Aliado de Moro, Valeixo continua na direção da PF
Maurício Valeixo, cuja saída era dada como certa após declaração do presidente, foi informado de que, por ora, não será substituído
Ligado ao ministro Sérgio Moro (Justiça), o delegado Maurício Valeixo continuará na direção-geral da Polícia Federal, pelo menos por enquanto. Sua saída era dada como certa. Para evitar que a permanência de Valeixo seja interpretada como vitória de Moro sobre Jair Bolsonaro, a ordem na PF ou na Justiça é não tocar no tema. No mês passado, o presidente disse que poderia trocar a direção da PF.
O diretor-geral da Polícia Federal, delegado Maurício Valeixo, volta de férias hoje e continua no cargo, segundo apurou o Estado com fontes a par do assunto. O ministro da Justiça, Sérgio Moro, já teria dado a Valeixo a informação de que ele não será substituído pelo menos por enquanto. O assunto foi comentado pelo porta-voz da Presidência da República, Otávio Rêgo Barros, ontem. “O presidente me deixou claro o seguinte ponto: diretamente nunca fez nenhum tipo de restrição ao doutor Valeixo, reconhece o seu trabalho e reforça que decisões sobre a Polícia Federal são de responsabilidade do ministro Moro.”
A saída de Valeixo era dada como certa internamente na PF após o presidente Jair Bolsonaro ter declarado, no mês passado, que poderia trocar a direção
do órgão para demonstrar que é ele quem manda, e não Sérgio Moro. A nomeação do diretorgeral é do presidente da República, mas, tradicionalmente, o ministro da Justiça faz a indicação do nome para evitar interferência política. Os presidentes costumam ser mais suscetíveis aos pedidos da base aliada de cargos do que os ministros considerados técnicos como Moro.
Para evitar que a permanência de Valeixo no cargo seja interpretada como uma vitória de Moro sobre Bolsonaro, a ordem é ninguém comentar o assunto na PF ou na Justiça. Ficou combinado que o delegado reassumirá o cargo hoje como se nada tivesse acontecido e está avisado de que qualquer manifestação nesse sentido poderá colocar tudo a perder.
A ameaça de Bolsonaro de demitir Valeixo foi criticada por parte do seu eleitorado que viu nela uma forma de enfraquecimento do seu superministro. O Estado revelou que o grupo pró-Moro no Congresso chegou a aconselhar o ex-juiz da Lava Jato a usar sua força para impor a manutenção do diretor-geral da PF. A mais recente pesquisa Datafolha, divulgada em setembro, mostrou que Moro é o ministro mais popular e mais bem avaliado do governo, com patamar de apoio maior do que o do próprio presidente.
O ministro sempre negou os rumores de que teria ameaçado deixar o cargo levantados nas inúmeras crises que os dois tiveram. No auge da crise envolvendo a PF, Moro apareceu de braço dado com o presidente no desfile de Sete de Setembro e, no último domingo, esteve com Bolsonaro no hospital onde o presidente se recuperava de uma cirurgia_a quarta após a facada que tomou durante a eleição presidencial. No dia seguinte à visita, Bolsonaro concedeu uma entrevista à TV Record e não fez qualquer comentário sobre troca na PF. O silêncio sinalizou para a corporação o recuo.
Rio. A ameaça de Bolsonaro de intervir na PF ocorreu diante da recusa do diretor-geral de indicar para a superintendência do Rio o delegado Alexandre Saraiva, atual chefe da unidade do Amazonas, no lugar do delegado Ricardo Saadi.
Na ocasião, Bolsonaro afirmou que havia determinado a saída de Saadi por “questão de produtividade”. Na verdade, tinha tomado conhecimento de um suposto direcionamento pela PF do Rio de investigação para atingir o deputado Helio Lopes (PSL-RJ), seu aliado. Lopes também é próximo do vereador Carlos Bolsonaro (PSC), que costuma despachar do seu gabinete quando viaja para Brasília.
Moro determinou, na semana passada, que a corregedoria da PF apure a denúncia de direcionamento do inquérito. Paralelo a isso, Bolsonaro recebeu esclarecimentos de que o superintendente da PF não tem conhecimento de todos os inquéritos que tramitam na sua área de atuação – no caso do Rio, são cerca de três mil.