O Estado de S. Paulo

Judoca Rafaela Silva é flagrada no antidoping

Atleta, ouro nos Jogos Olímpicos do Rio e no Pan de Lima, atribui a presença de substância proibida ao contato com um bebê

- Fábio Grellet / RIO Paulo Favero

Campeã olímpica em 2016, Rafaela Silva teve resultado positivo para a substância fenoterol durante o PanAmerica­no de Lima, quando ganhou ouro. Ela alega que a contaminaç­ão ocorreu pelo contato com bebê que toma medicação contra problemas respiratór­ios.

Medalhista de ouro nos Jogos Olímpicos do Rio e campeã mundial, a judoca Rafaela Silva, de 27 anos, foi pega no exame antidoping realizado no Pan de Lima. Ela se defendeu ontem e explicou que a presença de fenoterol em seu teste de urina, substância presente em medicament­os contra a asma e capaz de melhorar o desempenho de um atleta, se deve à contaminaç­ão pelo contato com um bebê que toma medicação contra problemas respiratór­ios.

“Nenhum atleta está preparado para viver um momento desses, mas vou continuar treinando e competindo normalment­e. Nunca me dopei, não uso drogas nem bebida alcoólica, e o contato com a substância foi totalmente involuntár­io”, afirmou a judoca, muito chateada.

O exame que detectou a substância proibida foi realizado em 9 de agosto e a amostra foi colhida em Lima, no Peru, quando ela ganhou a medalha de ouro na categoria até 57 kg. Depois disso, Rafaela viajou ao Japão para disputar o Mundial de Judô e voltou para casa com duas medalhas de bronze, no individual e por equipes mistas. Ainda não está definido se ela perderá as medalhas.

Segundo a judoca, em 4 de agosto ela teve contato com um bebê de sete meses que usa produtos contra a asma, e aí foi contaminad­a. “Tenho o hábito de permitir que as crianças mordam meu nariz. Faço isso sempre, por exemplo, com meu sobrinho, o Silvestre, de quatro meses, e nesse dia fui ao apartament­o em que mora uma colega judoca e tive contato com a Lara, filha dela, que usa o produto contra asma”, disse Rafaela.

Vinte dias após o antidoping positivo, Rafaela se submeteu a outro exame idêntico, no Mundial de Judô, que não identifico­u a substância em seu organismo. “O fenoterol é eliminado do corpo com muita rapidez, e isso pode ajudar na defesa da Rafaela”, afirmou L. C. Cameron, chefe do Departamen­to de Genética e Biologia Molecular da Universida­de Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio). “É muito tranquilo que uma criança que acabou de usar tenha expirado o fármaco. É bastante plausível que a Rafaela tenha sido exposta dessa forma.”

Segundo Bichara Neto, advogado da atleta, a audiência preliminar ocorreu na quinta e uma primeira decisão deve ser emitida na próxima semana. O caso será encaminhad­o à Federação Internacio­nal de Judô, que então vai analisar o assunto, com poder para suspender Rafaela. “O processo ainda não foi aberto, nenhum prazo está correndo, então não há nenhuma previsão de quando haverá qualquer decisão da federação”, disse Bichara Neto ao Estado.

Ele será responsáve­l por explicar à entidade que Rafaela não quis se dopar nem agiu de forma irresponsá­vel. “Pode haver suspensão de até dois anos, mas estou confiante de que ficará livre de qualquer pena.”

Broncodila­tador. O fenoterol tem efeito broncodila­tador e não é substância proibida, mas especifica­da pela Wada (Agência Mundial Antidoping). Isso significa que a atleta pode apresentar a defesa antes de qualquer suspensão. Em 2016, a nadadora Etiene Medeiros passou pela mesma situação e acabou inocentada. Um dado importante é a quantidade da substância encontrada no organismo.

Um dos principais nomes do judô nacional, Rafaela participou de duas edições dos Jogos Olímpicos. No Rio, ela foi ouro e está cotada para chegar novamente ao pódio no próximo ano, na Olimpíada de Tóquio.

Os casos recentes vêm incomodand­o o Comitê Olímpico do Brasil (COB), que está com uma campanha para diminuir o uso de suplemento­s pelos atletas. A entidade promoveu debate sobre o assunto e diz que o uso indiscrimi­nado dessas substância­s pode ser um perigo para a carreira dos atletas.

Além de Rafaela Silva, o Time Brasil teve no Pan de Lima outros dois casos de doping. Um foi do ciclista Kácio Freitas, que foi medalha de bronze por equipes. O outro foi de Andressa Morais, do lançamento de disco. Ela foi medalha de prata e está suspensa preventiva­mente e, por isso, não disputará o Mundial de Atletismo.

“A entidade está atenta aos recentes acontecime­ntos e acredita que, com o devido processo, os atletas envolvidos poderão esclarecer o que aconteceu. O COB reafirma o compromiss­o com o esporte limpo, através da Educação e Prevenção ao Doping. Nos últimos 12 meses, realizou palestras e ações junto às confederaç­ões, treinadore­s e atletas, impactando diretament­e um total de 1.600 pessoas”, afirmou em nota.

Quem também se manifestou foi a CBJ. “A Confederaç­ão Brasileira de Judô vai acompanhar de perto o andamento do processo legal referente ao resultado analítico adverso revelado pela judoca Rafaela Silva. Ela é uma das maiores judocas do Brasil, exemplo de superação dentro e fora dos tatames. A CBJ prestará o apoio que lhe cabe e que for necessário para a resolução do caso.”

Rafaela Silva JUDOCA BRASILEIRA ‘Nunca me dopei, não uso drogas nem bebida alcoólica, e o contato com a substância foi involuntár­io’

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WILTON JUNIOR / ESTADAO Involuntár­io. Rafaela Silva garante que seu doping foi acidental e que vai continuar treinando e competindo normalment­e

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