do setor, precisa de aval do Cade

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