O Estado de S. Paulo

Sem carro por opção

Na Semana da Mobilidade, moradores de SP expõem razões para abrir mão do automóvel

- Léo Martins Sandy Oliveira ESPECIAIS PARA O ESTADO

Moradores da capital paulista relatam como é possível se deslocar sem automóvel, às vésperas do Dia Mundial sem Carro.

Por que você anda de carro? O que você melhoraria no transporte público e na estrutura para bicicletas em São Paulo? Essas são reflexões propostas pela Semana da Mobilidade, que começou na quarta. A mobilizaçã­o da Prefeitura é voltada para a convivênci­a saudável entre os tipos de transporte. Amanhã, ocorre ainda, em várias cidades do mundo, o Dia Mundial Sem Carro, um estímulo para refletir sobre a necessidad­e do automóvel.

Moradores de São Paulo, Ronaldo, Gabriela, Vanessa e Aline tiveram de repensar o uso do carro – e chegaram a uma decisão: abrir mão do automóvel. As alternativ­as encontrada­s foram ir de metrô, bicicleta e até de patinete. O resultado foi uma melhora na rotina, ainda que não sem sobressalt­os: a hora do pico no metrô é um incômodo e a cidade ainda deve mais ciclovias e segurança aos ciclistas.

A corretora de seguros Vanessa Bressane, de 39 anos, mora no Tatuapé, na zona leste de São Paulo, e pedala até o Brooklin, na zona sul, onde trabalha. Ao todo, percorre 40 quilômetro­s diariament­e. Faz seis anos que ela trocou o carro pela bicicleta. “Tentei e vi que deu certo. Foram passando os dias, comecei a usar cada vez mais bicicleta e cada vez menos carro. Então, resolvi vender o carro e guardar um dinheiro.”

A decisão teve um empurrãozi­nho da necessidad­e de estar em dia com a saúde. “Se você colocar na ponta do lápis, não é vantajoso ter um carro hoje em dia. Eu levava (até o trabalho) 1h40 de carro, agora eu levo 1h10 de bicicleta.” Contra o incômodo de chegar suada ao trabalho, adotou uma estratégia: paga uma academia, perto do trabalho, só para tomar banho.

A gestora de projetos Aline Cavalcante, de 33 anos, também optou pela bicicleta. Há dez anos largou o carro e transformo­u as pedaladas em hábito. O fato de morar relativame­nte perto do trabalho ajudou. Agora, ela pede mais vias para bicicletas e segurança. “Já deixei várias vezes de fazer alguns caminhos por medo de ser assaltada, por medo de violência.” Além da bike, Aline usa o transporte público como segunda opção.

Quem também se rendeu a outras opções foi Gabriela Vuolo, de 37 anos. Para ela, contou o estresse no trânsito. “Gastava 40 minutos para levar meu filho à escola, que fica a cinco quilômetro­s de casa, no Alto de Pinheiros (na zona oeste). Passava mais tempo com ele no carro do que em casa brincando. Isso que me deu o primeiro estalo”, conta ela, bacharel em Relações Internacio­nais. Gasolina, seguro, estacionam­ento, manutenção – além do estresse diário – entraram na conta para abandonar o automóvel. O custo mensal do carro chegava a R$ 1,3 mil.

“Mudei meu filho para uma escola em que eu levasse ele a pé ou de patinete, a um quilômetro de casa. Ele começou a ir para escola de patinete na hora do almoço e, depois, eu o pegava de bicicleta e voltávamos juntos”, afirma. “Claro que moramos em Alto de Pinheiros, bairro com calçada boa. Estamos falando de uma bolha. Isso não é viável para a maior parte das pessoas de São Paulo.”

Lembrança. O carro? Gabriela conseguiu vendê-lo. E, no dia de entregar o automóvel, deixou a chave e uma lembrança inusitada. “Deixei uma carta no porta-luvas para que ele (o comprador) se conscienti­zasse. Expliquei o porquê da minha opção e disse que cada pessoa numa bicicleta era um carro a menos no trânsito”, conta.

Morador do Mandaqui, na zona norte, o analista de sistemas Ronaldo Ribeiro, de 51 anos, classifica como “tortura” o mês em que teve de se deslocar de carro de casa até o trabalho na Avenida Paulista. “Muito trânsito, muito trânsito”, resume. Optou pelo ônibus e o Metrô, com a vantagem da agilidade e alguns prejuízos.

“Tem dia que deixo passar um ou dois trens para não ficar igual a uma lata de sardinha. A priori, não acabei ganhando, porque perdi o conforto. Mas já estou há um ano de condução. Não me vejo vindo de carro mais.”

NA WEB Enquete. Você poderia viver sem carro?

estadao.com.br/e/diasemcarr­o

“Tive de reformular o jeito de pensar as compras. Não podia fazer muitas compras de uma vez porque não tinha como levar para casa.” Gabriela Vuolo

TROCOU O CARRO PELA BICICLETA

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ALEX SILVA/ESTADAO Rotina. Vanessa Bressane percorre todos os dias 40 km de bicicleta da zona leste à sul e toma banho em academia
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