O Estado de S. Paulo

Auditor é escolhido para chefiar a Receita

Auditor fiscal conhecido pelo bom trânsito com a classe política assume a chefia do órgão. Ele vai substituir Marcos Cintra

- BRASÍLIA / PATRIK CAMPOREZ, BRENO PIRES, ADRIANA FERNANDES E IDIANA TOMAZELLI

Eram 11 horas e 18 minutos de 13 de maio de 2015 quando auditor da Receita Federal, José Barroso Tostes Neto, foi interrompi­do por Davi Alcolumbre (DEMAP) enquanto fazia uma apresentaç­ão na comissão de Turismo no Senado: “Só para fazer um parêntese à palavra do nosso Barroso”, disse Alcolumbre, ao sugerir um almoço político no domingo seguinte. Indicado ontem para chefiar a Receita Federal, o auditor aposentado Tostes Neto é conhecido pelo bom trânsito com os políticos.

Nos anos de 2014 e 2015, a aproximaçã­o do auditor com a política subiu de patamar. Ele começou a frequentar os círculos do Ministério da Fazenda, na época comandado por Joaquim Levy. Ao mesmo tempo, já como secretário da Fazenda do Pará, na gestão do governador tucano Simão Jatene, e coordenado­r dos Secretário­s Estaduais de Fazenda do Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz), passou a ter contatos em Brasília com integrante­s do Congresso Nacional .

O histórico de Barroso inclui ações de combate a autoridade­s suspeitas de corrupção. Foi um dos responsáve­is por investigaç­ões na Superinten­dência do Desenvolvi­mento da Amazônia (Sudam). Atuou contra um empreendim­ento irregular no Maranhão, chamado Usimar, que era do interesse da então governador­a Roseana Sarney, filha de José Sarney.

A habilidade política, inclusive, é uma carta na manga do governo, que quer que o novo secretário use este atributo como aliado nas discussões da reforma tributária. A ideia é que ele trabalhe em conjunto com o secretário especial de Previdênci­a e Trabalho, Rogério Marinho, que já tem atuado como uma espécie de articulado­r político da reforma.

A expectativ­a é que, já nos próximos dias, Tostes, deva fazer mudanças na cúpula da Receita, mas o processo será implantado com cautela para evitar novos tumultos. Ele tem “as bênçãos” também do sindicato que representa os auditores. A desconfian­ça de que haja interferên­cia, porém, continua.

Uma mancha no currículo, no entanto, lhe foi aplicada pelo Ministério Público do Pará. Ele é alvo de uma ação de improbidad­e administra­tiva, relacionad­a à renúncia fiscal de ICMS por meio do Regime Tributário Diferencia­do (RTD), gerido pela Secretaria de Estado da Fazenda (Sefa), “em desacordo com os ditames constituci­onais e legais”.

O MP pediu em dezembro de 2017 o bloqueio de bens de Tostes e do então secretário da Fazenda do Pará, Nilo Noronha, no valor de R$ 690 milhões. A ação ainda não foi julgada. A última movimentaç­ão verificada é do mês de julho e aponta que a ação está conclusa para despacho.

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RODOLFO OLIVEIRA/AGÊNCIA PARÁ–28/3/2015 Mudanças. Expectativ­a é de que Tostes, que estava aposentado, mexa em alguns cargos

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