O Brasil na armadilha do 1%
Ogrande azarão da economia brasileira até 2022 pode ser a indústria, uma atraente aposta para quem se dispuser a um jogo muito arriscado. No quadro de previsões do mercado, o setor industrial se diferencia pela piora dos quatro prognósticos anuais a partir de 2019, segundo o Focus, o boletim semanal de expectativas baseado em pesquisa do Banco Central (BC). Para este ano, o último cálculo de produção industrial aponta um recuo de 0,47%. Uma semana antes o número já era negativo (-0,29%). As projeções para os três anos seguintes são todas positivas, mas em queda: de 2,75% para 2,48% em 2020, de 3% para 2,50% em 2021 e de 2,75% para 2,50% em 2022. Nos dois últimos casos, houve um recuo para as estimativas colhidas na pesquisa anterior. A expectativa de maior atividade setorial nos dois anos finais da série foi efêmera.
A fraqueza da indústria já tem comprometido o crescimento geral da economia. Em julho, o PIB foi 0,2% menor que no mês anterior, segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV). Houve recuo da produção industrial e da agropecuária e crescimento apenas dos serviços. A perda foi de 1,1% na indústria de transformação. A construção teve desempenho igual e no segmento de eletricidade a diminuição foi de 3,6%.
A reação do setor industrial observada no segundo trimestre parece ter-se esgotado em pouco tempo. No trimestre móvel terminado em julho, o PIB foi 0,5% maior que no período de fevereiro a abril. A comparação interanual mostrou resultados modestamente positivos. Em julho, a economia produziu 0,8% mais que um ano antes. No trimestre móvel, o balanço foi 1,3% superior ao de igual período de 2018. Em 12 meses, o PIB avançou 0,9% sobre o período anterior.
Esses dados aparecem no Monitor do PIB-FGV, um estudo mensal usado como antecipação das contas nacionais publicadas a cada trimestre pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Como prévia do PIB oficial, a estimativa da FGV tem sido mais aproximada que o Índice de Atividade Econômica do BC (IBC-Br). Na semana passada, a nova edição desse estudo apontou uma queda de 0,16% em julho e um aumento de atividade de 1,07% em 12 meses.
Com algumas diferenças, portanto, as estimativas do PIB continuam apontando taxas anuais de crescimento pouco acima ou pouco abaixo de 1% e sempre um pouco abaixo do desempenho registrado oficialmente pelo IBGE a partir do fim da recessão. Segundo as contas oficiais, o PIB cresceu 1,1% em 2017 e esse resultado foi repetido em 2018. Nos 12 meses terminados em junho deste ano a expansão acumulada ficou em 1%, com recuo de -0,1% na produção industrial. Ao apresentar o Monitor, o coordenador do estudo, Claudio Considera, chegou a falar de uma armadilha de baixo crescimento da economia, em torno de 1%.
Para 2019, esse “em torno” corresponde a um pouco mais que 1% somente para os mais otimistas. Atualmente, nem o governo chega a tanto. A última estimativa da Secretaria de Política Econômica do Ministério da Economia, anunciada no dia 10, cravou 0,85%, número pouco melhor que o anunciado em julho ( 0,81%). Para 2020 a projeção do mercado caiu de 2,07% para 2% em uma semana. A taxa indicada para 2021 e 2022, 2,50% ao ano, corresponde ao potencial de crescimento em geral estimado para a economia brasileira.
Expansão mais acelerada só será possível, de forma sustentável, com investimento produtivo maior e mais eficiente que o observado há mais de uma década. Não bastará, no entanto, um esforço maior do setor empresarial na compra de máquinas e equipamentos e na ampliação de instalações. Será necessário um investimento muito maior em infraestrutura, e isso dependerá da mobilização de capital privado por meio de concessões e, em alguns casos, de privatizações.
Por alguns anos o governo mal terá dinheiro para as despesas obrigatórias, mesmo com a reforma da Previdência. Mas terá de mostrar eficiência na atração de recursos e na formação de parcerias. Também isso requer competência.